Brodla - Oswiecim

Nós aceitamos que durante a viagem, os dias de chuva sejam por vezes inevitáveis. Mas isto é ridículo!


Conseguimos empacotar a tenda, relativamente seca. Mesmo com a chuva constante durante a noite, o recanto abrigado na floresta onde acampámos, salvaguardou-nos do pior. Mas bastou tocar com os pneus na estrada para começar o dilúvio. Sempre a chover, de cara molhada, com os pés a chapinhar dentro das botas e o frio a entrar pelas frestas da roupa. Verão? Não obrigado. Passámos directamente para o Outono sem passar pela casa partida e sem receber uns dias de sol. Aquilo que podia ser um belo passeio pelas florestas da Polónia até Auschwitz, tornou-se num dia miserável. Antes de entrar na cidade parámos num porto seguro de uma bomba de gasolina.

Felizmente, não estamos nas bombas de gasolina da Ucrânia onde WC não existe no vocabulário ucraniano. Aqui sabemos que vamos encontrar uma retrete e uma casa de banho que rivaliza ás vezes com as que encontramos em casa. Mas por muito decorada que as paredes estejam, por muito melodiosa que seja a música se faça ouvir, a nossa situação mantém-se. Ensopados até aos ossos!

Quando chegámos finalmente à cidade, estávamos desnorteados sobre o que fazer. O nosso próximo anfitreão era a duzentos quilómetros, a quatro ou cinco dias de distância. Esta chuva não parava. Tivemos que retroceder para as trincheiras e formular um novo plano.

Cirandámos um pouco pela cidade, bebericando um chá num café como desculpa para entrar no mundo digital. Umas googladas mais tarde, e seguíamos com novo destino. O Centro Internacional para Encontro dos Jovens. Um local construído pelos alemães para apoiar a reconciliação entre os jovens dos dois países e curar cicatrizes profundas deixadas pela guerra. Também tinham um parque de campismo e uns quartos. Foi neste ultimo que abrimos os alforges e montámos um estendal de roupa molhada, lona, botas, diferentes partes da tenda, e tudo o resto que estivesse ensopado.

Esta secura é confortável. Mas sabemos que é temporária. A nossa viagem está lá fora e não nos agrada pensar em ficar aqui até a chuva acabar. Pensamos numa alternativa...
Depois de tanto tempo a aprender como fazer as coisas durante esta viagem, achámos um equilíbrio entre campismo e couchsurfing que nos satisfaz, e que se traduz, mais ou menos, em pedalar durante a semana e fazer couchsurfing aos fins de semana! Supostamente, o Verão suportaria estes planos, mas este ano temos uma nuvem cinzenta em cima das nossas cabeças, que teima em seguir-nos. As perspectivas de continuação de chuva para a semana, levaram-nos a alterar os planos. Não tinha sido um dia agradável ao ponto de querer repeti-lo no dia seguinte, e no outro dia a seguir e no outro a seguir...
Assim sendo, começámos a preparar-nos para surfar mais sofás até chegar ao sítio que já tínhamos planeado conhecer. Enviar mensagens e pedidos de última hora.
Resta aguardar que alguém não se importasse de acolher-nos com tão pouco tempo de antecedência.

Krakow - Brodla

Acenos de adeus, e lá partimos nós para mais um dia de estrada. Adeus Ola, adeus Prezmec, esperamos encontrá-los outra vez, de todo o nosso coração.


Os impermeáveis postos, e as calças da chuva à mão perante o cenário pouco convidativo de nuvens cinzenta e humidade no ar.
Já para não falar das previsões meteorológicas para o resto da semana. Chuva, chuva fraca, períodos de chuva forte...bahhh, água por todo o lado. No fundo, mantínhamos a esperança de que ao deslocar-nos de um sítio até outro, o tempo melhorasse, por milagre.

Não, o S.Pedro decidiu por bem manter a semana molhada, e o nosso dia bem regado.
Quase se torna irónico quando na imediações de um campismo, procuramos água para cozinhar e lavar, sem sucesso, quando temos tanta água à nossa volta!
Ao fim e ao cabo acabamos sempre por arranjar água. Uma bomba de gasolina perdida no meio de uma estrada secundária que vem pôr um breve fim ao nosso dia de bicicleta.

O dia chuvoso trouxe emoções relacionadas com conforto, estar seco, beber ou comer algo quente, e sentir a chuva lá fora e não a escorrer pelo nariz. Com o calor que produzimos, chega o momento em que depois de tanto pedalar à chuva, os nossos casacos e calças impermeáveis estão molhados por fora, da chuva, e por dentro, da transpiração. Se não pararmos mantemo-nos quentes,( ao menos isso), mas assim que paramos tudo fica frio e pegajoso e desconfortável. Só pensamos: seco e quente. Fartos destes pensamentos, decidimos, pô-los em prática. A  estrada que seguíamos tinha floresta dos dois lados. Bastou-nos ter água e poucos quilómetros à frente já montávamos a tenda entre as árvores altas.

Depois de tanto campismo à selvagem, já nos tornámos picuinhas na escolha do sítio. Conseguimos arranjar melhor, dizemos para nós próprios e partimos em busca de outro poiso. Dependendo do dia! Neste dia, não estávamos para grandes procuras, estávamos ensonados, e a precisar de repor horas de sono , por isso decidimos parar mais cedo que o costume. Os quilómetros no mostrador eram poucos e nem chegavam aos cinquenta que costumamos estabelecer com satisfatório.


Preparámos a nossa refeição quente antes de entrar na tenda. Talvez tenhamos conseguido ver meia dúzia de minutos de uma série qualquer antes de adormecer! Com tudo nos seus lugares: a chuva e o vento lá fora e nós dentro da nossa casa amarela.

Krakow

Os nossos professores estão com mais tempo livre devido às férias, e com eles podemos visitar a cidade mais bonita do país. A ironia destes tempos é que chove quando pedalamos e faz bom tempo quando estamos parados. Um sinal para nos demorarmos na Polónia?


É sábado.O Przemek apenas tinha uma lição particular de inglês e às onze já estava de volta. Nós já íamos de conversa avançada com a Ola, quando ele se juntou a nós.

De máquina na mão e chanatas nos pés, de calças e mangas arregaçadas, aproveitando o calor do dia, lá fomos nós. Caminhámos por um trilho que seguia junto a um canal da cidade. Por alguma razão, esta grande cidade, mais parece um pedaço de floresta com casas escondidas entre as árvores. Mas aos poucos vamos entrando no centro, e Kraków começa a ganhar outra vida.
Um parque com um relvado enorme. Mas enorme mesmo. Ao seu redor, uma ciclovia e passeio pedestre satisfazia as necessidades dos mais desportivos, ou apenas daqueles que como nós, estão a passear.


Visitámos o castelo. Chamam-lhe castelo, mas para nós assemelha-se mais a um palácio do que a um castelo. Tanta decoração e berlicoques. Como estamos a fazer o roteiro turístico da cidade, os turistas e os grupos de estudantes, enchem as ruas e praças desta fortaleza imensa, no seio da cidade.

Algures junto ao exterior, os nossos anfitriões escolheram uma esplanada onde saciar as barrigas mais vazias. Um bife do tamanho de uma pizza! Fiquei satisfeito.


