Cagliari - Cagliari

A mãe Maria deixou tudo preparado para o nosso pequeno-almoço e partiu para mais um dia de trabalho.
A Cristina quis ajudar-nos e levou-nos de volta às bilheteiras para comprar os bilhetes e esclarecer com a senhora o porquê de termos de ir separados e sermos obrigados a comprar bilhete com cama. Chamem-nos forretas, mas este bilhete estava a ultrapassar em muito os nossos planos financeiros. E para melhorar aquela notícia, teríamos de fazer a viagem de 10 horas separados. Nós, que já planeávamos pôr a videoteca em dia.
Devido a um tiro certeiro da sorte, calhou-nos a mesma senhora aperaltada do dia anterior. Reconheceu-nos. A Cristina iniciou as negociações e a senhora dos bilhetes, respondia, mas no fim dizia sempre: "Eu já lhes tido dito isto ontem!" com aquela expressão de aborrecimentos. Comprámos os bilhetes, resignados com o preço e já pensando em estratégias para, depois de estarmos no barco, darmos a volta à situação das camas em camarotes separados por género.
Regressámos a casa da Cristina, comemos um segundo pequeno almoço de crepes doces. E enquanto ela praticava flauta, para deleite dos nossos sentidos, nós íamos fazendo as nossas limpezas e arrumações evitando fazer barulho. Uma delícia para manter o espírito aconchegado.
Depois de mais uma pasta fabulosa, agarrámos nas nossas coisas todas, nas bicicletas e saímos todos. A Cristina e o namorado Luca, il Dio dell'autobus, saíram para os ensaios e nós para viajar até à parte histórica da cidade, para passar a noite com a Francesca.
Estava uma ventania gelada , mas mesmo assim, quisemos passear pela marina e espreitar os barcos. Quando estávamos a dirigir-nos para a passadeira para atravessar, uma rapariga começa a acenar à saída do barco e começou a dirigir-se a nós. Esperámos para ver. Tratava-se da Julia, uma couchsurfer que tínhamos contacto para ficar ali em Cagliari e que vivia num barco. Reconheceu-nos e muito simpática fez-nos logo o convite para ficarmos com ela e o marido no barco. Em menos de 10 minutos, falámos de muita coisa, mas o que nos deixou mais curiosos, além do factor barco, foi o facto de tanto ela como o marido estarem a preparar-se para o 2012. Aprendendo algumas competências de sobrevivência, um pouco de  tudo, desde montar uma bicicleta com madeira, pescar, velejar. Como ela disse: "Let's prepare for the worst, and hope for the best". Despedimo-nos, esperando ter oportunidade de durante a nossa estadia por Cagliari ter tempo para encaixar um café, chá, almoço com esta dupla enigmática. Quero só acrescentar, que além de tudo isto, que já é suficiente, ela é russa, foi modelo de capa de revistas, e fala umas 10 línguas diferentes, incluindo português! Nada mais a acrescentar.
A casa da Francesca foi fácil de encontrar, e depois do Luca nos ter oferecido, um cabaz de Natal, quase, decidimos partilhar os nosso recentes oferecidos biscoitos sardos com a nossa anfitriã.
A casa dela parece saída de um catalogo do IKEA. Mas não tem uma única caneca que seja desta loja. O seu amigo arquitecto fez-lhe o favor de decorar a casa e aproveitar todos os cantinhos e lugarejos. Ficámos encantados com o espaço e com tamanha funcionalidade espacial.
Bebemos um chá das 5 enquanto partilhávamos experiências festivaleiras. O seu trabalho como organizadora de eventos relacionados com arte, dá-lhe a oportunidade de viajar, conhecer artistas fantásticos e assistir às mais diversas expressões artísticas.
Para o jantar, tivemos a companhia de dois dos seus amigos. Mais gente sarda com quem sentimos empatia imediata.
O jantar pasta foi. Pasta à carbanora (versão bacon, ovos e queijo)! A sobremesa trouxe a amiga, uma espécie de fritos, muito parecidos em sabor com as farturas, mas sem a canela.
O serão foi divertido. Passado a bebericar licores e vinhos enquanto conversávamos, aquecidos pela salamandra. Alguns dormitavam pelo sofá.

Sanluri - Cagliari

Hoje ninguém foi à escola! Ficámos comovidos com o Franscesco ter pensado em faltar e passar algum tempo connosco, já que dos 3, foi o que passou menos tempo connosco, infelizmente. No meio das correrias matinais de subir e descer com as malas conseguimos deixar-lhe o apetite aguçado com os nossos jogos de tabuleiro favoritos, sabendo que também ele já despertara para o mundo das criaturas míticas. Daqui a mais um par de anos esperamos estar a jogar com ele, um destes jogos.
O Daniele foi o primeiro a sair. Acordámos para lhe dizer adeus e agradecer, às 6h40, e depois voltámos para os sacos cama por mais um bocadinho. As outras despedidas demoraram. Sabíamos que Calgiari estaria a 40km, e por isso não estávamos preocupados com tempo.
Gostámos mesmo muito desta família e de Sanluri.
O caminho até Cagliari foi sempre a direito, sempre plano.
A primeira coisa que fizemos assim que chegámos à cidade, foi ir às bilheteiras da Terrenia, confirmar os preços dos bilhetes e comprá-los. O preço na Internet assustou-nos um bocadinho e cansados de especulações, fomos desfazer as dúvidas. Tivemos que esperar algum tempo pela abertura da bilheteira e, enquanto isso, fomos expectadores de um grupo de 3 amigos. Um deles estava tão bêbado que não se tinha de pé, sempre a procurar apoio nos amigo, ou nos postes, carros. Os carabinieres chegaram pouco depois e encarregaram-se da situação.
A senhora dos bilhetes estava muito aperaltada! Unhas de gel, com um linha dourada, anéis, pulseiras, brincos e colar, tudo em ouro, grande vistoso, o cabelo arranjado, e muita base, que lhe dava uma aparência bronzeado falso, os olhos e os lábios com contorno. Não deixo de me perguntar como será a cara dela por baixo de tudo aquilo. Os preços da Internet estavam correctos, mas porque nos dizia que tínhamos de viajar separados as 10 horas de viagem , decidimos não os comprar e pedir ajuda à Cristina.
Subimos com as bicicletas até ao 4º andar da rua Pasteur e encontrámos o Micipotti, e o Luca, na sala com a Cristina para nos receberem.
Uma misturada de inglês e italiano e lá para o final da noite já estava toda a gente a entender-se às mil maravilhas.
Escusado será dizer que comemos pasta, como primeiro prato e estava deliciosa. Uma pessoa não se cansa.
O serão foi passado na cozinha, depois de um jantar tardio, a conversar e a contar histórias.

Sanluri

Acordámos sem despertador! Que bom.
As crianças já tinham ido para a escola com o pai que as tinha ido levar às 3.
Tomámos um pequeno-almoço tardio, típico de Itália: café, chá ou leite com biscoitos e tostas com marmelatta.
Saímos os 4 para dar uma passeata por Sanluri. A arte local está por todo o lado. Várias paredes tem um misto de pintura com baixos-relevos, se assim lhes podemos chamar, de um artista sarda. Que além desta pinturas, faz umas placas em argila, para identificar diversos locais. As legendas são em sardo e a Mari vai sempre tentando traduzi-los para nós.
A cidade é uma mistura de antigo com moderno. As casas mais antigas construídas com pedras e com paredes muito espessas. Normalmente, depois de passar o portão da entrada, há um enorme pátio e só depois a casa. As casas mais recentes, que são prédios direitos quadradões, não tem mais nada que se lhes possa acrescentar.
Subimos ao topo da cidade, perto do convento onde pudemos ver a cidade de cima. No meio de uma rua uma escultura ilustrava a revolta sangrenta dos locais contra os impostos elevados.
Toda a gente, prefere a comida local. Pelas ruas há pequenos vendedores com caixas cheias de alcachofras e funcho, rabanetes e mais hortaliças que não sabemos o nome. As alcachofras aqui são as únicas que tem picos na ponta das folhas. Toda a gente tem muito orgulho nos produtos típicos e fazem questão de os cozinhar e dizer-nos que são locais e frescos. E nós, agradecemos e comemos!
Antes de voltar para casa, passámos pela padaria e além do pão, a tentação dos doces foi maior e compraram um tabuleiro cheios de doces típicos, sempre com o cuidado de verificar se levam leite ou derivados. Aqui toda a gente faz questão de encontrar coisas que a Ana possa comer. Mesmo no meio de um piazza com um poço iniciámos a gulodice dos doces como se um piquenique se tratasse.
Os miúdos voltaram da escola às 13h30m. O almoço já estava preparado e à sua espera. Um salmão com limão, invenção da Mari, beringelas assadas e as famosas batatas esmigalhadas.
Às 16h30 o Daniele e a Ana foram buscar o Simone ao jardim de infância. Ao fim da tarde estávamos todos reunidos.
Ajudámos a fazer o jantar, uma mistura de canja de galinha com brodo (caldo em italiano) de frango. A Elisa jantou mais cedo porque tinha coro.
Viu-se televisão, descansámos, brincámos, ajudámos a Elisa a fazer contas e a novas pulseiras e com o Simone lemos livros e brincámos com torres de de percursos para berlindes. O Daniele, o Simone e o Alexandre ajudaram a desfazer a árvore de Natal, que nos fez lembrar de quando éramos crianças e o pai embrulhava cada coisa meticulosamente em papel de jornal antes de guardar numa caixa.
Os restantes comemos, a seguir à Elisa, uma aconchegante sopa quentinha, com uns palitos de pão com prosciutto (presunto). Tudo é bom de se comer nesta casa.
Voltámos ao quarto, um bocadinho ensonados e hoje não participámos na deliciosa tradição familiar de bolinhos e leite antes de ir dormir.

