Harwich – Braintree

Ora bem!
Antes das sete chega um carro, e a cada cinco minutos mais outro. O empregado, o dono do campo de golfe, os golfistas (todos mais de sessenta, tudo vestido a rigor)  e nós ali no meio, meio encavacados a tentar despachar as coisas. O dono do campo veio de lá com ar sério, e começou a perguntar se tínhamos dormido ali, a que horas tínhamos chegado, se sabíamos que aquilo era propriedade privada, se podíamos apressar o passo, porque dava um bocado má impressão nós de tenda e os golfistas a chegar! Mas sorriu no fim, quando pedimos desculpas e desejou-nos boas férias. "Enjoy your hollidays!"

E lá vai Nomadiclas a subir as primeiras colinas. Depois de meses na planura holandesa e alemã, um pequenina inclinação parecia um Pirenéu! Mas sem stress fomos avançando ao nosso ritmo! Xixi, fotos, descansar, comer...
Lá mais para a frente, já andava eu a controlar-me à vista de amoras silvestres bem reluzentes ao olho, quando vemos uma ciclista de alforges à frente e atrás em plena apanha da amora, numa curva. Dissemos olá e seguimos.
Quando parámos para o snack da matina, debaixo de uma árvore, ela apanhou-nos e antes que escapasse fomos falar com ela.
Também se chama Hanna, e é inglesa. Era o último dia da sua viagem de férias Inglaterra-Grécia-Inglaterra. Quatro meses sozinha pela Europa, e apanhava amoras para quando chegasse fazer uma tarte. Trocámos os contactos. Nunca se sabe.


As estradas nacionais são enormes, largas! Mas cedo nos apercebemos que proibidas a nós, pedaleiros! Têm uma imensidão de tráfego, não têm bermas e as nossas amigas ciclovias desapareceram do mapa. Há algumas, não podemos dizer que não haja, mas voltamos aquela história de terem meio quilómetro (o normal é menos) de ciclovia a acabar em lado, nenhum, a termos de andar a saltar lancis, ou a atravessar a estrada a cada cruzamento. às vezes dá ideia que é só para mostrar que têm! É pouco chato!
Os carros andam rápido por aqui, não temos bermas e andamos no lado esquerdo. Damos por nós a sentir que a qualquer momento um carro vai aparecer de frente para nós e chocar ou fazer uma travagem brusca!
Começamos a ver coisas que associamos de imediato a Inglaterra, como pubs em todo o lado, publicidade a fish and chips a onze libras, autocarros de dois andares, nomes de bares e tabuletas com a lebre e o beagle, o faisão, o passáro de caça e o cão!
Se tentamos sair das nacionais embrenhamo-nos nas secundárias do tempo do Afonso Henriques, é num instante enquanto a moral vai abaixo, porque não sabemos por onde seguir. O normal quando entramos num novo país! Andar às aranhas, dizer mal, e depois perceber o esquema e dizer que afinal não era como tínhamos pensado!


Lá mais para o fim da tarde todos enlaçados nos nós das estradas decidimos acampar. Colinas após colinas, curvas e contra curvas, mas nenhum sítio parecia bom. Quando entramos para uma secundária, vemos que vai dar a uma casa, e terrenos de perder de vista. Andamos mais um pouco e parecia tranquilo. Ao fundo um tractor, que pensámos ser o dono, que nos fez pensar que se ele nos visse, mais cedo ou mais tarde viria falar connosco e estava tudo resolvido. Não! Nada disso.
Tínhamos acabado de pôr os sacos cama dentro da tenda e vem de lá uma pickup, sai de lá de dentro o dono, com um ar marafado. Nem sequer conseguimos completar uma frase. Articulámos algumas palavras e ele disse: NÃO! Não podem ficar aqui. Propriedade privada, de novo à baila e sai tão rápido como chegou.

E nós, atordoados com o primeiro não da viagem, lá arrumámos tudo, desmontámos a tenda, preparámos as bicicletas e .... dez minutos depois, com a mesma rapidez e determinação lá está a pickup. Disparou: "Podem ficar aqui, mas amanhã antes das sete têm que se ir embora e deixar tudo limpo!" Mais uma vez, nem conseguimos falar, ele não deixava. Cortava os obrigados, e as explicações de viagem, mas acho que lhe vi um canto da boca a curvar-se para cima, muito rápido, claro!
Tentámos cozinhar, com o nosso fogão alternativo, que funciona a lenha! Mas a lenha estava toda húmida e só conseguimos mascarar o tacho todo, fazer muito fumo e ficar com tudo a cheirar a cigano!

Um pouco mais difícil que o esperado!


...há um ano atrás: Tomar, Bairrada e arredores

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