Tal como L'viv e Tarnów, também Kraków têm uma praça central. Mas estas praças, não são abertas, como estamos acostumados. Têm no centro um edifício, a câmara municipal, e a praça são os quatro cantos da câmara. Mas esta zona ainda estava mais repleta de estrangeiros. Não se ouvia polaco em lado nenhum e os cotovelos roçavam uns nos outros.

Seguiu-se o bairro judeu, com as ruelas, e ruinhas estreitas. As lojas de artesanato e os cafés culturais. Tem pinta esta cidade, e deve ser brutal estudar num ambiente destes.
Todo o dia a passear a pé pela cidade, com um calorzinho no ar. Apanhámos o eléctrico para casa e fomos abastecer os sacos com comida ao supermercado. À porta deste, comprámos mais uns frutos silvestres a um vendedor de rua. Temos que aproveitar que estamos por aqui para nos deliciar com estas bagas a preços simbólicos.


O Przemek e a Ola estiveram connosco durante todo o dia. Sempre bem dispostos, sempre na conversa. Nós, à medida que os íamos conhecendo melhor, fomos sentido uma nostalgia de viagem, suponho. Eles faziam-nos lembrar aquilo que mais gostámos de fazer quando estávamos a viver numa casa.
Com o som de música da Etiópia no rádio, o crepitar dos crepes feitos à moda da Ola, as brincadeiras com o gato, os chás, os sorrisos, as conversas..... É assim a partilha.

Tarnow - Krakow

Que bem que sabe, estar à conversa preguiçosa pela manhã, durante o pequeno-almoço. Em especial se estiver um dia da treta lá fora, com vento, chuva e frio. Mas quem corre por gosto, não cansa e é lá para fora que temos que ir. Passar o dia com a intempérie.


Abraçamos a Justyna e lá vamos nós a caminho de Kraków, a 90km daqui. Mais um belo dia de Verão na nacional nº4 da Polónia. É o caminho mais curto e por muito que nos custe, porque as estradas campestres são sempre melhores, com o tempo assim o melhor é mesmo chegar ao destino rápido. Por isso, auscultadores nos ouvidos, roupa impermeável vestida, capuz na cabeça, preso pelo mesmo capacete que nos protege os miolos.

O capacete... Não morremos de amores por ele. É incomodo e se usado durante muito tempo faz comichão. Às vezes a presilha faz impressão na garganta. Uma fonte de distração, que nos levou a não usá-lo durante toda a viagem até à Turquia. De vez em quando lá calhava e a consciência pesava mais do que o peso do capacete. Mas conta-se pelos dedos de uma mão o numero de vezes nos primeiros 7000km que foi posto na carola. Mas algo se passou depois do Nicolas. O francês com que nos cruzámos por acaso, enquanto fugíamos ao calor num vilarejo perdido no oeste turco. Bebemos um chá juntos. Trocámos uma hora de conversa. A partilha... Dissemos os adeuses. Ele de capacete, nós de lenço ou de cabelo no ar. No dia a seguir, como que num mutuo acordo silencioso, ambos pusemos o capacete na cabeça e de lá ainda não saiu. Agora já não faz impressão e sentimo-nos nus sem ele.
Não sei se foi por causa do Nicolas, mas é a ele que sinto que tenho que agradecer, por me inspirar a usar o instrumento que nos salvaguarda as ideias tresloucadas que temos.

Enquanto isso, a nacional nº4, continua igual como sempre. Cheia de tráfego. Longos altos e baixos. Aborrecida e monótona até mais não. Aqui a dificuldade é a estrada ser tão boa e eficaz. Se ao menos tivesse umas curvinhas...


Nos arredores de Kraków, as duas faixas transformam-se em algo de proibido para as bicicletas. Mas eis que as ciclovias vêm para ajudar os audazes a entrar no meio da confusão. Temos uma ideia do local onde temos que chegar e da sua posição geográfica. Mas é mais por instinto e "feelings" que tentámos encontrar a casa. Mesmo com a morada, os polacos a quem perguntamos direcções,ou arranham o inglês, ou estão bêbados. Passado alguns minutos, a grande cidade, mais parece um matagal de verde com casas a enfeitar tanta natureza. Será isto a razão de toda a nação achar esta, a sua cidade mais bela?
Depois de muitas voltas, lá encontramos um taxista. Estes não falham e cirurgicamente, cortámos por todo o verde arvoredo, até aos blocos soviéticos.

Já era de noite quando o Przemek nos vêm ajudar, cheio de energia e entusiasmo a carregar as tralhas para cima. Ola, veio pouco depois e minutos depois, os quatro estávamos arrumados na cozinha, com uma refeição quente nas mãos e uma sobremesa para acabar o dia com um sorriso. A conversa fluía com facilidade. Ambos são professores de inglês, para os mais graúdos e para os mais pequeninos. O seu inglês é impecável. Nós fazíamos um esforço monumental para conseguir conversar com eles e não deixar que o cansaço da estrada ganhasse.

Todas as pessoas que encontrámos durante esta viagem, são especiais, para nós, de alguma forma. Mas a Ola e o Prcemek, são únicos. Gostamos deles imediatamente.

Tarnow

Nós acordámos sem o despertador. Thomasz já laborava algures na cidade e a Yustina, terminava o seu turno da noite juntando-se a nós no pequeno-almoço e no café da manhã. Pelos vistos, na Polónia o café é rei. Algo que suspeitávamos depois dos últimos dias. Nas bombas de gasolina, viam-se chávenas gigantes (para nós) de café.
Outra suspeita nossa, relativamente, aos costumes da Polónia, também ficou resolvida.

Para quem é mais assíduo no blog, lembram-se dos primeiros e únicos polacos encontrados nesta viagem? Ainda estávamos em França, prestes a inicializar a nossa aventura mediterrânica. Nunca mais pensámos neles, até estarmos na Ucrânia e um ritual nosso decorrer. Antes de entrar num novo pais, costumamos conversar enquanto pedalamos, sobre o que sabemos desta terra. Estes nossos amigos de França e os couchsurfers que o Robert da Roménia iria receber a seguir a nós, faziam-nos crer que aqui é normal e banal viajar à boleia. E assim é. Justina é uma hitchiker veterana, com várias incursões pela Europa, incluindo a Ucrânia e duas visitas a Portugal.
Ao passear pela cidade com ela, descobrimos várias das suas estratégias de viagem. Apanhar boleia fora das cidades. Tentar ficar numa gasolineira se estiverem na auto-estrada ou se a noite chegar. Saber dizer não se as vibrações não forem boas ao conhecer o condutor.


Passeamos pela cidade, bebemos café no centro. Fizemos tempo até o Thomasz sair do trabalho e juntar-se a nós.
Tirámos as dúvidas com a Yustina, que nos explicou que os polacos não são muito dados a sorrisos e acenos fáceis. Preferem conhecer primeiro as pessoas antes de se fazerem amigas delas. São reservados em tudo o que fazem. Até ao pedir empréstimos ao banco. Nunca o fizeram muito e talvez por isso, a Polónia seja dos poucos países que anda a escapar à praga da crise. Seja lá o que isso quer dizer...

