...a semana que passou

Ainda conseguimos tomar um chá num café francês à beira rio, com a Ana Alves, antes de sair de Tavira. Receber mais novidades e rever a silhueta natalícia do centro histórico.


Nós tentámos. A sério que tentámos.
Até desenrascamos umas caixas e já pensávamos em desmontar as bicicletas, para que elas viajassem connosco de um lado para o outro. Mas não nos parecia correto. Sempre que nos enfiássemos num autocarro ou comboio, sem quebrar a lei, teríamos que as montar-desmontar, carregar com caixas ou desencantar umas novas. Para quê? Saímos de Tavira, rumo ao Natal, sem as nossas meninas. Foi um desalento.


E tal como nos autocarros que tivemos que tomar, antes e depois do Caminho de Santiago, também este pequeno trajeto Tavira-Lisboa, nos soava a batota. Com uma neblina a dominar a manhã alentejana e um frio imaginário lá fora, desejávamos poder saltar deste autocarro condicionado a temperatura tropical e respirar ar puro...
Se antes desta nossa viagem pela Europa, este desconforto era inexistente, não vai ser agora que nos vamos tornar em esquisitos. Adaptamo-nos. Ao que nos rodeia e a nós próprios. Que outra solução existe, além de tudo largar e voltar ao rotineiro e familiar selim, com todas as surpresas conhecidas e medos compinchas que nele carregamos?

Cada um foi passar o Natal, com as respetivas famílias do centro e oeste. Se nos pudéssemos clonar, assim teria de ser, para dar resposta às diárias perguntas: "onde vão passar o Natal?".

De volta à Atouguia da Baleia, a consoada, foi à mesa, com a numerosa família quase toda reunida, de volta do bacalhau cozido, da canja, do bolo rei do Ricardo, dos camarões, vinhos, dos queijos, dos chás e dos cafés. Foi uma noite pacifica, de conversa animada que cruzava a mesa de uma lado para o outro...
A certa altura, recordei-me do Natal do ano anterior, do Jill e do Jonh, da Camille e da Celeste, do Billy e da Jamie, e imaginei onde poderiam estar eles agora....


Passeou-se pelas redondezas da vila. Apreciou-se as paisagens, as praias desertas e o mar selvagem, deste canto de Portugal. Mas ainda não me habituei a isto. A andar de carro e ver o mundo a correr do outro lado da janela, dentro da insegurança metálica do automóvel...
Ainda não me habituei a dormir na minha antiga e familiar cama, a acordar em locais que foram em tempos, sinónimo de segurança imutável.
Tento sempre que posso, fugir da TV e do mudo horrível que ela pinta. Será o mesmo mundo que pedalamos? Não me parece e por isso escolho não corromper as memórias com as imagens de um ecrã.
Mas não posso viver nas memórias e é altura de criar novas e seguir em frente. Foi por isso que os Nomadiclas se reencontraram na Bairrada, prontos para descomprimir destas novas sensações. Fazer a barba de 3 meses e 2000km atrás, também ajuda a voltar à normalidade....

...

Enquanto o Alexius se promenadeava por terras mais a ocidente, eu aproveitei a boleia para Tomar e por lá fiquei a passear o Natal. Jantar em casa da tia, almoço em nossa casa, jantar na casa da avó. Que mais se pode acrescentar, ou pedir, desta semana natalo-familiar? Uma corrida e estava com os avós, um passeio de meia hora e estava com tios e primos. Em casa tinha irmã e cunhado e sobrinha.


Entre os três crescidos, resolvemos aquecer o corpo na rua, em vez de ficar a tiritar no sofá. Toca de apanhar lixo, cortar lenha, ceifar silvas , fazer borralheiras ou queimadas, como gostarem mais! ...Essas coisas que as famílias fazem, quando se juntam pelo Natal!
À tarde, escolhíamos passar os últimos aconchegos do sol, na rua, antes de nos retirarmos para a frente da lareira.
Enchi a barriga de brincadeiras com a minha sobrinha, depois de achar que passado tanto tempo já não me conheceria. Nada disso! Lembrando-se ou não, oferece-se a quem fizer palhaçadas: corridas de carro-mão, cavalitas, cangurus, histórias à lareira, foram alguns hits! Alcançaram platina, num dia só!


O Zuco, qual prenda de Natal, deixava os "maus dias" a quem se levantasse primeiro: um belo presente com cheiro! Bébézuco, como era, ainda não percebia o limite rua/casa. Para dizer a verdade, não havia limites para ele.O mundo era um grande brinquedo para ele brincar. Olhar para ele era como ver uma explosão de alegria de viver:
Vivam as pedras!!!! (e zás, lá passava ele a roer uma na boca!)
Vivam as ervas!!! (e deitava-se a rebolar na erva, enquanto mastigava uma bocarra que tinha apanhado!)
Vivam as azeitonas (e engolia umas quantas, caroço e tudo!)
Viva a parede ( e lambia a parede)
Viva o chão!! ( e lambia o chão!)
Viva os donos!! (e lambia os donos)
Viva o caixote do lixo!! (e deitava-o ao chão e desaparecia metade lá dentro!, criando o cãoixo).
A minha sobrinha ralhava com ele "NÃO, Zuco maluco!!, não!"


E por fim, o Alexandre chegou antes da semana voltar ao início e juntou-se à brincadeira. Éramos seis, os reis!


...há um ano atrás: Gonfaron