Tramatza - Sanluri

As casas aqui são pintadas sempre de duas cores. Podem-se fazer as combinações que se quiser. Um dos lado é laranja e o restante é amarelo, ou duas paredes são verdes claras e as outras duas são verde escuro. Às vezes só o interior das varandas é de uma cor e o resto da casa é de outra, à volta das janelas tem uma cor e nos pormenores das varandas, também à volta das portas. Amarelo e laranja, rosa e branco, Azul claro e azul escuro, rosa e branco, amrelo torrado e amarelo claro... 2 tonalidades de uma cor, muitas cores, mas sempre tudo em tons pastel.
Saímos todos apressados de casa. Apenas o pai do Federico ficou por casa.
Começámos a pedalar por volta das 8h30m. Contentes porque era cedo e porque sabíamos que teríamos alguém à nossa espera depois dos 70km. Uma família com 3 filhos.
Numa paragem para abastecer no LD, as voltas e reviravoltas na barrigas da Ana começaram. Obrigaram-nos a parar várias vezes para evacuações de emergência e, nestas alturas, cantamos o Evacuation dos Pearl Jam.
O caminho foi sempre a dritto, e tutto piano.
Por volta das 16h30 chegámos a Sanluri, à piazza combinada. Os locais rondam-nos, aproximam-se das bicicletas, olham e desviam o olhar e os mais jovens soltam risadinhas.
O Daniele veio buscar-nos na sua bicicleta e seguimo-lo nos poucos metros até sua casa. Um portão enorme de madeira que desliza e lá dentro um pátio de cimento com várias árvores de fruto, entre elas, claro limoeiros e laranjeiras. Deixámos as bicicletas debaixo de um telheiro em cima de um poço, que por agora está tapado. Entrámos. A casa além de grande é lindíssima. Toda a parede da entrada está cheia de portas envidraçadas e em arco. Antigamente, este tipo de espaço usava-se mas aberto, tipo alpendre. As cores são vermelho grená e amarelo claro, e nos arcos interiores pedras a ornamentar.
O nosso quarto era no primeiro andar e tivemos a casa de banho só para nós, já que os meninos passaram, durante a nossa estadia, a usar a debaixo.
O Francesco é o mais velho de 11 anos. Um pouco mais reservado, mas quando fala, deixa-nos a todos encantados com a calma e serenidade com que transmite os seus pensamentos. As marcas do tempo passado na América fazem-se notar, tanto no Francesco, como na Elisa, e em especial no pai Daniele. O Daniele adora a América, e  depois de ter estado num país onde as coisas funcionam, sente-se um pouco frustado porque em Sardenha/Itália nada funciona como devia. Desde as escolas, à política, passando pela parte social das pequenas vilas como Sanluri. Mas nada se compara à comida italiana. E nada como uma mãe sarda para fazer jus a esta maravilha gastronómica. A mãe Mari (diminutivo de Marinella) super atenciosa e serena encheu-nos de mimos comestíveis e outros mais que se lembrava. Com ela aproveitámos para falar num italiano muito rudimentar, mas com calma todos se entendiam. Sendo sarda, também ela sabia falar um pouco desta língua e pudemos encontrar semelhanças com algumas palavras portuguesas. Com muita paciência ainda nos ajudou a aprender novas palavras em italiano e a conjugar uns quantos verbos mais utilizados.
O Simone, o mais novo, com 4 anos, depois de muita vergonhite inicial, acabou por nos deliciar com a sua energia. Pequenas brincadeiras e livros uns a seguir aos outros, no nosso colo ou entre corridas para abraços, derreteram-nos aos dois.
Finalmente, a Elisa. Muito atenta a tudo à sua volta. Sempre pronta para dar uma ajuda com o inglês e italiano de quem hesitava à procura de palavras. Com apenas 8 anos já participa sem saber na transmissão do sardo. Faz parte de um grupo coral, que se juntou para angariar fundos para uma associação de esclerose múltipla. Um amigo da família, o Bruno, que foi o fundador desta associação e que se encontra acamado há algum tempo vítima de esclerose lateral amiotrófica.
O habitual leite morno com biscoitos da família, aconchegou-nos antes de irmos todos para a cama.

Macomer - Tramatza

Pois é... as collants da Calzedonia são empacotadas aqui! Há sempre alguém a tocar à campainha a todas as horas do dia para entregar mais collants para eles confirmarem, fecharem as caixas e irem distribuí-las às lojas. A Tonina ainda quis oferecer umas à Ana, mas não é coisa que utilizemos nesta viagem.
Foi uma despedida emocionante. Deixámos para trás uns anfitriões que mais sentimos como família, e a mãe Tonina a enxugar as lágrimas.
Já tínhamos o caminho mais que planeado e revisto no dia anterior. O Cosimo tinha medo de uma subida. Sem stress, a inclinação era fraca e foram só 10km. Depois num ápice fizemos os 30km a descer e antes e almoço estávamos em casa do Frederico.
Só que ele não se chamava Frederico... Segundo as indicações que ele nos tinha dado, estávamos no lugar certo. Mas quisemos confirmar e  atravessámos a rua para perguntar aos vizinhos que estavam no café. Fomos alvos de todas as atenções assim que entrámos na praça. Por isso à medida que nos aproximámos as expressões de contentamento de ver satisfeitas a curiosidade encheram a cara dos signores sentados na esplanada do café. Numa questão de segundos, estavam 4 pessoas a discutir em italiano quem era o Frederico. Todos os Fredericos vieram à baila, iam-se virando para mim para ver se tinham acertado. Eu ia participando, dizendo que ele era estudante, que era português, que estava em Oriano, mais isto e aquilo. No final, atravessei a estrada numa linha recta e só parei quando toquei à campainha. Atrás de mim sabia que todos aguardavam para ver quem apareceria à porta.
Apareceu uma senhora, que os dois pensámos, de imediato, tratar-se da senhoria da casa. Convidou-nos a entrar.
Na parede um dos quadros dizia Federico Maio de 1992. Mas afinal quantos anos tinha ele? Depois de esperar uns curtos mas eternos minutos é que desfizemos todas as dúvidas quando a Victoria e o Féderico nos explicaram tudo. Ele não era português, mas tinha feito uma ano de Erasmus em Portugal e por isso falava português muitíssimo bem. Às vezes saíam-lhe uns "bués", uns "muita fixe" e uns inúmeros " tás a ver". Houve uma vez que até disse "...., pá!"
Morava com os pais, novamente, depois de ter estado fora muito tempo. A começar em Janeiro, vai ter umas férias de 6 meses, com as quais planeia viajar.
A mãe dele entrou em modo automático de mãe. A casa estava suja, desarrumada e não tinha nada preparado para o almoço. E ela não parava de o dizer ao Féderico. Nós ficámos um bocado constrangidos porque não tínhamos planeado ser tão rápidos a chegar e sabíamos que não nos esperavam para almoçar. A casa estava mais que limpa e arrumada e não pudemos deixar de sentir e pensar que as mães em qualquer parte do mundo são todas iguais.
O almoço estava  maravilhoso. Mesmo sendo improvisado foi das pastas mais saborosas que comemos. Muitos espargos, nham, nham... com o aviso de que quando evacuássemos sentiríamos de imediato o poder dos espargos selvagens.
A seguir ao almoço saímos para dar uma volta nas redondezas. O Féderico levou-nos até à costa e passeámos junto ao mar. A presença daquele tipo específico de algas indicava que a água era limpa. Mas mesmo sem algas, o cheiro forte a maresia e a transparência da água mostravam-nos o quão precioso este sítio era. Bebemos a nossa primeira cerveja sarda, uma Icnusa para cada um. E um brinde aos novos amigos que se formaram.
Andavam por ali pescadores de polvos e outros tantos na labuta diária.
A apanha de ouriços do mar está a deixá-los em extinção também nesta zona, depois de já terem deixado a zona sul da Sardenha por já os terem extinguido aí. As famílias vivem desta apanha e não se pensa a longo prazo.
Quando regressámos a casa já a mãe do Féderico tinha arrumado tudo e limpo tudo.  Apenas olhos clínicos o poderiam notar.
A mãe Victoria mostrou-nos com orgulho os quadros de pão trabalhado que a sua mãe tinha feito. Verdadeiras obras de arte cheias de minúcia e que já ofereceram ao Papa e ao príncipe do Mónaco. Entusiasmada continuou a mostrar-nos a sua colecção de pedras. Se há um estereótipo de mulher italiana típica, a mãe do Féderico preenchia os requisitos de fala. Falava muito, com muita força, sempre cheia de entusiasmo e ria a acompanhar.
Jantámos delícias típicas mais uma vez, com ênfase na pancheta (barriga de porco) e na bottarga (ovas de peixe secas), tudo regado com vinho caseiro. Houve alguma discussão quando falámos nas ovas de polvo secas, típicas do sul de Portugal, que por serem pescadores de polvo, nunca tinham visto e por isso insistiam que não existiam. A Internet chega e desfaz as dúvidas.
E é verdade, quando vamos à casa de banho depois de ter comido espargos selvagens, cheira mesmo muito a espargos.