No regresso a casa, para uma soneca da tarde, o temporal que ameaçava descarregar durante toda a manhã, finalmente, transbordou. Uma chuvada e ventania monumental que por pouco não criaram um tornado no centro da cidade. Mas que belo tempo este que escolhemos para visitar a Polónia.
Na biblioteca da Justina e Thomasz, uns livros escritos por uma polaca que viajara durante quatro anos à boleia com o namorado, à volta do mundo. No regresso, escreveu um livro sobre a sua viagem. Ficou popular e "fugiu" de novo, desta rumo a África. Mas a vida acontece a todos e esta senhora de espírito livre não é imune a uma mortífera malária cerebral, apanhada no seio do continente africano.


Após um belo soninho da tarde, com a chuva lá fora, fomos todos até um antigo castelo no topo da cidade e de lá vimos o pôr do sol enquanto nos divertimos a tirar fotos das muralhas.
Passeamos pela cidade de novo, sempre à conversa e descobrimos um restaurante/café, com um ambiente e decoração à antiga.
Experimentámos umas sopas. Aqui, tal como na Ucrânia, os pieroguis também são populares.


De barriga cheia e quentinha. Um dia cheio e uns novos amigos. Foi assim em Tarnów.

Krasne – Tarnow

Quando espreitámos pela janela da nossa casa, as nuvens estavam mais que cerradas. Seria dia de chuva forte e mau tempo. Não havia volta a dar. Parece que as intempéries nos seguem...


Entrámos na aborrecida estrada número quatro, mas por pouco tempo. Na Polónia, quando nos aproximamos de uma cidade média/grande, parece que existem ciclovias para retirar as bicicletas do tráfego intenso das circulares e das entradas e saídas da metrópole. Nós seguimo-las.
Numa bomba de gasolina, abrigados da chuva enquanto enfiávamos a bucha da manhã, eis que um polaco olhou para nós e começou a falar. Não percebíamos patavina, claro está. Mas pelo contexto dos gestos e olhares do homem (e por experiência), respondemos: Portugália! Foi assim que vimos o primeiro sorriso deste país.

Numa ciclovia, mais à frente, os 9000km e a foto da praxe. Mas o tempo não estava para fotos elaboradas. Ficámo-nos pelo conta-quilómetros.

Saímos da cidade e voltámos à nossa casa polaca dos últimos dias. A número quatro, com as incontáveis colinas, subidas e descidas, rectas e tráfego cerrado. A seca do costume.
Não percebemos bem porquê, mas nesta estrada, o pão nosso de cada dia é encontrar um engarrafamento de vários quilómetros, algures no meio do campo ou junto a uma povoação de meia dúzia de casas. Passei o dia a olhar para o lado esquerdo da estrada, a imaginar como seria a vida de cada uma das caras que ia ao volante empachado.

De vez em quando, parava de chover, mas nem por isso deixávamos de ficar molhados. Sempre que um camião nos ultrapassava (ou um carro um pouco mais rápido), as gotículas de água na estrada levantadas pelos pneus vinham cair em cima de nós. E com elas, algo de novo para nós e, completamente, inexplicável: areia! Não demorou muito até os nossos sacos ficarem enfeitados com padrões de água e areia, os nossos dentes a roer os minúsculos grãos ou sempre que levávamos o cantil à boca, vá de terra! Ainda bem que lavámos as bicicletas ontem!


Parámos num supermercado para almoçar. junto a este, um MacDonalds despertou o interesse. Quais seriam os preços por cá? Voilá! Feitas as contas para os euros, foi impossível resistir aos mac-preços e à mac-dor-de-barriga que se seguiu depois de três hambúrgueres enfiados cá para dentro. Como se não bastasse a horrível estrada, o mau tempo e a misteriosa areia/poeira, eis uma dor de barriga para juntar-se à festa!
Os prazeres de um passeio de bicicleta, no Verão da Polónia...

Mas tínhamos alguém à nossa espera. E foi isso que nos aguentou durante o dia. Saber que iríamos, provavelmente, acabar o dia, secos dentro de quatro paredes a conversar e a começar a descobrir o país, com a nossa primeira anfitriã polaca.
Chegámos a Tarnow e na primeira bomba de gasolina e achámos melhor parar! Melhor limpar e secar os sacos e nós próprios antes de invadir e ocupar uma casa com as nossas tralhas e malas!
A Justyna ligou-nos, veio ao nosso encontro e depois das apresentações lá fomos nós. A casa dela era bastante perto, e seguimos todos a pé. Morava num antigo edifício construído com a mentalidade socialista.

Conversa com chá, na sala. Apenas por algum tempo, porque a noite já estava planeada! A Justina ía fazer o turno da noite, e o Thomaz tinha um jantar combinado com os amigos. Nós ficámos em casa a descansar. Tomar um banho comer... E quando estávamos prestes a adormecer, estendidos nos sacos cama, na sala, o Thomaz entra em casa. O inglês dele não era tão bom como o inglês impecável da Justyna, mas percebemos que ele achou piada a estarmos estendidos na sala. Com um sorriso, indicou-nos que ficaríamos no quarto e não aqui. Eles dormiam aqui. Nós achámos que estavam a ser simpáticos em emprestar-nos o quarto (às vezes couchsurfing é assim), mas dissemos que não era preciso, obrigado. Ele insistiu, salientando que ele e a Justyna, dormiam ali, normalmente. Nós agradecemos a cortesia, mas insistimos que não era preciso, obrigado.
À terceira ele remarcou e fez-se entender. Eles dormiam MESMO ali na sala. E o quarto que nós assumimos como o deles, era o quarto de hóspedes. Arrumámos as coisas e fomos recambiados, para a cama. Estávamos demasiado cansados para perceber o que se tinha passado.

Talvez noutro dia! Amanhã...

Zurawica – Krasne

Choveu toda a noite. E não foi pouco. De vez em quando acordávamos com o som das gotas a baterem no avançado da tenda. Mas depressa adormecíamos, seguros com as estacas e fios que prendiam a tenda, e com a lona que cobria as bicicletas e os alforges. Estávamos todos secos.

Saímos do campo de algodão polaco, rumo à estrada. Que diferença! Aqui, a estrada é boa, mesmo à chuva. As margens são mais do que suficientes para se andar de bicicleta sem medos de carros e camiões a fazer tangentes. Quase tão largas que podemos andar de bicicleta lado a lado, na conversa.

Mas o tempo é cinzento, a pergunta "onde está o Verão?" continua a fazer pop-up nas nossas cabeças e só queremos é despachar este dia. Pode ser que o tempo melhore.

No primeiro multibanco e supermercado, a festa de natal que é recebermos notas novas e coloridas, descobrir novos produtos a novos preços, fazer contas de cabeça para entender o seu valor em euros. Tentar perceber o que está escrito e o que está dentro daquela lata, se aquilo é um iogurte ou se são natas. É sempre divertido entrar num supermercado, pela primeira vez, num país novo.

Numa bomba de gasolina, armamos a barraca do almoço e da roupa suja. Vá de lavar e cozinhar. O sol espreitou o suficiente para levantar a moral e secar as roupas molhadas. Até as bicicletas levaram uma banhoca rápida. Bem que estavam a precisar. Mas ainda não é o banho de imersão que ambas necessitam para se recomporem.


