Montmorillon - Bellac

A vida num parque de campismo é curiosa. Pessoas que nunca se viram antes, são como "forçadas" a uma simpatia "forçada", que alguém começou mas ninguém consegue acabar. Quantas vezes temos que dizer "bon jour", "hello" e futilidades do género? Se vimos a pessoa pela primeira vez de manhã, tudo bem. Mas se nos cruzamos com ela (porque temos a tenda junto às casas de banho) várias vezes pela manhã, qual é o limite cortês, a partir do qual podemos deixar de dizer "bon jour"? Uma pequena comunidade de caravanistas que se forma  durante um breve espaço de tempo. Uns ficam mais tempo. Outros apenas uma noite. Uns de atrelado, outros com a caravana a puxar o carro desportivo. Nunca se viram e provavelmente nunca mais se vão ver. Mas todos agem de acordo com as boas regras de uma saudável vizinhança, mesmo que algum ridículo acabe por se formar.

Nós observamos. Eles metem conversa connosco e nós respondemos na mesma medida. Mas tudo soa a uma enorme falsidade. Depois de três noites aqui, acho que já estou a ficar farto de tanta pacatez de ovelhas. Tenho saudades do campismo selvagem e de pedalar sem saber onde vou dormir e se vou ter condições para me lavar ou comer ou descansar... descansado! Sinto falta da incerteza, que um parque de campismo não me pode dar.

Pedimos um mapa a um dos caravanistas e fomos tirar fotocópias. Estamos safos dos dias de longas estradas movimentadas para o resto de França. Até ver, claro...


Quando saímos, eram quase duas da tarde. Fomos até ao local onde três dias antes parámos antes de regressar para trás. Almoçámos qualquer coisa e pedalamos mais uns quilómetros por uma estrada secundária. As colinas começam a ser mais frequentes, e hoje, no topo de uma delas, consegui ver no horizonte, os primeiros relevos. A primeira serra. Um pouco menos de planura. As coisas vão ficar interessantes nos próximos dias.

Com o entardecer já avançado, atravessámos a cidade e vimos umas placas de estacionamento de caravanas. Seguimo-las e fomos dar a um parque junto a um rio, com umas mesas para ali espalhadas e umas quantas caravanas. Deve ter sido a segurança que a visão das caravanas nos proporcionaram, que nos levou a escolher aquele sítio para pernoitar. Nos arredores da cidade, com os nativos a passearem os seus cãozinhos e um carro a atravessar a estrada de 5 em 5 minutos. Onde é que tínhamos a cabeça, quando começamos a preparar o jantar, descansados da vida por já termos encontrado um poiso?


Debatemos o assunto, e arriscámos montar nas biclas e procurar outro sitio, do que ter uma noite ansiosa devido a qualquer barulhinho de passos ou carros. Claro que, quando voltámos ao pedal, já era de noite e após uns minutos, já fora da cidade, não conseguíamos ver nada à nossa frente, quanto mais visualizar potencias locais de campismo selvagem!

A pedalar de noite, à procura de sítio onde dormir, nos meio de florestas e colinas. Finalmente regressámos à incerteza do pedal!

Um caminho de terra batida desviava-se da estrada principal. Subimo-lo um pouco, e na curva deste, junto a uma sebe, montámos a casa amarela.

Lá em baixo, o som do rio que criou estas colinas, embala-nos...


...há um ano atrás: Quirima

1 comentário:

Nuno Vieira disse...

É um problema recorrente nos escritórios. Onde eu trabalho não é excepção(infelizmente). Quando é que é socialmente correcto deixar de dizer bom dia às mesmas pessoas vezes e vezes sem conta? De manha dizemos bom dia, e depois, de cada vez que se encontra alguém na copa, nos corredores, nas salas, ou onde quer que seja, é "bom dia" ou "tudo bem?" ou "mas que tempo" ou "esta crise..." ou um piscar de olho acompanhado pelo nome da pessoa dito de forma "muita cool", como por por exemplo: "Ricardãooo" dando tiros com os dedos indicadores como se fossem pistolas. Trabalhamos todos num escritório anónimo,num 18º andar em Lisboa, fazemos balancetes e contabilidade analítica mas, somos todos "muita" doidos...