Macomer

Como bom anfitrião que é, o Cosimo levou-nos logo pela manhã a visitar as redondezas de Macomer. O seu entusiasmo em relação ao património existente na Sardenha passou para nós, assim que falou em construções de 4000 anos! Sem ser guia turístico, foi contando a história de cada sítio na dose certa, sem dizer demais, e deixando sempre algo mais para contar depois. O seu amigo Andrea, veio connosco e trouxe uma lanterna com ele! Os 4 a subir os montes, a saltar muros, e acenar do topo dos nuraghes para as fotografias.
Pois é, afinal as construções que tínhamos começado a ver a caminho da sua casa, que pensávamos serem parentes italianos dos chozos, são nuraghes (diz-se nuragué). Não se sabe que utilização lhes davam noutros tempos, mas estudos psicológicos afirmam que a sua forma circular, deixaria maluco qualquer pessoa que lá tentasse habitar.
Subimos sempre ao topo! Para ver a vista, e o Cosimo, já experiente nestas andanças, procurava e indicava-nos, imediatamente, os outros 2 que se podem ver sempre de um topo, já que eram construídos sempre aos 3 de cada vez, formando um triângulo no terreno. Alguns, os maiores, chegam a atingir os 18 metros de altura, e tem 2 andares. A lanterna do Andrea mostrou-se muito útil nestas pseudo explorações.
Algumas das tumbas que visitámos estavam cheias de água, mas nas que conseguimos entrar, conseguíamos ver, para além de morcegos a descansar de cabeça para baixo, mais janelas interiores, que por sua vez se ligavam a mais janelas. Como um túnel labiríntico.
Almoçámos em casa, cordeiro assado com vários legumes, preparados sobretudo em azeite, tudo pronto à nossa espera. Foi só chegar e comer. Mais uma vez a família quando faz uma iguaria distribui pelos restantes familiares e nós, sortudos, provamos verdadeiras delícias sardas. Aqui come-se bem. Aqui come-se muito bem. A seguir às refeições há café para quem quer, preparado numa cafeteira ao lume, que tem de ter a marca típica destas cafeteiras, que é italiana, e com um revestimento especial para não trazer malefícios para a saúde. Acompanha-se com mais panettone, com fatias de 25cm e licores sardos.
Antes do pôr do sol voltámos a sair. Desta vez foi a Sabrina o 4º elemento do grupo. Saltámos mais muros, e além de nuraghes, vimos construções dedicadas a cultos de fertilidade, com o formato da cabeça de um touro, por se acreditar serem símbolo de virilidade. Umas estátuas de mulheres e outras de homens a reforçar esta ideia. As estátuas das mulheres distinguiam-se das dos homens por terem umas saliências, que parecem maminhas. Os homens são umas pedras lisas, tipo menir.
Os pastores das redondezas, antes de se reconhecer a importância destas construções, vinham às vezes roubar umas pedras para construírem eles muros para guardar as ovelhas. Não é estranho ver igrejas antigas, mas nem de longe tão antigas como os nuraghes, com pedras que retiraram destes últimos.
O Cosimo aproveitou para apanhar umas folhas de hera para fazer o seu champô natural, e partimos de volta a Macomer.
Dia 13 de Janeiro é dia de Santo António. Aqui celebra-se 2 vezes ao ano. Nesta data e 6 meses mais tarde, como nós em Portugal.
Em duas zonas distintas da cidade haviam fogueiras gigantes a arder. As gentes da terra espalhavam-se em redor. Num sítio bebia-se e enchia-se o copo a quem chegava. Sempre cheio. Vinhaça da Sardenha, da última vindima e que todos empunhavam com orgulho. Tivemos ainda direito à bandeira da Sardenha, versão simplificada, a enfeitar as testas pelo resto da noite. Uma cruz, e em cada divisória uma pinta preta a simbolizar os 4 reis mouros. Existem muitas versões para a história desta bandeira, aqui, explicou-nos o Cosimo, a badana que em algumas representações está sobre os olhos dos reis representa o desagrado, a revolta contra os colonizadores espanhóis.
Convidaram-nos para mais tarde participar da jantarada de favas com carne de porco que preparavam.
No outro sítio, visitava-se a igreja com o santo, distribuíam  bolos sardos e chá quente. Comemos torrão que, apesar de ser espanhol, é uma constante destas festas, em pedaços dentro de um saco de papel.
O jantar foi uma emocionante primeira pizza num restaurante, acompanhados por um casal amigo. Aqui até se fazem pizzas com batatas fritas!
Não sei qual dos 2 estava mais contente!

Romana – Macomer

Despertámos com um bufar fora tenda. Do lado das nossas cabeças ouvimos um forte FFFFUUUUUUUUhhhhUhhUUUU!!. Paralisámos!
Entreolhámo-nos em silêncio com o coração num frenezim saltitante dentro do peito. A adrenalina a subir e eis que outro bufar se ouve de outro lado da tenda FFFFFFFFFFFFFFFFFFEEEEEEEEEEEHHHEEEHH!. Milhões de hipóteses a surgir nas nossas cabeças! Medo! "Paura". Um boi! Foi o primeiro pensamento! Dois bois? Um porco? Um javali? O que se faz diante de um touro, para evitar uma marrada! Como correr naquele terreno acidentado e ganhar vantagem a um animal natural destas paisagens?
Deixámo-nos ficar dentro da tenda, mas mais rápido que nunca arrumámos tudo, mesmo que molhado, evitando fazer barulho. Ouvimos passos de corrida e aguardando e espreitando, saímos. Nada!
Mais calmos, mas sempre a rodar sobre nós para ver se algum animal surgia, limpámos pacientemente a tenda. Torcemos cerca de 40 vezes os panos encharcados para voltar a retirar mais água da tenda. O cheiro a roupa húmida que ficara do campismo da  noite anterior assustou-nos. A nossa casinha com cheiro a mofo...
Com tudo arrumado começámos a pedalar, fizemos o o caminho inverso ao dia anterior para voltar à estrada principal que nos levaria a Romana. Alguns metros à frente, um touro no lado esquerdo da estrada que comia as folhas dos arbustos. Aqui estava o autor dos bufos! Avançámos devagar por detrás dele e depois de o fazermos lá tivemos que tirar-lhe um retrato.
Continuámos pela estrada fora a subir e a descer e a maravilharmo-nos com a paisagem, cheia de verde verdinho e ovelhas a tilintar pelas encostas acima. As nuvens moviam-se e desenhavam as sombras na terra. O sol aqueceu e passamos o dia a vestir  e despir casacos, gorros, luvas para ajustar a temperatura.
Os sacanas dos cães pastores, escavavam por baixo dos portões o suficiente para passar por baixo e correr atrás de nós a arreganhar os dentes e a ladrar. Tentamos manter a calma, mas pela primeira vez senti medo, porque se juntavam em grupos atrás de nós.
Em Macomer esperámos na Piazza pelo nosso anfitrião Cosimo e seguimos atrás dele até sua casa.
As sua mãe Tonina chegou pouco depois e logo saiu de novo para levar a Ana a tagliare i capelli.
O jantar, preparámo-lo nós, era a condição para podermos ficar com o Cosimo. Cozinhar uma comida típica de Portugal, mas como era vegetariano, tivemos de usar a fantasia. Fizemos grão com muitas coisas, e para o dia seguinte um salame. Prova superada.
A Sabrina a sua namorada veio jantar connosco e ficámos a conversar até tarde e a provar iguarias típicas sardas. Licores, pão super hiper fino e estaladiço salgado e com azeite, que quando se come se assemelha a batatas fritas. Um frito feito por familiares. Pequenas delícias, que nos fazem sentir em casa.

Ploaghe – Romana

Antes de sairmos de Ploaghe, decidimos abastecer-nos de comida no supermercado. A água já vinha nos cantis, desde a casa da Mimma. Mas para nossa sorte, um italiano manhoso veio encostar-se a nós para disparatar nem uma única palavra perceptível e afastar o Alexandre para tirar uma foto com a Ana. Pelo que víamos e pela reacção das pessoas a quem ele acenava e cumprimentava percebemos que devia trata-se de alguém que não tinha todos os parafusos no sítio. Com alguma dificuldade lá conseguimos afastar-nos. Com sorte encontrámos um outro supermercado logo adiante. Deixámos os poucos empregados todos maravilhados com a nossa aventura de Portugal aqui. Vinham cá fora ver as bicicletas e trocar umas palavritas. Giro!
Partimos novamente para as montanhas. Desta vez melhor preparados com os alforges cheios de comida e os cantis cheios.
As paisagens fantásticas. Alguns encontros com pastores, gente de lavoura pelos campos, alguns ciclistas XPTO e nada de água para abastecer.
Almoçámos perto de uma construção de pedra enorme, com uma entrada, que associámos ao chozos que vimos em Espanha e que serviam/servem para os pastores passarem a noite ao redor de uma fogueira.
Sabendo que não conseguiríamos percorrer todas as montanhas até ao próximo couchsurfer, já estávamos mentalizados para mais uma noite de campismo.
Perto das casas ou redis espalhados pelas encostas, procurámos alguém a quem pedir água. Sem sorte. Entrámos numa fazenda e procurámos humanidade, mas sem encontrar ninguém. Enchemos os cantis na torneira que ali estava e seguimos durante 2km a subir por uma estradinha, ainda mais secundária do que a que nos levaria ao nosso destino.
Já cansados do dia e de procurar sem sucesso avistámos um muro com uma parte desfeita por onde nos enfiámos, imediatamente. O terreno estava meio acidentado, cheio de buracos do que pareciam ser pegadas de gado. A cada 5 metros tínhamos umas bostas escuras de 20 cm de diâmetros. Mesmo assim, conseguimos arranjar um espaço mais plano e com espaço suficiente para a tenda e as bicicletas não terem de ficar em cima dos cocós.
Do último campismo herdámos uma tenda molhada do duplo tecto ao interior. Mais do que alguma vez esteve. Inventámos tarefas antes de entrar para dar tempo para a tenda secar, como cozinhar com o fogão, mas já estava escuro e no meio das montanhas é só humidade. De facto, quando nos deitámos a tenda ainda estava toda molhada no chão.
Um de nós experimentou enrolar-se no cobertor térmico dos primeiros socorros. Não porque estivesse muito frio, mas para evitar o molhado que cai do tecto e molha os sacos-cama e para aquecer e manter os pés quentinhos.
Comemos uma pasta tortiglioni extra picante com chouriço, lavámos a loiça, arrumámos aqui e ali, higiene e entrámos na tenda molhada.