Continuamos a viagem, rumo a Oeste, e ao longo do dia descobrimos qual o obstáculo do dia. A estrada! Que ela é fácil e as margens são seguras e suficientes, já foi dito. O que não foi dito, é que a estrada perde-se no infinito. A paisagem polaca, não é de planícies cicláveis, mas de colinas longas. Muito longas. Demorávamos dez ou quinze minutos a subir uma colina e ao chegar ao topo, podíamos ver que a estrada continuava recta durante mais dez quilómetros. Descendo a longa colina que acabáramos de subir, para logo de seguida subir outra longa e aborrecida colina. E no fim desta, vira o disco e toca o mesmo. Uma e outra vez. Todo o dia com a mesma paisagem de cultivo, a mesma chuva molha parvos, o mesmo tráfico intenso, e um revestimento na pele de poeira e areia fininha. Sem nenhuma diferença ou algo que chamasse a atenção. Algo que destoasse na paisagem. Rapidamente, deixámos de tomar atenção ao que nos rodeiava e tornámo-nos mais introspectivos. Algo que nos faça distrair deste aborrecimento de estrada. Mas não houve...


Ao final do dia, tentámos a nossa sorte nas estradas secundárias, para encontrar um local de campismo. O primeiro que tentámos tivemos que sair de lá, rapidamente. Enfiados numa densa floresta, as formigas eram aos milhares no chão fofinho de folhas. E picavam!
O segundo, perguntámos a umas senhoras que agricultivavam por ali, se havia problema em pôr a tenda debaixo das suas árvores vizinhas. Elas falavam, nós não entendíamos. Elas sorriam e pareciam que abanavam a cabeça. Achámos melhor não, visto que nem era seu, o terreno. O terceiro, já de volta à estrada principal, já serviu. Enredámos por um caminho de erva alta e terra batida e escondemo-nos das casas com umas árvores de um lado e os cereais plantados numa colina do outro. E por ali ficámos. A desenrolar a tenda. A fazer fogo. A cortar cebolas...

De repente, um tipo aparece por detrás das árvores a correr. Enquanto pensamos na melhor maneira de ir falar com ele e explicar a nossa situação e em quais os gestos que vamos utilizar, já ele passou por nós e continuou a correr. Sem sequer olhar para nós! Estava a fazer jogging. Ou não nos viu (improvável) ou fingiu que não nos viu. E enquanto nós falávamos sobre o acontecimento, ele volta. Deu a volta ao campo e está de regresso. Desta vez apanho no olhar dele um relance a nós e às nossas tralhas. Mas foi muito fugaz. Muito rápido. Ele continuou a sua corrida sem quebrar o ritmo e sem mudar de expressão facial. O que se passa com estes polacos? Todo o dia a acenar, a sorrir, a dizer olá. Nada. Nem olham, nem mudam de expressão, sem retribuir nenhum dos nossos gestos. Seremos nós, que já estamos demasiados habituados a chamar a atenção com os nossos trambolhos de duas rodas, ou será que a frieza e cultura ocidental, já nos é estranha? Ainda mais nestes países frios...

Oh! Saudades do agricultor grego que nos oferece leite de cabra fresco quando acampámos no seu campo de oliveiras!
Oh! Saudades do intrometido agricultor turco, que existe em todo lado e nos recebe com um sorriso e uma chá, independentemente, de línguas ou nacionalidades.
Oh, saudades da natureza e campos selvagens da Bulgária, Roménia e Ucrânia!

...mas que terra é esta?

Sukhovolya – Zurawica

O jantar na casa da Olga foi batatas com salada de pepino e tomate, o almoço no dia seguinte em casa da Olya foi batatas com salada de pepino e tomate e frango, e o pequeno almoço no dia seguinte foi..... batatas com salada de pepino e tomate e frango! Conclusões desta experiência: podemos comer batatas com salada de tomate e pepino, com frango a qualquer refeição, mesmo ao pequeno-almoço! Conclusão dois: Podemos comer o quisermos ao pequeno-almoço! Conclusão três: podemos comer o que quisermos a qualquer refeição!


Os pais da Olya encheram-nos as malas com batatas, cenouras, ovos e cebolas. Se mais coubesse mais ofereciam! Custou-nos dizer adeus a esta família que nos acolheu de braços abertos. Pai, mãe, irmão, cunhada e sobrinho.

Queríamos ficar mais tempo na Ucrânia, porque cada vez gostamos mais dela e das suas gentes. Só não gostamos é dos buracos na estrada! Mas no dia em nos aproximamos da fronteira a nossa cabeça já vai a pensar no novo país. Que língua se fala? O que sabemos dele? Que moeda se usa? E o nosso próximo país é a Polónia!!

O nosso regresso a casa começa aqui. Começamos a pedalar para oeste, com o sol nas costas e trinta e poucos graus à sombra!


Durante a nossa paragem para o almoço, foi só conversar com os locais. À entrada do supermercado parou um carro. De lá de dentro saem três homens e um mete conversa comigo. Quando percebeu de onde somos e quanto tínhamos pedalado até ali, não se calou mais até ir embora. Cada pessoa com quem se cruzava era mais uma a quem ele contava destes dois portugueses a viajar pela Europa. Mas não foi o único. O dono do supermercado e a sua senhora entraram no carro e pararam diante de nós com o vidro aberto. Insistiam em qualquer coisa e não sei qual das nossas respostas o fez arrancar com um ar determinado.  Voltou quinze minutos depois e de dentro do carro saiu um "olá, como estão?". O pai foi a casa buscar a filha que vive há sete anos em Portugal e que está a passar férias na terra natal. Mora no Bombarral, e ficámos com o contacto caso passemos por lá temos as portas abertas. Queria muito oferecer-nos um cafezinho, mas por ali não havia nada decente, dizia ela. Tinha trazido café de Portugal, mas com os presentes para toda a gente e o convites para irem a sua casa tomar uma bica, já não tinha mais. Isto são só surpresas, umas atrás das outras!!!

E chegámos à fronteira. De novo uma entrada na União Europeia!
Avançamos e vamos vendo uma fila, se se pode chamar fila ao amontoado esborrachado de gente que ali estava, a crescer. Nem queríamos acreditar que teríamos de ali ficar à espera! Um senhor ucraniano reparou em nós, e perguntou-nos pelos passaportes. Portugal!! Então vão por ali, disse ele, e lá fomos furando com "sorry" para aqui e para ali. A "fila" seguia por um lado e nós fomos enviados para o outro mesmo ao lado que estava vazio. O guarda veio com cara séria. Entregámos os passaportes, ele fala e não nos entendemos. Chama o outro, que diz "Portugal". Muitos silêncios e eles a olharem para nós. Os guardas e as dezenas de ucranianos na "fila" Nós a olhar para eles, e o segundo guarda diz que temos de esperar quinze a vinte minutos para passar! Ok, respondemos e preparamo-nos para nos recostar à espera e nisto eles abrem a porta de imediato. Eu continuo a achar que eles queriam que lhes oferecêssemos alguma coisa para diminuir a espera, mas como nós não ligámos...

Polónia! Lá passámos. À frente daquela gente toda, que sabe-se lá há quanto tempo estava à espera, e quanto iria lá ficar. Pelo caminho era ver pessoas a abrir malas e a trocar sacos de plástico dos casacos para a mala e vice-versa.

A estrada mudou como a noite para o dia! E logo na primeira vila os passeios acompanhavam a estrada, mais para dentro, e eram partilhados pelos peões e pelos ciclistas. Os primeiros polacos jovens que vimos, estavam de dedo estendido, a tentar apanhar boleia para a Ucrânia.

Na primeira gasolineira, não conseguimos evitar algumas lágrimas quando parámos. A mesma música comercial, os mesmos produtos, o mesmo cheiro....bem vindos ao mundo ocidental. Estamos a voltar para casa e já estamos com saudades do leste. Naquela gasolineira perdemos o ânimo para o resto do dia e o canivete velhinho que serviu para cortar a meloa do lanche.

Mais à frente, à saída da vila, acampámos num campo de algodão! No horizonte do lado oeste, as nuvens juntavam-se.

L'viv – Sukhovolya

A Olga quis que provássemos mais um prato típico da Ucrânia antes de partirmos. Antes de descermos, sentámo-nos mais uma vez à mesa a comer as delícias dos seus cozinhados. Pierogis recheados com carne.


Por volta das onze, comemos, a pensar que numa hora estaríamos de novo dentro de quatro paredes, mas noutra casa fora da cidade. A Olya esperava por nós. As indicações eram boas, mas a estrada.... além da buracada toda,e o sítio onde devíamos virar estava em obras e o trânsito não era permitido. Continuámos, achando que se virássemos mais à frente também lá ia dar. E deu, mas demos uma volta enorme.O ponto de encontro era um supermercado, e quando perguntávamos às pessoas pelo supermercado não sei quê, elas diziam-nos que havia outros antes pelo caminho. Interpretando a nossa pergunta como uma busca por um supermercado. Lá fomos, sempre a achar que faltavam três, ou cinco quilómetros, como nos diziam. Fizemos trinta no final, quando era suposto serem só quinze.

A Olya mora fora da cidade. Afinal, antes de sair da Ucrânia, ainda conhecemos outro estilo de vida, totalmente, diferente, numa vila escondida ao lado da estrada. Mora com a família e é economista.
Só o pai estava em casa. Ele e o Alexandre beberam meio litro de cerveja cada um enquanto conversavam e eu arrumava as bicicletas e as malas no quarto da Olya.
Comemos o almoço deixado para nós, batatas com panados e salada de pepino e tomate com maionese.
Como já tínhamos andado a passear pela cidade a Olya quis levar-nos, a conhecer sítios diferentes. A amiga Cristina juntou-se a nós e subimos até ao ponto mais alto da cidade. Um miradouro onde muitos apreciavam a vista e o sol. Na descida um casal de siberianos e nós descobrimos um esquilo no meio da folhagem. Fotos, e como quem não quer a coisa aproveitaram logo para perguntar se também podiam ficar em casa da Olya a dormir.


O famosos cemitério de L'viv, estava na nossa lista. Poetas, músicos, pessoas famosas e importantes estavam ali sepultadas. Para dizer a verdade, não reconhecemos ninguém mas gostámos da mistura de árvores e capelas e estátuas, de aspecto antigo e cheio de musgo. Uma atmosfera mágica!


Mas o dia ainda tinha mais para dar e o couchsurfing só agora começava! Dissemos adeus à Cristina e olá a novos amigos. Eram muitos, e não conversámos o suficiente para recordar os nomes. A nossa teoria estava certa. Há sol? Então vamos para a rua!!!! Ou melhor, não há neve? Então vamos para a rua!!! Piquenique junto ao lago. Nós e montes de grupos por ali espalhados, com churrascos, bicicletas, carros, fogueiras, lixeiras. Amigos ou família, Jovens ou mais velhos. Ao fim de semana ninguém fica em casa a ver televisão ou vai ao centro comercial. Uns levam manta, outros, sandes, outros peixe e todos juntos fazem um piquenique. Claro, que a garrafa de vodka não pode faltar.


Comemos uma sopa de peixe, que soube bem porque estava quentinha, sandes e salsichas e umas pipas, como é da praxe! O inglês deles era acanhado e pouca conversa fizemos. Ou eram envergonhados! Íamos descobrindo alguma coisa quando a Olya traduzia. Mais uma vez a dizerem-nos que a com a vida que levavam não podiam fazer uma viagem assim.......

Já agora, andamos a reparar que os mais velhos têm dentes de ouro, os mais novos pulseiras e fios!

A beber vodka potentíssima, a matar mosquitos e a estar com os amigos num piquenique ao pé do lago, que para nós durou até à meia noite. Eles por lá ficaram. Estávamos contentes com esta despedida de Ucrânia.

L'viv

Os antigos eléctricos sobre as velhas linhas, faziam-se ouvir atrás da janela. Estávamos em L'viv. Assim como Praga foi em tempos a "nova Viena", L'viv é a "nova Praga" em alguma literatura de viagem e em conversas de viajantes. E nós chegámos aqui. De bicicleta!


Mas o porridge, não espera por contemplações sobre vitórias conquistadas. A conversa com A Olga e o Taras era feita a muito custo, mas a língua da fome é universal. A Olga e a Ana desceram as escadas e atravessaram a rua, para comprar mirtilos e leite fresco, a uma senhora com uma banca improvisada ao lado da paragem do eléctrico.

Os nossos anfitriões tinham os seus afazeres e nós os nossos. Dia de passear pela antiga cidade, com o centro histórico poupado às invasões arquitectónicas soviéticas.

A casa da Olga é, praticamente, no centro, por isso após dez minutos, já passeávamos pelas praças, à volta dos parques, ao lado de estátuas e junto à ópera. Como cidade grande e importante que é, L'viv está sempre em movimento. O tráfico é constante. As pessoas nas ruas misturam-se com os turistas. E por ser sábado, uma invasão de branco feminino e de gravatas masculinas. É o mês do casamento e toda a gente quer as fotos do dia da união, ao lado dos monumentos mais lindos do país. Era impossível andar cem metros sem dar de caras com uma noiva e o seu comité, assim como dois ou três paparazzis contratados para documentar digitalmente o dia para todo o sempre. L'viv, cidade de casamentos.


Em sítios estratégicos, as placas a indicar os principais monumentos e igrejas, tornavam difícil uma pessoa perder-se na cidade. Mas nós tentámos. Visitamos livrarias, encafuámo-nos em feiritas de bugigangas, em ruelas apertadas que desembocavam em mercados de bairro. Deixámos que a cidade nos envolvesse. Apenas queríamos observar e não participar.


Só quando a barriga começou a chamar, é que decidimos participar na procura de um restaurante ou fonte de comida. Mas por procurar nos bairros errados, restaurantes foi algo que não encontrámos. Encontrámos sim, um fast food ucraniano. Tudo frito e reaquecido no micro-ondas, mas surpreendentemente, com algum aspecto de estabelecimento de família. Não entendíamos nada do menu. Apenas os preços eram convidativos. Esperámos ao lado, a ver o que as pessoas encomendavam, levavam e e pagavam, ficando depois a comer logo ali ao lado, no meio do passeio. Longe de parques, árvores ou bancos. Dissemos à rapariga para fazer uns "iguais àqueles! Fomos comer, sentados num muro e depois voltámos para uma segunda dose de calorias, fritos e gorduras, ou não fossemos nós Nomadiclas esfomeados.

Continuámos a deambular pelas ruas, até encalhar na esplanada de um café, com cobertores nas cadeiras para quem quiser passar um bocado mais "cozy", enquanto bebericava um café quente ou um chá. Como será isto no Inverno, cheio de neve?