Agnata - Ploaghe

Mais um despertar humedecido! Atrasámo-nos na partida e começámos a pedalar apenas às 10h! O previsto para este dia eram 70km e já íamos tarde para evitar pedalar de noite!
À falta de sítio para encher os cantis, bebemos a água da bomba de gasolina do dia anterior! Bebemo-la toda e durante todo o dia não houve mais! Estávamos a secar. Os lábios super secos e muita sede.
Devido ao início de dia menos bom, sem pequeno almoço, atrasados, molhaditos da condensação na tenda e sem água, a disposição estava abaixo de zero!
Mais uns montes pela frente, que mesmo sendo belos, sem estas necessidades satisfeitas, não nos pareciam tão belos, porque os olhos só procuravam fontes ou pequenos supermercados onde pudéssemos abastecer.
No meio de curvas e subidas chegámos a Badesi. Entrámos no primeiro supermercado que apareceu, sem querer esperar para ver se havia mais! Deixámo-nos ir pelos corredores a ver tudo o que havia de diferente. É escusado falar do corredor da massa, que tinha mais de 50 tipos diferentes de pasta.
Na secção do pão, adquirimos intrigados e ansiosos, a nossa primeira spianata. É pão, ou pane, falando italiano. Achatado, redondo ou rectangular, e pode abrir-se num cantinho para encher de coisas boas. Nisto é parecido com as pitas! Depois dobra-se ou enrola-se e come-se. A consistência é mais densa e seca. Muito bom. E só se encontra aqui em Sardenha!
Sem pensar a longo prazo, não adquirimos água!
Viddalba, com a sua piazza acolheu-se para almoço. Continuámos caminho e quando entrámos na estrada nacional, havia muito trânsito. O dia estava meio cinzento e começava a escurecer.
Só queríamos chegar e descansar, mas ainda havia muitas curvas e subidas e descidas a fazer.
Já de noite, fizemos uma curta paragem numa estação de combustível. Levei a correr o cantil para dentro do café. Uma pequena pseudo discussão com a empregada que teimava em fazer-se de desentendida quando pedia água da torneira. Apontava para as garrafas, como que a dizer se queres água, tens que pagar. A desculpa da água da torneira não ser potável, veio tardia. No fim das contas, um senhor italiano que participava, na pseudo discussão, incitando-a a dar-me água, com uns: "vá lá, dá-lhe lá água!", acabou por me pagar uma garrafa de litro e meio de água. Despejei-a no cantil e atirei ao lixo mais um plástico inútil.
Seguimos com as luzes traseiras a piscar, colete vestido e as lanternas na cabeça, já que o caminho não tinha iluminação. Com tanta escuridão não fazíamos ideia do que estava lá ao fundo. Víamos as luzes atrás de um monte, mas sem conseguir distinguir, quanto faltava para as alcançar. Sempre a desejar a cada curva ou descida encontrar casas.
Finalmente entrámos em Ploaghe. Começámos a descer a rua e um carro parou ao nosso lado. Perguntou-nos se procurávamos um bed and breakfast para dormir. Confirmámos. E quando ele disse: "Mimma!", dissemos contentes: "Si, si". Uau, a Mimma devia ser muito conhecida por estas bandas. Acompanhou-nos de carro até à casa dela e foi-se embora.
Assim que encostámos as bicicletas, um senhor veio ter connosco. O vizinho.
As perguntas habituais de onde somos. E depois a surpresa quando confirmámos que pedalámos de Portugal até à casa deles. Perguntou se queríamos beber aguardente. Claro que sim, nem se pergunta.
Entrou em casa a dizer-nos para esperarmos e voltou com uma aguardente da Sardenha. Bebericámos uns copitos. E voltou a entrar. Quando regressou convidou-nos para aguardarmos pela Mimma na sua casa porque estava mais quentinha. Deixámos um recado à Mimma nas bicletas e entrámos. A esposa e o filho estavam pela cozinha. Sentámo-nos e bebemos mais vinhaça caseira e sumo, enquanto conversávamos calmamente em português, espanhol, italiano e sardo. Descobrimos que sardo, em palavras soltas, tem muitas parecenças com o português. A Mimma chegou. Ouviu-se o carro. Aguardámos mas como não vinha mandámos-lhe uma sms para vir ter connosco a casa do vizinho. Juntou-se à mesa a beber connosco. Tinha vindo da ginástica correctiva, porque tem problemas de coluna.
Dissemos adeus a esta família vizinha tão simpática e acolhedora. Um camionista, uma doméstica dois filhos. A primeira impressão da Sardenha foi forte e muito positiva.
Jantámos em casa da Mimma, com uma amiga, a Antonella. O primeiro prato pasta. Esparguete com ouriços do mar, comido em pratos fundos. Em seguida retiram-se os pratos fundos e comemos almôndegas com legumes cozinhados em azeite. Para sobremesa Panettone, o bolo típico do Natale.
Cansados por volta das 11h00 recolhemo-nos no nosso quarto para descansar.

Porto-Vecchio – Agnata

Bonjour!
Pela última vez em francês.
A despedida foi rápida por causa dos atrasos matinais, culpa da preguicite! Mas não foi isso que nos impediu de sentir um mixto de emoção por nos estarmos a despedir de França, ainda que Córsega, para muitos seja um mundo à parte do resto da França. França revelou-se uma óptima surpresa, com gente fantástica, sítios lindíssimos e momentos preciosos partilhados. Um pouco ao contrário do que nos faziam crer.
Pedalámos rumo a Bonifácio, com 27 km pela frente, pela estrada mais plana. Chegámos cedo. E depois de subir, uma rápida descida que dava entrada em pleno porto de Bonifácio. Cheio de barcos, cheio de azul, sol, gaivotas a guinchar, encostas de casas a enquadrar o cais para os barcos dos pescadores e viajantes.
Subimos mais uma encosta, em pleno silêncio contemplativo, e apenas nos restavam as fotos numa tentativa de capturar a beleza que nos invadia os sentidos.
Descemos até ao porto de embarque e aguardámos, no interior de uma sala de espera, pela abertura das bilheteiras e pelo barco para Sardenha.
Aproveitámos o WC, e os bancos para repousar, escrever os últimos postais franceses e comer as sandes do almoço.
Travámos contacto com um casal de viajantes à boleia russos. Ficámos com um cartão. Um casal sardo, mais avançado cronologicamente, interessou-se pelas nossas bicicletas carregadas, já que também o senhor percorria grandes distâncias na sua vélo. Graças a este casal ganhámos um mapa de Itália que nos fazia tanta falta. Mas não conseguimos ver-nos livres do kilo de mapa francês.
O embarque foi rápido! Adieu à France e Ciao a Sardenha!
A viagem é curta! O desembarque rápido foi!
Não se via ninguém. Alguns carros que passavam de vez em quando.
Pedalámos mais 20 km até estarmos no meio de arbustos. Num posto simples de gasolina enchemos os cantis com àgua, que não era suposto beber-se. Era para cozinhar, dissemos.
Abrimos a nossa casa no meio de um trilho de gado caprino.
O jantar não foi cozinhado como planeado, mas antes comido frio porque anoitecia rápido e queríamos descansar.
Um episódio do Dexter antes de dormir, para terminar!

Solenzara - Porto-Vecchio

Deixámos o campo de futebol mesmo a tempo, porque assim que iniciámos o pedaleio, apareceu um senhor com a carrinha para descarregar tralha.
Assistimos a um maravilhoso nascer do sol, que sabe a chocolate logo para começar bem o dia. Enche-nos de sentimentos bons e de esperanças.
O dia estava magnífico e despimos os casacos depois da primeira subida mais inclinada.
As casa junto ao mar, e muitos sítios encerrados e desertos, que no Verão imaginamos a abarrotar de turistas. Muitos cartazes a anunciar aulas de mergulho, excursões e o que se pode pensar para entreter as massas migratórias de Verão.
À chegada a Porto Vecchio fizemos uma pausa para um almoço e logo partimos em busca de Internet para verificar se a Catherine já nos enviado ou o número de telemóvel ou as direcções para a sua casa.
A subida era longa e íngreme. Em frente à biblioteca decidimos entrar e experimentar a ver se podíamos aceder à net. Nada! O centro cultural era logo ali, mas como avisa-la que já tínhamos chegado?
Continuámos a cirandar à procura de Internet. Nada, mais uma vez! O posto de turismo fez-se anunciar nos sinais. Assim que entrei a senhora disse imediatamente: " São os portugueses que vieram de bicicleta?" Com espanto respondi que sim. Ela explicou-nos que a Catherine já lá tinha estado a avisar que iríamos lá passar! A senhora disse que ela estaria à nossa espera no Centro Cultural. Mas como saberia ela que já lá estávamos? Com certeza tinha mais que fazer do que ficar por lá à nossa espera! Umas festas no gato que vai ao posto de turismo em busca de comida e recebemos uma SMS. Era a Catherine, a dizer que tínhamos uma carta à nossa espera no Centro Cultural! Informámos o pessoal do posto de turismo e juntos sorrimos à custa desta caça ao tesouro. Lá descemos a rua até ao C.C.. Na recepção depois de nos fazermos anunciar, entregaram-nos um envelope. Lá dentro um mapa com indicações e uma carta. Seguimos o mapa e chegámos à casa da Catherine. A sua companheira de casa desceu as escadas e iniciou uma conversa unilateral num francês que considerámos rápido demais até para os franceses a explicar-nos montes de coisas sobre como arrumar as bicicletas e onde era o apartamento. Partiu e depois veio a Catherine... a sorrir. Ajudou-nos a arrumar as bicicletas e a levar todas as malas escada acima até ao terceiro andar. Rimo-nos com a confusão das SMS e emails, que afinal eram apenas SMS que tinham sido enviados mas não recebidos por faltarem uns zeros... Valeu a pena porque foi divertido andar a passear pela cidade e encontrar gente à nossa espera com mensagens. Ficou a ideia para o futuro deste 3 couchsurfers.
Descobrimos minutos depois que na Córsega toda a gente tem a casa de banho fora de casa. Lá fora em todas as varandas há uma casa de banho. E do topo das montanhas consegue-se avista-las, fora das casas.
Um chá com bolinhos acabados de fazer e saímos de carro em direcção às montanhas. Fomos parando em diferentes patamares para ver o que havia. Mesmo no topo, há um lago artificial, existente apenas por causa da barragem. Mesmo assim encantador em conjunto com as imponentes rochas em redor, escavadas pela água e vento forte. Mas o pôr do sol e o vento forte e frio fizeram-nos preferir outras paragens.
Regressámos a casa para banhos e jantar. Um jantar simples mas delicioso.
A sua vida profissional está numa fase positiva. Só trabalha um dia por semana, num turno de 24 horas. Todo o restante tempo é passado em passeios, a ler e a ver muitos filmes. Com apenas 26 anos já fez muito na vida, tem muitos projectos e já é uma grande mulher, depois de ajudar a nascer muitos bebés.
No Verão as duas, Catherine e a companheira Fabienne, abandonam a casa devido ao custo elevado da renda em época balnear. O preço é 8 vezes mais que o que pagam durante de mensalidade o resto do ano.
A Fabienne chegou e apesar de overwhelmed dispôs de algum do seu tempo para estar à conversa connosco.
Todos fomos para os quartos para descansar devidamente para o dia seguinte estar a postos. A Catherine estaria a fazer turno. E nós a pedalar para apanhar o barco. Ficou de nos enviar uma SMS caso nascesse algum bebé.