É a eterna pergunta que nós fazemos, desde que entrámos na Bulgária e continuamos a viagem para Norte. Também é algo que já descobrimos preferir. Depois de pedalar no Outono, Inverno, Primavera e agora o Verão, já descobrimos a nossa estação favorita de pedaleio. O Inverno. Custa mais e dói mais quando faz frio. Mas tudo se torna mais acolhedor, não somos tratados como turistas cheios de dinheiro, as pessoas são mais (ainda mais!) acolhedoras e as casas mais quentes. Tudo está mais vazio e parece mais verdadeiro. Como será isto no Inverno?

Por ali ficámos a escrever, com uma caneca reconfortante e um cobertor nos ombros, ao som das vozes ucranianas dos nosso vizinhos e dos músicos de rua, em busca de mais uns trocos. Apenas lamentámos não ter ninguém connosco, com quem partilhar esta cidade e que nos pudesse esclarecer as dúvidas que tínhamos ao longo do dia, mas que por não perceber a língua, ficariam sem resposta.


Chegámos a casa, e fomos todos para a cozinha. Às ordens da Olga, toda a gente estava a trabalhar para receber a paga. Um belo repasto de batatas, molho de salada com queijo e ervas e mais compote, (sumo de fruta cozida).
Mas eis que depois de encher a barriga, a resposta às nossas preces toca à campainha. Sofia, a sobrinha da Olga, que não só fala inglês, como esteve seis meses a fazer Erasmus em Faro, e têm um fraquinho pela cultura e doçaria portuguesa! Pastéis de Belém e um galão era com ela! Com ela, podemos comunicar com a Olga e o Taras. Descobrimos que durante o fim-de-semana, estávamos todos a querer falar da mesma coisa, sem encontrar as palavras certas em inglês/ucraniano.
Com a Sofia fomos à noite passear mais um pouco pelo centro histórico. Descobrimos que existe um rio por debaixo da cidade, encoberto por anos e anos de construções e reinados. Já existem planos para o pôr a descoberto de novo. Descobrimos que o pai do Masoquismo viveu e cresceu por aqui. Deixámos aos mais ousados leitores do blog, a tentativa de adivinhar o que está dentro do bolso da estátua do senhor. No bar onde nos sentámos, foi inventada a primeira lamparilha. Finalmente, alguém que nos explicou os porquês, pôs os pontos nos "i's" e que por trabalhar na área do património cultural da cidade, nos explicou que L'viv, não aceita comparações com outra capitais europeias.

L'viv, não é Viena. L'viv, não é Praga. L'viv é... L'viv!

Stryi - L'viv

A manhã começou tarde e passou rápido.
O calor apertava e por volta das onze parámos, satisfeitos com os quilómetros, para uma bucha. Já pedalámos tantos quilómetros, então é justo parar por dez minutos para descansar e petiscar. Parámos em frente a um "café". O Alexandre entrou para explorar e procurar comida. Voltou e disse-me para entrar. E foi como entrar noutra dimensão. O espaço vazio no centro, as mesas e as cadeiras à direita, uma balcão alto com vitrine de vidro cheia de toucinhos, enchidos, e fritos. Dois tipos que bebiam uma cerveja, a televisão a passar as letras da música alta que enchia o ambiente. Música popular ucraniana em volume máximo. As janelas, as mesas, as cadeiras, a vitrine, tudo com folhos, e aplicações decorativas.


Voltámos à realidade. Mais um dia de pedaladas por estradas longas. Sem buracos, mas maçadoras de tão longas que eram. Os termómetros rondariam temperaturas de trintas e muitos. O trânsito constante ao nosso lado, a vir e ir para a grande cidade acompanhava-nos com bafos extra de tubo de escape.

Já o sol ia alto e avistamos uma bomba de gasolina. Paramos para almoçar. Assim, que chegámos e nos refugiámos na sombra, a moleza atingiu-nos. Procurámos casas de banho, torneiras, um sítio mais arejado, mas sem sucesso. A estação era só uma casinha, e as bombas. E muito calor! Tanto calor e nós ali no meio de nenhures a pensar que devíamos procurar um sítio melhor. Fizemos mais uma dose do nosso arroz bafiento com feijão. Ataques de barrigadas e risos. Qualquer coisa relacionada com o calor e a moleza pós refeição.

Quando regressámos à estrada foi porque já não aguentávamos mais e precisávamos de uma casa de banho. Pedalámos de bomba em bomba até encontrar uma aberta e com Wc. Wc, ar condicionado,água, caixotes do lixo, sanitas, e açúcar e sal com forma, que podíamos consumir por poucos euros. E assim ficámos mais umas horas a escrever posts no fresco do ar condicionado. Faltavam poucos quilómetros até L'viv, estávamos quase. Tínhamos tempo.

Na Ucrânia temos reparado que ou são poucos, ou inexistentes os caixotes do lixo. O lixo pelas ruas não assume proporções como noutros países, mas achamos que é só porque o país é grande e eles estão bem distribuídos. Também porque tendo as suas hortas e pomares, consumem menos plásticos do supermercado.


Fomos entrando na cidade. Blocos de prédios cinzentos nos arredores a marcar a memória do tempo do comunismo. Autocarros, e eléctricos por todo o lado. E o calor!
Pelas estradas de pedra de calçada, que nos fazem tremer e sofrer em cima do selim. Sem pensar acertámos na rua, e depois de uma breve visita ao mercado para fruta, fomos à procura da casa da nossa couchsurfer Olga. Morava num prédio, no meio da cidade. Muito antigo! Numa rua de prédios antigos colados uns aos outros. A casa era enorme, e a primeira impressão à entrada, foi de que estávamos num museu. Tão grande era o hall cheio de pinturas do Cazaquistão com lâmpadas em cima a iluminá-las. Quem nos recebeu foi o marido da Olga, Taras e o Bonia, o cão.

A Olga chegou pouco depois. Preparou-nos um fabuloso prato de batatas e bebemos compote, sem perceber muito bem o que era. Deitámo-nos cedo.  Conversámos pouco, porque o Taras não falava inglês e a Olga falava muito pouco. Mas divertimo-nos a tentar comunicar uns com os outros.

Vyshkiv - Stryi

A porcaria na noite anterior, com o lusco fusco e rabugice de sono e cansaço, passou ao lado. De manhã, acordámos, e além de ter tudo molhado dentro e fora da tenda, tínhamos aquele espectáculo triste de lixo, a acelerar a nossa vontade de ir embora, embalados pela descida que aí vinha.


Pois nem cem metros conseguimos fazer seguido sem travar e andar aos s's. Buracos por todo o lado, e crateras, e mais buracos. Só sentíamos frustração diante de uma descida tão boa, onde podíamos papar tempo e distância e, afinal, íamos à mesma velocidade com que a subíramos.Queríamos avançar, mas não conseguíamos. Já para não falar de que, a descida se seguiu de mais uma inclinada subida, quase até aos mil metros de novo, e a estrada continuou furada e a subir e descer com dez e doze por centos. Valeram-nos as árvores a fazer sombra e a aliviar o calor.

A lavoura dos campos continuou incansável. Às vezes lá bem no topo, lá bem no alto, dois ou três sentavam-se por momentos e cruzávamos olhares, sorrisos e acenos.
Muitas crianças guiavam e pastavam gado à beira da estrada. Duas pequenitas, duas varas verdes e cinco vacas gordas.
Outras vinham atrás de nós com a bicicleta a falar entre si e a fazer corridas.
Os cogumelos eram vendidos em cestinhas, ao lado dos mirtilos e leite fresco. Cogumelos do mesmo diâmetro de uma bola futebol!  As árvores de fruto e arbustos com bagas seduziam-nos com as cores e os frutos a pender de maduros.


Os trajes de trabalho variavam, mas a alegria do sol, põe o corpo todo à mostra. Uma senhora a três metros da estrada, jardinava nos seus canteiros em biquini.

Pelo caminho cruzámo-nos com operários e máquinas a arranjar a estrada!! A tentar!! Em vez de buracos, tínhamos em sua vez, pequenos montículos, tipos lombas redondas. É o que se chama substituir a nódoa pelo buraco...


Acabáramos de passar pela floresta mais virgem da Europa. Aos poucos fomos tendo mais e mais planície diante de nós. Até que, finalmente, uma estrada longa, recta, e sem altos no horizonte.

À hora de calor. nós a escondermo-nos do sol e toda a gente a fazer o contrário. Mães com bebés, crianças e mais crescidos, a passear pela rua como se não estivesse calor nenhum. Sem chapéus, de roupa o mais curta possível para aproveitar bem os raios de sol. As nossas cabeças magicaram teorias para explicar esta obsessão. Com tantos meses de neve e frio rigorosos, assim que vem o sol, ninguém fica em casa. Ninguém se tapa, ninguém foge ao calor. Abraçam-no com todo o ser.

Os dias de campismo, falta de água, levaram a desejos pecaminosos de ficar dentro de quatro paredes. Ambos vínhamos a magicar o mesmo e antes de chegarmos a Stryi, ficou decidido que iríamos experimentar as faladas pechinchas de hotéis na Ucrânia, que lêramos em blogues de outros aventureiros.

Na ponte antes de Stryi, mais um rio com gente ao banho. Onde houvesse um cantinho com pedras, areia, terra, havia um grupo de gente e a deleitar-se nos prazeres do banho!


As indicações levaram-nos a um hotel, que de preços baixos não tinha nada. Mas o porteiro percebeu-nos e lá nos encaminhou na direcção certa, que ficava ao virar da esquina. Um prédio antigo, transformado num hotel. Cada quarto, era como um apartamento, sem cozinha. Tínhamos quarto, sala de estar e casa de banho. Tudo com caldeira. As bicicletas ficaram na cave, junto à caldeira mãe.

 Deixámos a casa, e fomos à comida. Miudagem por todo o lado a passarinhar. Mais uma vez, tivemos dificuldade, em encontrar um restaurante. Ficámo-nos pela pizzaria. Com um atendimento cinco estrelas ficámos contentes na barriga e no coração. A empregada ensinou-nos a dizer obrigado em ucraniano, depois de dias e dias, desde a nossa entrada no país a distribuir spazivas russos, a pensar que era ucraniano. Dyakuiu é obrigada e Dobranotch, boa noite!

Berezovo - Vyshkiv

Acordar seco! É uma alegria quando tal acontece!
Fomos despedir-nos dos donos da terra que nos deixaram acampar. E partimos.


Seguimos sempre a acompanhar o rio.Quanto mais avançávamos, maiores se tornavam as montanhas. A paisagem era de perder a respiração.

As aldeias, no meio das montanhas dos Cárpatos, são como na Roménia. Todas coladas, umas a seguir às outras. Pelas ladeiras acima, de um lado, e abaixo, do outro, toda a gente trabalhava no duro, na preparação para o Inverno. De foices e ancinhos na mão, uns cortavam outros espalhavam e viravam e, finalmente, outros empilhavam. Chegámos a ver casas com todas as paredes exteriores, forradas de cima a baixo com pilhas de lenha! Para aproveitar o sol ao máximo, enquanto ele estava lá no alto, e não vem a neve cobrir tudo de branco durante muitos meses, usavam calções bem curtinhos, tronco nu e biquíni. Os bronzeados "avermelhados" são moda e usados com orgulho.


Quando víamos um café ou mercearia parávamos logo. Além de serem difíceis de identificar, eram muito raros. Para variar água com gás reinava por todo o lado. A maioria das vezes não havia, ou havia poucas e pequenas. E o que dizer das fontes?
Os carros paravam, as pessoas saíam, abriam as garrafas e despejavam numa sacudidela o que estava lá dentro. Amontoavam-se à volta da fonte à espera da sua vez, para encher uma garrafa ou dez garrafões. Nós, ao vermos isto, pensávamos, se toda a gente quer, é porque é boa. E punhamo-nos na fila também. Mais do que uma vez, fugimos para fazer as caretas correspondente ao sabor. Assim que púnhamos o gargalo ao bico, vinha logo um cheiro.... alternativo! E depois o sabor, e a finalizar as bolhas. Água de nascente aqui, não aconselhamos. Cheira e sabe a verdete e é gaseificada. Talvez sejam as tubagens da época soviética.

Hora do calor. Comprámos arroz., numa lojinha, e à hora de almoço parámos junto de outra a cozinhá-lo. Só depois de algumas colheradas e um sabor.. estranho, é que nos lembrámos de verificar a validade. Fora de prazo, em mais de um ano, mas além do intenso cheiro a mofo, não aparentava estar estragado. Comemos tudo, sem apetite, só para termos energia para continuar a subir.

Um motociclista italiano parou para abastecer e conversar connosco. Partira do norte italiano há dois dias e ia a caminho da Bielorrússia. Com o seu casaco de cabedal, Harley-Davidson e aspecto selvagem, era um verdadeiro "Easy Rider".

Nós voltámos aos Cárpatos. A seguir o rio que servia de praia para muitos que aqui vinham passar as férias e refrescar-se do calor. Voltámos às montanhas gigantes que nos faziam abrir a boca ao pedalar. Voltámos às imagens do povo Hutsul, a trabalhar nos campos. Uma imagem que de certeza não se alterara muito nos últimos duzentos anos. Os impérios que por aqui passaram, nunca se ralavam muito com eles e assim, puderam continuar com o seu estilo de vida auto-sustentável e muito mais ligado às estações e à Natureza.


Nós, estávamos ligados à estrada e quando finalmente chegou altura de subir a montanha, fizémo-lo com muito custo. Procurávamos, desesperadamente, por um spot de campismo que servisse de desculpa para parar de subir, mas nada feito. Foi às nove da noite que chegámos ao topo, a quase mil metros de altitude. Nem pensámos em descer, enfiámo-nos por um parque de merendas, com lixo espalhado por todo o lado (ou não fosse isto um topo de montanha) e descansámos os nossos corpos moídos.

Tyachiv - Berezovo

A tempestade passou por nós durante a noite sem nos afectar! Mas acampar junto a uma rio, em terras baixas, é certo que a alvorada é molhada e cheia de orvalho. A tenda precisa de ser seca antes de entrar nos sacos.

As dores nos joelhos continuavam. Com o espigão encravado era difícil mudar a altura do selim. Precisávamos de um profissional, mas onde encontrar alguém no sul da Ucrânia? Na primeira aldeola a aparecer-nos pela frente. Uma lojinha, um rapaz louro de olhos azuis, muitas marcas conhecidas e equipamento de aventura. Das traseiras aparecem uma chave inglesa maior que o guiador, um pano e um martelo. Depois de alguns movimentos mais primitivos, sucesso!!!