Linguizzeta – Solenzara

O som da chuva misturava-se com o das ondas. Mas o embalo do som e o conforto da areia sob nós, fez desta uma noite bem passada.
Depois de empacotar a tenda e arrumar os alforges, ainda limpámos com um pano as correntes e voltámos a pôr um pouco de óleo. Passados poucos quilómetros de pedaleio, um som esquisito começa a aparecer em ambas as bicicletas. Numa mais do que noutra, mas ainda assim a coincidência de ambas as biclas começarem a fazer barulho após a pequena manuntenção, não podia ser ignorada. Que raio fizemos nós de mal?
Pode ser a paissagem mais bonita do mundo, e com certeza que a Córsega anda por lá perto nas revistas de viagem, mas quando se pedala ao som não constante de clack-clack-clcak, não há vista que apazigue os nervos!
Mas teria que ser assim até Porto-Vecchio ou depois. Uma paragem na berma da estrada e uma inspecção à transmissão nada revelou.
Mais um dia corriqueiro de vistas de perder a vista. Pedalar entre o mar e os picos recheados de neve.
A meio do dia parámos num hotel. Não para perder a cabeça e destroçar o nosso fundo de maneio, mas para um chá com Internet. Era caro (como tudo em França), mas tivemos direito a dois frascos de mel da Córsega em fez de açúcar e a bolinhos típicos da região.
Hoje foi um dia de novidade para os Nomadiclas! A primeira vez que acampámos num campo de futebol.
Quando pelo portão do campo passámos eram quase 17h e pensámos que teríamos o espaço só para nós. Até uma bancada com lavatório e torneira estavam por lá para facilitar o nosso camping. Um luxo!
Mas eis que passados uns minutos, um rapaz entra e caminha na nossa direcção. Fomos ter com ele, explicando a situação. "Estamos a viajar e parámos aqui em busca de um sitio para pernoitar." Ele diz que não há problema. Mas daqui a uma hora os restantes colegas deles iriam aparecer para os treinos diários da equipa da região!
Assim foi. Aos poucos foram aparecendo os rapazes e o treinador e rapidamente a equipa se compôs a correr e a aquecer, a rematar e a centrar pela noite dentro, enquanto nós, sentados nos bancos, os observávamos enquanto comíamos o jantar.
Quando já a noite estava cerrada, os holofotes foram desligados, as despedidas feitas e a tenda montada rapidamente sob a chuva que começava a cair e as trovoadas que gritavam lá longe no mar.

Bastia - Linguizzeta

Quando acordámos e saímos do quarto, já/ainda o Théo estava na sua jogatana online de póquer. Todas as raparigas dormiam depois de uma valente noite de borga. Fizemos crepes para nós e para todos, para que pudessem ter um pequeno-almoço tardio diferente. Antes mesmo de sairmos, a Fabienne acordou e ainda conseguimos dizer-lhe adeus.
Córsega...
Desde que ficámos com a Génevieve e o Vincent que ouvíamos dizer que esta ilha é como uma montanha no mar. Com picos a ultrapassar os 2500m. Vincent alertou-nos de que apenas 60km em toda a ilha eram planos! Apenas na parte oriental da ilha se via que as montanhas não a atacavam. Foi aqui que decidimos pedalar para atravessar o berço de Napoleão. Como preguiçosos que somos e seguindo a estratégia de fugir ao Inverno europeu, não nos apetecia conhecer in loco as montanhas e o mau tempo nelas incluído. Ainda assim temíamos as subidas e descidas...
Nem 10 minutos de pedal, e eis que ainda na cidade tivemos quase que desmontar e empurrar para percorrer 50 metros de pura parede vertical numa das muitas ruelas antigas da cidade!
Mas foi só um susto. Ao atravessar o mercado domingueiro na praça central, entrámos naquela que seria a última estrada francesa. A N 198, que liga Bastia a Bonifacio.
Como Córsega se revelou um deserto de Couchsurfing, pedalámos sem pressas e sem obrigações e destinos a cumprir. Como em Portugal e em Espanha, os próximos dias seriam de liberdade pedaleira. Pedalar até encontrar um bom sítio para acampar. Nada mais. Fazer compras de almoços e jantar, seriam as únicas preocupações diárias.
Nunca houve altos e baixos terríveis como Napoleão. Pedalamos todo o dia até virarmos para uma praia para acampar. Todo o dia com o mar à esquerda e os picos de neve enevoados à direita.
Na praia, um restaurante de Verão, mais parecia abandonado que fechado. A casa ao lado tinha roupa estendida e apresentava sinais de habitantes. Esperámos que alguém aparecesse para perguntar e ter a certeza de que não haveria problema em acampar na praia em frente à casa. Preparamos a nossa casa, fizemos a janta e um chá e vimos uns episódios do Dexter antes de adormecer com o som das ondas a escassos metros de nós...

Bastia

Cada qual, para seu lado, uns nas limpezas e lavagens, outros a passear o cão e a fazer desporto e outros às compras.
À hora de almoço. comemos todos juntos, os da casa: Fabienne, Sylvie, Theo, Alexandre e Ana. Nós fizemos uns noodles com pimentos, super extra picantes e umas brosquetas. Estava tudo bom, mas os mais fraquinhos não aguentaram tanto spicy.
O dia prosseguiu com calma.
Nós fomos para a varanda com uma tesourinha tratar dos pêlos faciais do Alexandre. A Sylivie emprestou-nos a máquina de barbear e mudámos para a casa de banho. Barba e cabelo. Mais uns episódios do Dexter. Enquanto isso, "recebíamos" mais convidados pela tarde dentro.
Antes do jantar reunimo-nos novamente na sala, desta vez, sem fatos de treino domingueiros, mas já todos aperaltados para a noite. Novas convidadas, desta vez do Canada e Inglaterra. Moças novas, uma professora e outra música, que mesmo que queira não consigo enumerar a quantidade de instrumentos que toca. Apanhei um trompete e um contra baixo. Tinha uma tatuagem no fundo das costas com uma pauta musical.
O jantar foi feito pela Fabienne, uma improvisação com pota (uma espécie de lulas) mas que todos aprovaram, para grande satisfação da cozinheira. Começámos a jantar às 23h30m.
Entre os trocadilhos com as diferentes maneiras de dizer o mesmo em várias línguas, uns copos de vinho entornados várias vezes na mesma moça, (parecia que alguém a queria ver sem blusa), uns copos de vinho e umas fumaças, sempre tudo animado com a energética cadela Laica, a noite passou. Todas as meninas menos a ciclista foram sair para um bar nas redondezas.
Os ciclistas e o ajudante de padeiro, Theo, ficaram em casa cheios de sono e cansados.

Nice - Bastia

Parabéns Émilie.
O dia do seu aniversário. Como não houve tempo para mais, improvisámos um bolo de fatias douradas,(french toasts ou pain perdu como lhe chamam aqui), com dois isqueiros a fazer de velas! Cantámos os Parabéns e quando íamos começar a comer tocam à campainha. Mas quem seria? A Zuza e o Radek seguiram literalmente as palavras da Émilie quando lhes disse que hoje 2 pessoas iam embora logo de manhã (nós), e que eles só podiam vir depois. E eles vieram, às 9h da manhã. Fizemos uns milagres da multiplicação e de repente o que parecia pouco foi o suficiente para todos 7 comermos fatias douradas, croissants, pão, leite, chá e mais o que havia.
Todos descemos com as malas. O Gilgamesh quase que apanhava com as bicicletas em cima, por teimar em trepar os quadros sozinho várias vezes. Despedimo-nos do casal de hitchhikers da Polónia que regressaram a casa. A Émilie, o Gil e a Jun ficaram mais um bocadinho connosco e depois também eles foram à sua vida, levar o Gilgamesh à ama.
Nós seguimos equipados novamente com impermeáveis dos pés à cabeça em direcção ao porto.
Por hoje ser dia de barco a bilheteira abria 3 horas antes da partida. Fomos dos primeiros a chegar e a comprar bilhete. Em menos de nada a sala de espera encheu-se de gente. E até um portugueses broncos lá estavam, a falar alto com pronúncia do norte a distribuir car...adas para quem quisesse ouvir.
Meia hora antes da partida fomos para a fila e em menos de nada embarcámos. Estávamos um bocadinho entusiasmados com tudo.
Andámos cima e baixo, de um lado para o outro à procura de um poiso com tomada.
Comemos, vimos uns episódios do Dexter da season 5. E às 20h já tínhamos os pés na Corsega.
Perguntámos pelo Palais de la Mer. A Fabienne veio fazer-nos um cucu à porta e ajudar-nos a pôr as malas todas no elevador. As bicicletas foram na vaza seguinte.
Na sala estavam mais 3 mulheres. Uma delas sobressaiu de imediato com as feições italianas no meio de tanta francesa.
Sem tomarmos banho juntámo-nos, acanhados e a cheirar a cavalo, à female party que estava nitidamente a decorrer. Muitas bebidas, chouriços ou salpicões para entrada, depois pizza e por fim o jantar de massa. Elas sempre a falar muito depressa e a rir e a falar. A Sylvie era claramente a Dj. Punha e mudava a música, acendia as luzes aqui, apagava ali, Voltava e apagava só uma.  A noite toda nisto! A italiana falava com toda a gente, sempre bem disposta e a sorrir. A Fabienne fez o jantar, e bebia. Ao fim da noite ria de tudo e de nada... E a outra moça mais velha que não era mais velha, só parecia, tinha sempre um ar muito sério. As outras passaram a noite a provocá-la e ela nunca se desfez. Quando se foi embora foi um verdadeiro corte e costura sobre a sua pessoa.
Depois disto mais umas trocas de palavras esperámos pelo Theo, mas ele vinha a dormir em pé e a seguindo as suas acções foi-se tudo deitar.

Nice - Nice

Mais uma vez saímos quando todos saíram também para os seus trabalhos às 8h30m. Desta vez, levámos a bagagem completa. A noite já não iria ser passada ali mas em casa de outra Couchsurfer na parte nordeste da cidade.
Mas antes, tínhamos um compromisso. Às 10h na loja de bicicletas para uma revisão às meninas.
Reconheceram-nos e de imediato cada um dos mecânicos se encarregou-se de fazer um check up completo a uma bicicleta. Apertar varetas, apertar as cassetes, alinhar os travões, ajustar as mudanças,..e outras coisas que cada um deles fez com rapidez e numa sequência que demonstrava experiência. Foi a primeira vez que nos sentimos descontraímos com alguém a mexer nas bicicletas. No final o preço é foi uma surpresa. Um pouco mais do que o esperado, mas quanto mais não seja porque confiámos neles e no que faziam e não nos preocupámos, já valeu a pena.
Se à oficina chegámos molhados, depois de atravessar toda a cidade em pouco menos de 2 horas, estávamos a pingar água por todo o lado quando, finalmente, entrámos em casa da Émilie e do Gilgamesh. A nossa roupa impermeável tem sido muito útil e eficaz até agora, por baixo das camadas todas de roupa estávamos sequinhos.
A Émilie estava com a Jun, da Coreia do Sul, à nossa espera para começar a  fazer os crepes. Mandou-nos uma sms a dizer que íamos ter uma crepe party. Enquanto ela fazia os crepes, nós limpámos as malas e a poça de água que formámos com a nossa entrada.
Um almoço tardio mas delicioso, com muito crepes e conversas franco-saxónicas compronúncias variadas.
A Émilie saiu com a Jun para irem buscar o Gilgamesh e nós aproveitámos para escrever e publicar textos e fotos.
Quando o Gil (diz-se Guil) chegou, as atenções foram todas para ele. Não parou até dormir, ninguém o conseguia segurar mais de 1 minuto ao colo. Ora corre, ora , trepa, vai buscar coisas, grita na sua língua qualquer coisa indecifrável e continua. Tem 18 meses. A Émilie corta-lhe o cabelo como o do Mr.T. De facto, parece um homem em miniatura. Maciço e cheio de músculos. Segundo ela diz, quando nasceu já vinha musculado. Devia ser do exercício todo que já fazia dentro da barriga da mãe. Nasceu com menos um mês, com 60cm e 3,200kg. Gilgamesh é nome de uma personagem histórica, um rei da Suméria. Algures na sua história há um cruzamento com um dilúvio que destruiu toda a Humanidade, à excepção de quem ia numa barca gigante. Soa a familiar, não soa?
À noite, juntou-se a nós o namorado da Émilie. A Émilie mais uma vez demonstrou ser uma excelente cozinheira e fez uma tajine de comer e chorar por mais. Toda a gente lambeu os dedos.
Ficámos à converseta com o chá a acompanhar até o Gil estar a cair de sono, e logo a seguir fomos nós.

Nice

Os 5, saímos de manhã ao mesmo tempo. As bicicletas duas malas pequenas e nós com um dia de passeio por Nice à nossa frente.
Com as indicações no mapa, chegámos à loja das bicicletas NeWay. Tivemos de esperar para que abrisse e aproveitámos e fomos à do lado fazer tempo. Entre outras, todas XPTO vimos umas rodas a custar 2000€ e mais não digo...
A loja abriu e porque já tinham que fazer de manhã, combinámos para o dia seguinte, visto que nós também já tínhamos planos para a tarde.
Fizemos, durante uma hora, a rota das padarias. Parávamos em todas as que víamos à procura de pão au maïs e das pizzas, sandes ou focaccias mais baratas. Conseguimos encontrar umas focaccias bastante em conta e comprámos logo a dobrar, por causa das coisas.
Com tantas paragens demorámos imenso tempo e ficámos cheios de xixi. As estações de gasolina aqui tinham as toilettes todas encerradas. Os cafés ou não têm toilette ou temos que consumir. Pedalámos até ao Mac, mas também aqui nos tickets de quem compra é que há o código que abre a porta. Emprantamo-nos à porta à espera que alguém saia (porque ouvimos vozes lá dentro) ou que alguém entre e lá vamos nós aliviar-nos.
O mercado antigo ainda estava ali por mais uma hora pelo que pudemos comprar fruta para o almoço.
Descemos o paredão inclinado e fomos sentar-nos na areia da praia. Sem problemas com areia dentro dos sapatos. Brincámos aos ricochetes e as gaivotas, andorinhões e passarinhos sobrevoavam quem por ali comia à procura de uma oportunidade para encher o papo.
Aprés le midi, passeámos pelo porto. A terceira idade masculina pelos vistos reúne-se aqui para se refugiar da chuva e do vento nos dias em que não há barcos. E nós, claro, aproveitamos todos os spots com wifi gratuito, casas de banho, bancos e um ambiente quentinho, e por isso ficámos cerca de uma hora a fazer companhia aos senhores franceses enquanto navegámos...na net.
Havia uma loja de desportos de aventura lá bem para o meio da cidade e assim enquanto avançávamos na nossa procura pela Alticoop, fomos vendo a cidade. O eléctrico e as pessoas e que correm para o apanhar, os estudantes, as lojas de comércio a funcionar, e montes de gente na rua a fazer a sua vida. Fez-nos lembrar Lisboa. Numa escala muito maior, mas soube a casa.
Encontrámos a loja e era tão grande que tinham os dois lados da rua preenchidos com as diferentes secções. Uma para coisas baratas de outras estações. Calçado de montanha, sandálias. Escalada, montanhismo, alpinismo. Roupa térmica, Casacos. Fogões, tendas, cantis, acessórios de outdoor. Havia de tudo. E nós adorámos. O nosso ideal de loja é este. Mesmo sem precisarmos sentimo-nos sempre tentados a comprar mais uma geringonça que faz qualquer coisa útil de forma light, compacta e cara.
Lá para a 3ª ou 4ª porta um moço de cabelo encaracolado iniciou conversa connosco. O Antoinne. Reconheceu as nossas malas do dia em que nos cruzámos na ciclovia junto ao aeroporto, aquando da nossa chegada de bicicleta a Nice. Também ele é um viajante. É francês, daqui de Nice, mas Vinha do Canada onde estuda Aventura e Exploração!!!! Há 8 anos fez a rota entre a China e o Irão de bicicleta.  Não nos contou a vida toda mas sabemos que estudou na Nova caledónia graças a uma bolsa de estudo.
Mais uma ilha francesa estrategicamente localizada no globo. Basicamente eles podem viajar para todo o lado que há sempre uma ilha francesa algures e não se preocupam com vistos ou passaportes.
O Antoinne desatou numa faladeira e só parou no fim. Contou-nos montes de experiências das suas viagens, e aconselhou-nos. Despedimo-nos porque já anoitecia e tínhamos de atravessar mais uma vez toda a cidade para regressar a casa da Karina.
Fizemos uma sopaza de feijão. A meio apareceu a mãe do amigo dos meninos que vinha buscá-lo e juntou-se à mesa connosco.
Mais chá, mais conversa, a internet da praxe e vamos todos dormir que amanhã é dia de escola.