Primeiro dia oficial na Ucrânia. A língua escrita tinha alguns caracteres iguais à grega e à búlgara e por isso tivemos alguma facilidade nas primeiras leituras. Sem conhecer os hábitos alimentares, sempre que entramos num sítio os nossos olhos demoram-se nos produtos das prateleiras em busca de novidades para o palato.

Passámos o período de mais calor na cidade de Xyct e ao retomar a estrada fomos em direcção ao norte, às montanhas dos Hutsul, nos Cárpatos.


A paisagem plana depressa começou a mudar. Casas e verde misturavam-se em harmonia! O rio à direita, de leito largo, era sobre atravessado por pontes de madeira e cabos de aço. Ao vermos a primeira, quisemos parar e atravessar. Uns até à outra margem outros só até meio, mas sentimo-nos verdadeiros Indiana Jones. Pelo menos alguma adrenalina
 

No sopé da montanha, depois de muito procurar lá vimos uma senhora fora de casa e aproveitámos logo para pedir água. Encheu-nos o saco da água. Nove litros. E como assim que temos água, procuramos campismo, embalados pela água perguntámos logo por camping. Sem falarmos a mesma língua, ela apontou-nos o terreno em frente à casa, do outro lado da estrada.


Não podia ser melhor. Tirando a mosquitagem persistente, tínhamos um sítio plano, amplo e fofo de relva verde. Os donos sabiam que estávamos ali e a delimitar o campo tínhamos uma cerca. Não havia nada com que nos preocuparmos. Ou talvez houvesse, se as nuvens e a trovoada nos visitassem durante a noite.

Alguns camponeses ocasionais conduziam o gado, pelo caminho ao nosso lado e deitavam-nos umas espreitadelas tímidas, antes de seguir caminho.

Antes de ir dormir, vimos a lua a subir e encher-se redonda por detrás da montanha.

Mara - Tyachiv

As árvores altas sempre ajudaram a passar a noite protegidos do vento e da chuva forte que se fizeram sentir pela noite dentro.


Os ciclistas do dia anterior estavam certos e faltavam cinco quilómetros para o topo. O que só vem reforçar a nossa teoria de quem sente os quilómetros a passar no corpinho tem muito mais noção de distâncias. São normalmente, os ciclistas a dar-nos as indicações mais precisas em termos de inclinações e distâncias.

Quando começámos a descer, as casas e construções, em redor, eram todas de madeira. Cheirava a madeira acabada de cortar, uma cascata das alturas jorrava água e muitos pormenores trabalhados na madeira ocupavam por completo os nossos sentidos.


Ao paramos para comer um snack, um rapaz de bicicleta, não disfarçou a sua alegria ao ver-nos. Ficou radiante diante de nós a observar tudo, com um ar curioso. Tentou falar connosco. Percebemos que nos perguntava onde poderia arranjar uma bicicleta como as nossas. Queríamos dar-lhe alguma coisa. O seu entusiasmo era puro. Deu uma volta numa das bicicletas e depois do adeus continuou a olhar para nós de boca aberta.

Antes de sair do país parámos para o almoço e para nos escondermos do sol. Estava muito calor e não nos sentimos bem a secar e pedalar debaixo da torreira de um dia de calor como este. Parámos e vemos logo dois ciclistas de bicicletas cheias de malas. Trocámos meia dúzia de palavras. Eram da República Checa e apanharam um autocarro até aqui para pedalarem durante as férias até casa.

Eu fui às compras e o Alexandre ficou com as biclas. No supermercado, mais uma vez chamei a atenção e tive o segurança atrás de mim, até lhe falar em inglês e ele perceber que eu não era uma cigana! E já vão duas!
Lá fora, assim que cheguei o Alexandre sorria a contar-me de outros dois franceses de bicicleta que andavam a viajar como nós. Tinham os cabelos e barba todos louros de andar ao sol. Almoçaram ao sol e sairam para pedalar debaixo dele. A conversa foi mais demorada. Eram de Grounoble, como o Tom e a Pauline que encontrámos em Sicília, e o Nicholas que encontrámos na Turquia! E como estes, também tinham planeado dar a volta ao Mediterrâneo! As complicações na Síria alteraram os primeiros planos, e acabavam agora de dar a volta ao Mar Negro.


A fronteira! Vínhamos com a cabeça cheia de historinhas.
Na realidade sentimos alguma tensão ao aproximarmo-nos e só respirámos de alívio alguns quilómetros depois.
A fila a pé e de bicicleta, era composta por nós e pelos romenos.
Cada um que chegava, tirava a carteira punha uma nota no meio do passaporte, e punha-se na fila. Alguns iam directos à janelinha e enfiavam logo ali o passaporte à mistura com uma conversa cheia de sorrisos e boa disposição! Vimos sacos de pêssegos a passar e lá dentro ao lado da secretária uma caixa onde os guardas punham todos os "extras" ganhos no seu trabalho. E nós ali no meio, com um sinal a proibir subornos mesmo a centímetros das nossas caras. Eu a ler bribing em voz alta e o Alexandre a acotovelar-me para estar calada. Agora já sei o que quer dizer, mas não sabia na altura.
Passámos, mas enquanto os nossos passaportes foram revistados, de forma minuciosa, não conseguimos evitar o nervoso miudinho.

Logo ali à frente estava a nossa primeira vila. Sem dinheiro da Ucrânia e sem comida entrámos no banco para resolver este pequeno problema. Palavras, inglês, ucrâniano, mais alto, mais devagar, gestos. Sorrisos e......... dentes de ouro. As três primeiras pessoas com quem falámos incluindo o senhor do banco tinham dentes de ouro!
O banqueiro de sorriso branco e dourado fechou as portas e foi connosco até ao multibanco. Ahhh...

Entrámos logo no supermercado. Água! Água com gás, água com gás de sabor a limão, água com gás de sabor a maçã, água com gás pequena, água com gás de dois litros. Água sem gás. Ahhh! e foi buscar lá dentro uma garrafa. Que, de facto, sabia a água com gás, mas sem gás. Comprámos comida para o jantar sempre a comparar preços e afazer contas. É mais barato! É mais caro!

O senhor do banco apareceu de novo. Terminara o seu trabalho, e juntava-se a muitos outros numa cerveja na esplanada. Ajudou-nos com o caminho num esboço da estrada e acenou-nos adeus quando partimos.

Pela estrada fora com o rio à esquerda e plantações dos dois lados, começámos à procura de um sítio para passar a noite. Plano, sem estar ensopado, escondido da estrada. Só pedimos isto . E mais à frente dois ciclistas com bagagem! Uau! Mais dois!


Eram de Praga. Chamavam-se os dois João e eram muito simpáticos.Um deles era guia turístico e falava nove língas. O João. Falou-nos em português e tudo! Estavam de férias e convidaram-nos para as suas casas se, por acaso, fossemos por lá passar .

Poucos metros depois da despedida aos checos, já estávamos nós a empurrar as bicicletas para o meio das plantações. Ficámos entre a estrada e o comboio. Um senhor passou por lá mas reagiu como se fizessemos a coisa mais natural do mundo. O nosso primeiro dia na Ucrânia.