Antibes - Nice

Nice é amiga das bicicletas. Por isso é nossa amiga. Desde que saímos de Antibes até ao nosso destino de couchsurfing tivemos sempre direito a passadeira vermelha.
Uma pista para bicicletas entre o Mediterrâneo e a estrada! Logo ao lado o passeio para peões. Em toda a sua extensão sempre frequentados por praticantes de desporto, seja de patins, de skate, bicicleta, corrida, marcha ou simples passeios à beira mar. A parte reservada às bicicletas está devidamente assinalada com a cor vermelha e sinais de bicicletas pintados no chão. Temos direito ainda a semáforos, sinais de trânsito, como stops, cedências de passagem, velocidades máximas. O que para além de nos deixar muito descontraídos e confortáveis com o imenso trânsito típico de uma cidade grande, enche-nos o ego, ter um sítio reservado a nós ciclistas. Se algum dos muitos peões se atrevem a atravessar o nosso caminho, basta lançar-lhes um olhar de: "chega-te para lá, que este espaço é para mim!". Todos contentes, a distribuir sorrisos e acenos de cabeça aos muitos ciclistas que passavam nos dois sentidos.  Muitos deles, com equipamento todo XPTO, incluindo bicicletas XPTO com tudo a brilhar nem sequer olhavam para nós. Ficámos um pouco tristes e às vezes incitáva-nos a dizer bem alto Bonjour, para não haver a desculpa de não nos terem visto, assim tínhamos a certeza que nos tinham ouvido. E lá levantavam metade da mão do guiador ou abanavam a cabeça em jeito de aceno.
O Victor, depois de três meses a morar em França, veio trazer-nos a certeza para o que já desconfiávamos. Quando alguém nos estende a mão e vinca este gesto quando nos tentamos aproximar para umas beijocas, não é timidez, ou arrogância. Se nos voltarmos a cumprimentar, numa despedida quiçá, já poderemos então fazê-lo com beijos porque já conhecemos a pessoa. Parece que os inglese são mais ou menos assim.
Deixámos a casa do Victor às 8h30m, quando saímos todos uns para o trabalho de escritório, outros para o trabalho da bicicleta. Com Nice a 20km, pedalámos a uma velocidade vergonhosa. Talvez por isso sentimos mais frio durante o dia.
Nice à beira mar está cheia de restaurantes, bares, casinos, e tudo mais que possa interessar a quem por aqui passeia. Um passeio enorme, para peões e bicicletas. E quem quiser pode ir para a praia. A areia são seixos de vários tamanhos. Não pudemos deixar de pensar que até seria agradável não ter o fato de banho todo cheio de areia quando voltássemos para casa...
Ouvimos mais uma vez montes de italianos e em alguns sítios até já se vêem sinais em italiano e tudo. Também estamos já aqui ao lado, não é de espantar.
chegámos cedo, eram umas 17h00 junto ao prédio da Karina. Entre confirmar o local e visitar umas lojinhas aqui ao lado, comemos qualquer coisa que ainda tínhamos da ida ao fantástico mercado de Nice, e uma senhora que descobrimos ser vizinha do mesmo prédio da Karina, meteu-se connosco e claro, demos-lhes troco. Somos daqui, viemos assim, risos... e ela pergunta-nos como fazemos para dormir. Se dormíamos em hoteis? Sintéticos, explicámos o Couchsurfing. Ajeitou-se logo, a perguntar com quem iríamos ficar aqui. Dissemos o nome, mais apelido menos apelido, lá veio o ahhhh, a Karina. E depois sacou do novelo e das agulhas, e começou no teco-teco-teco, teco-teco-teco. Felizmente, surgiu um hello. A Karina resgatou-nos deste início de fofoquice com as vizinhas. Deu para trocarmos uns olhares sorridentes. Foi o suficiente para matar saudades do corte e costura.
Os miúdos estavam excitadíssimos com a nossa estadia e no tempo que tiveram antes de ir dormir, mostraram os seus truques especiais, e saltaram entre os sofás, bateram o pé para marcar a sua posição e envergonharam-se quando falávamos com eles.
São lindos, lindos, lindos! Com uma caras e uns olhos.
A Karina, sempre em pé, mal se sentava levantava-se logo para ir buscar alguma coisa, ver o que andavam eles a fazer. Sentava-se em frente ao portátil e levanta-se logo a seguir para ir buscar as pizzas e os filhos ao Kempo.
Jantámos, comemos a sobremesa e bebemos um chá. Depois ficámos na converseta até um de nós dizer que estava na hora de ir dormir para quem trabalha no dia seguinte.
Com as mudanças de planos da Karina, pudémos ficar mais uma noite com eles.

Saint-Raphaël - Antibes

Não se pode dizer que se dorme, quando a noite é passada a ouvir a banda sonora da chuva a cair sobre o avançado, a ouvir as gotas que salpicam os alforges para o interior da tenda e a sentir que o nosso descanso está a ficar molhado. Ora é um que sai da tenda para recolocar os alforges dentro da tenda. Ora se fecha a porta deixada aberta para circular o ar. Ora é o outro que sai para colocar a lona sobre as biclas e recompor o avançado. Enfim... Não dormimos, mas repousámos. Pelo menos de manhã não choveu, quando chegou a altura de arrumar a tralha e sair da praia de desembarque dos Aliados.
Assim como também não choveu durante o resto do dia enquanto atravessámos a espectacular marginal que liga St Raphael a Cannes. Altos e baixos, curvas e contra curvas, gigantescos penhascos e formações de cores avermelhadas a contrastar com o azul do mar e o verde das árvores e arbustos. Tudo polvilhado com brutas mansões, construídas no limiar do possível e impossível junto ao mar, e quase a nele tocar. Estrada estreita mas ainda assim cheia de caros colegas ciclistas. A maioria ainda devolve o cumprimento, mas alguns snobs viram a cara como que com vergonha dos nossos tramanacos desajeitados e carregados! olha para estes a pedalar a 15 à hora... E lá vão eles a roçar os 30Km/h..
Em Cannes, passeámos junto à famosa passadeira vermelha, contámos as mãos e os nomes dos famosos que tal como em Hollywood, estão gravados no chão e ficámos pasmados com a quantidade de italiano que se falava nas ruas e na quantidade de casacos de peles e maquilhagem usada no dia a dia das dondocas e dondocos.
A partir daqui começa a paisagem de aglomerado urbano que liga Cannes-Antibes-Nice como se de uma gigantesca mega metróple se tratasse. Ainda se tem o azul da Costa Azul, mas adeus às arvorezinhas e aos penhascos. Olá semáforos e prédios.
Não percebemos quando acabou Cannes e começou Antibes. Ainda se viram algumas placas de vilas entre os dois, mas tudo parece igual.
Abençoado Inverno que torna esta viagem, por locais de culto ao sol e ao corpo com toalhas e chapinhanços no Mediterrâneo, num autêntico prazer com níveis de trânsito toleráveis e costas desertas...
Cedo chegámos a Antibes. O nosso anfitrião espanhol só chegaria lá para as 18h, por isso ainda houve tempo para voltar ao centro e fazer umas compras de supermercado, depois de já termos encontrado a casa do Victor.
Tal como nós, também ele se desloca sobre duas rodas. Mas estas têm bastantes mais cavalos que as nossas!
Victor, de Madrid, informático de profissão, trabalha em França hà 3 meses, numa empresa sediada no meio de uma floresta a dez minutos de casa. Adepto do Linux, de viagens e de comida saudável, sem extremismos. Praticante do Caminho de Santiago de bicla e de bicla pela montanha aos fins-des-semanas ou quando pode. Adepto de campo e interior do país como fuga às loucuras do Agosto junto ao mar. Cheio de dicas e truques sobre viagens de bicla, este nosso amigo pedaleiro partilhou o que se sabia connosco.
Como de costume, também ele franziu a testa quando explicámos que é mais confortável para nós dormir no chão do que num sofá diferente todos os dias.
Depois do jantar de couscous com conversa e água filtrada, eis que o sono dos justos chegou mais uma vez.

Gonfaron - Saint-Raphaël

Levantámo-nos antes de toda a gente. Levámos a roupa do quarto e WC para a máquina de lavar. Preparámos as bicicletas, levámos as malas para a porta da sala. O resto do pessoal desceu, fomos comprar uns panitos para as sandes do dia e toda a gente tomou o pequeno almoço. A Jill entregou-nos um envelope com um postal, que guardámos logo, emocionados. O ambiente estava estranho.
Depois de confirmar se tínhamos tudo, descemos e as meninas abriram uma lembrança que deixámos para eles.
Fomos todos para a rua fechar o resto das malas com as comidas lá dentro e uma fotografia de grupo antes do adeus.
Os beijinhos, os abraços, umas palavras que não conseguiam sair de nós e em vez disso os olhos humedeceram-se. Partimos logo, para evitar dramas. Mais à frente, nem chegaram a ser 500 metros, parámos obrigados pela emoção da despedida. Chorámos e rimos por tudo o que se tinha passado de tão bom nestas 3 semanas... É difícil expressar o quão intenso uma noite ou dois dias de couchsurfing podem ser quanto mais uma semana, ou 2 ou 3...
Seguimos pela estrada que já tínhamos de feito de carro com o Billy e a Jamie. Mas nem por isso deixámos de nos surpreender com a beleza das cores e de nos sentir entusiasmados junto do mar.
Por esta estrada a maioria dos condutores que passa, vem passear. Há vários estacionamentos, e caravanas, bicicletas e gente a andar ao longo da estrada. As máquinas a disparar em todas as direcções, e também a nossa se juntou aos flashes.
Através do ajudante Google conseguimos escolher mais ou menos com antecedência um sítio bom para acampar ao fim da tarde. Mas depois de andar para diante e para trás, acabámos por ir para um sítio enorme, um bocado turístico, onde as tropas do dia D desembarcaram a 15 de Agosto de 1944. Foi o princípio do fim da II Guerra Mundial!
Muita gente por ali estava. Autocarros de turistas, moradores das redondezas a passear o cão, moradores mais distantes a terminar o passeio de fim de semana e dois viajantes de bicicleta à procura de um sítio para montar acampamento por uma noite. Fomos à vez fazer vistorias e descobrimos um café encerrado nas estações menos quentes, e foi mesmo aí entre a cerca do parque de campismo e as traseiras do café que fizemos a nossa casa por uma noite. Comemos nas mesas e cadeiras disponíveis para piqueniques e esperámos até não haver ninguém para nos irmos recolher.
O céu estava nublado e as previsões meteorológicas não anunciavam mais que isso. Umas consultas na Internet, ajudaram-nos a melhorar a circulação de ar no interior da tenda, de maneira a diminuir a inevitável condensação que se forma quando estamos lá dentro quentinhos e a expirar tanto vapor de água.
Prendemos as bicicletas, montámos a tenda junto a um canto do café, arrumámos as malas todas de um lado e deixámos um porta do duplo tecto aberta e pousada nas malas.
A meio da noite começou a chover.....

Gonfaron - last days

Todos os dias a banda sonora da casa é a Riviera Radio, com locutores de pronúncia bristish. Quem desce primeiro liga o rádio e logo a casa parece despertar para mais um dia. As gémeas sentam-se em frente uma a outra nas suas cadeiras, para comer os seus cereais e recebem quem vem a descer com chamadas entusiásticas pelos nossos nomes. Reconhecem o som de alguns sapatos, e depois vão por exclusão de partes.
Tomamos o pequeno-almoço aos dois de cada vez, e quando alguém está a terminar, há sempre alguém a começar.
Depois vai-se fazendo o que há para se fazer, seja o que for.
Pois bem, esta semana começou com uma viagem de carro. Billy, Jamie, Alexandre e Ana num carro rumo a Nice. Partimos antes do almoço com umas sandocas no bolso, mas nada suficiente para aguentar as horas que tínhamos pela frente. Fizemos as paragens para a comida americana no MacDonalds, para aliviar as bexiguinhas e tirar umas fotografias.
Após semanas de céu nublado e chuviscos, o sol brilhou para a nossa viagem. Encantámo-nos com o Mediterrâneo a meros metros de nós, casas de gente abonada a preencher todos os espacinhos junto ao mar, as cores constranstantes da terra vermelha e do mar e céu azuis, Cannes e a passadeira vermelha para o festival de cinema.
Antes de chegarmos a Nice o Billy informou-nos que o painel da velocidade, rpm, e combustível, tinha deixado de funcionar, juntamente com os piscas. Quase a chegar a Nice, planeámos estacionar e verificar o que se passava. Assim que o Billy desligou o carro, o visor do rádio e outras informações permaneceu aceso. O fecho eléctrico das portas não funcionava, e não se conseguia ligar o carro. Nós ainda teríamos de regressar a casa, de preferência neste dia. A Jamie e o Billy tinham o hostel reservado e uma viagem de autocarro no dia seguinte para fazer. Telefonámos à Jill a contar-lhe o que tinha sucedido a repetir para nós mesmos que não tínhamos feito nada ao carro que pudesse ter gerado este problema. A Jill aliviou-nos o sentimento de culpa quando nos disse que não era a primeira vez que acontecia isto. Ficou de ligar ao John que estava a 1 hora de sair do hotel para regressar a casa. Voltámos a descer ao piso -2 onde o Billy tinha ficado com o carro. O John ligou-nos pouco depois. Sorrimos entre nós, porque após 2 semanas na casa dele e da Jill, ele ainda era um mito para nós, porque ninguém o tinha visto até então. Disse-nos que desligássemos a bateria e voltássemos a ligar. Instruções cumpridas e eis que segundos depois estava tudo bem.
Só se pode chamar aventura se nem tudo acontece como previsto.
Acompanhámos o Billy e a Jamie ao hostel, onde descarregaram as malas e pelo sim pelo não quiseram certificar-se que o carro funcionava e acompanharam-nos de volta ao estacionamento. Se se lembram o Billy estendeu-nos a mão quando nos conhecemos. Agora tivemos direito a um abracinho, que nos emocionou. Foi esquisito dizer adeus. We were getting along just fine...
Voltámos a casa os dois sozinhos.
O John chegou no dia seguinte à nossa aventura. Finalmente, conhecemos o John. O homem que come bifes de 1,2 kilos para constar nos nomes da parede do restaurante e é piloto de helicópteros para o russo que é dono do Chelsea. O pai da família. O marido amado. O amigo esperado.
Além de grande em altura o John é uma grande pessoa, sorridente, bem disposto, de bem com a vida e quando está por perto há sempre brincadeira no ar.
As nossas tarefas alteraram-se um pouco e começámos a limpar a terra em redor das pedras de uma das paredes, num quarto do sotão. Cobertos de cima a baixo por pó, era obrigatório limpeza geral ao fim do dia.
A Sylvie do CS, conseguiu fazer um desvio para nos dar um beijinho, a caminho do ano novo com a mãe, em Nice. Até nos ofereceu uns biscoitos caseiros e um postal de Boas Festas!
Dois dias antes da partida apanhámos um susto com a bicicletas negligenciadas, quando o desviador da frente de uma deixou de se mover. Foi então que decidimos fazer uma limpeza e lubrificação adequadas antes da partida. Esse dia foi dedicado a arrumações, lavar e secar roupa e tratar das mulas.
O Simon chegou à hora de almoço do dia antes da nossa partida e só tivemos o resto do dia para conversar, conversar, conversar tudo o que conseguimos antes de dizermos um adeus precose para firmar uma amizade, que gostaríamos.
Foi estranho para todos sentir que era a última vez que fazíamos o que fazíamos juntos pela última vez.

Gonfaron - second week

Com o Natal a chegar há ainda mais coisas para fazer.
A árvore e a sala para serem decoradas. Os doces e as comidas para festejar em grande. Antes disso as compras, para que não falte nada. A lista do que vamos preparar para comer. As gémeas para cuidar. E a lista continua...
Dia 22 a Jill chegou a casa de manhã, com uma energia renovada. A Céleste tinha tido alta da sua bronquite e voltaria a casa nesse dia. Uma reviravolta nos nossos hábitos. O que nos agradou mais foi dormir tranquilos, sem aquele aparelho que apita porque uma delas fez barulho a bocejar, ou a falar durante o sono.
O reencontro das irmãs foi emocionante. Especialmente para a Céleste que esteve 5 dias consecutivos na cama sem poder sair de lá. Ainda vinha cheia de adesivos dos soros e tubagens que lhe enfiaram para respirar e não morrer à fome. Cheia de energia e sempre HAPPYYY - expressão da própria.
Decidimos que para o dia de Natal teríamos bacalhau. Ninguém conhecia o suficiente as tradições francesas, quanto mais cozinhá-las! Que seja um bacalhau como é tradição em Portugal.
Na véspera, comemos pitas no forno. Bebemos champanhe, umas quantas garrafinhas e quem quisesse tinha o vinho tinto da região. Constava no topo da lista das coisas importantes para o Natal. Como tal fomos atestar o garrafão. Tal qual numa bomba de gasolina, mas neste caso muito melhor. Esta ideia dos francius é genial.
No dia seguinte comemos uma espécie de perú, que é o que se come na América. Só que não era um perú, era um chapon. Um galo capado para a engorda especial destas festividades! A acompanhar tínhamos mashed patotoes, as cenouras no forno, e o que vai dentro do "peru" capado, mas que foi feito cá fora, com pão e aipo. Uma delícia, de comer e continuar a comer. E a beber!
Os docinhos, eram todos americanos, ou não estivéssemos numa casa americana, com mais helpers americanos. A Jamie ligava o super turbo e fazia trinta mil coisas ao mesmo tempo. Bolachas com pepitas de chocolate, sugar cookies e os pretzels com chocolate e amêndoas. Antes disso ainda tínhamos o cranberrie bread, que mais parecia um bolo. Super bueno! Como dizia a Maite de Logroño.
continuámos a comer e a beber como se não houvesse amanhã. Mesmo que fosse dia de comer o que há nos tupperwares no frigorífico, tínhamos sempre que fazer algo para acompanhar. Fazíamos sempre a mais, e no final voltámos a ter que guardar comida em caixas. Era um ciclo vicioso, que foi muito difícil de modificar. Para haver pessoal para tanta cozinhaça, às vezes as gémeas lá ficavam a ver o True Mud da Rua Sésamo.
De manhã tínhamos crepes, às vezes pão quentinho e croissants pure beurre.
Algures à volta do dia de Natal, fomos com o Billy e a Jamie visitar uma vila pequenina a poucos quilómetros de Gonfaron, para ficar a conhecer a zona e apanhar outros ares, Le Vieux Cannet. Antes de regressar fomos ao café a Gonfaron e ficámos a conhecer a lenda da vila. Gonfaron é a vila dos burros voadores porque: há muito tempo atrás um senhor recusou-se a limpar a rua em frente à sua casa para o desfile religioso passar. Se o santo quisesse passar que voasse. Uns dias mais tarde, no topo de uma montanha ali perto, estava ele montado no seu burrico, quando foram rodeados de moscas. O burro assustou-se e desatou na correria. De tal maneira que não parou quando chegou o precipício e caíram os dois dali abaixo. O povo que o viu passar logo disse: Querias que o santo voasse, então agora voas tu no teu burro!
No dia de Natal pela manhã as meninas abriram os presentes, com uma grande cobertura dos paparrazzi! Duas máquinas fotográficas e uma câmara de filmar. O Billy só não captou imagens do momento porque estava a dormir. Montes de presentes, e uma confusão de brinquedos e papel de embrulho espalhados pelo chão da sala.
No último dia do Billy e da Jamie lá fizemos uma caminhada que andávamos a prometer desde que ali chegámos. Fomos até Les Mayons. Os seus habitantes são os Mayonaises! Saímos antes de almoço e a meio do caminho estava tudo com fome. Chegámos, fotografámos e voltámos. Fomos esticando o polegar, só para ver se alguém parava para dar boleia. E não é que depois de jipes e jipazos, passa um carrito e pára para nos levar. Os 4 encafifados atrás, mais o casal à frente, falámos o caminho todo, meio francês meio inglês. Deixaram-nos em Gonfaron e voltámos a casa. Mais 1 km. Génial!