Vyshkiv - Stryi

A porcaria na noite anterior, com o lusco fusco e rabugice de sono e cansaço, passou ao lado. De manhã, acordámos, e além de ter tudo molhado dentro e fora da tenda, tínhamos aquele espectáculo triste de lixo, a acelerar a nossa vontade de ir embora, embalados pela descida que aí vinha.


Pois nem cem metros conseguimos fazer seguido sem travar e andar aos s's. Buracos por todo o lado, e crateras, e mais buracos. Só sentíamos frustração diante de uma descida tão boa, onde podíamos papar tempo e distância e, afinal, íamos à mesma velocidade com que a subíramos.Queríamos avançar, mas não conseguíamos. Já para não falar de que, a descida se seguiu de mais uma inclinada subida, quase até aos mil metros de novo, e a estrada continuou furada e a subir e descer com dez e doze por centos. Valeram-nos as árvores a fazer sombra e a aliviar o calor.

A lavoura dos campos continuou incansável. Às vezes lá bem no topo, lá bem no alto, dois ou três sentavam-se por momentos e cruzávamos olhares, sorrisos e acenos.
Muitas crianças guiavam e pastavam gado à beira da estrada. Duas pequenitas, duas varas verdes e cinco vacas gordas.
Outras vinham atrás de nós com a bicicleta a falar entre si e a fazer corridas.
Os cogumelos eram vendidos em cestinhas, ao lado dos mirtilos e leite fresco. Cogumelos do mesmo diâmetro de uma bola futebol!  As árvores de fruto e arbustos com bagas seduziam-nos com as cores e os frutos a pender de maduros.


Os trajes de trabalho variavam, mas a alegria do sol, põe o corpo todo à mostra. Uma senhora a três metros da estrada, jardinava nos seus canteiros em biquini.

Pelo caminho cruzámo-nos com operários e máquinas a arranjar a estrada!! A tentar!! Em vez de buracos, tínhamos em sua vez, pequenos montículos, tipos lombas redondas. É o que se chama substituir a nódoa pelo buraco...


Acabáramos de passar pela floresta mais virgem da Europa. Aos poucos fomos tendo mais e mais planície diante de nós. Até que, finalmente, uma estrada longa, recta, e sem altos no horizonte.

À hora de calor. nós a escondermo-nos do sol e toda a gente a fazer o contrário. Mães com bebés, crianças e mais crescidos, a passear pela rua como se não estivesse calor nenhum. Sem chapéus, de roupa o mais curta possível para aproveitar bem os raios de sol. As nossas cabeças magicaram teorias para explicar esta obsessão. Com tantos meses de neve e frio rigorosos, assim que vem o sol, ninguém fica em casa. Ninguém se tapa, ninguém foge ao calor. Abraçam-no com todo o ser.

Os dias de campismo, falta de água, levaram a desejos pecaminosos de ficar dentro de quatro paredes. Ambos vínhamos a magicar o mesmo e antes de chegarmos a Stryi, ficou decidido que iríamos experimentar as faladas pechinchas de hotéis na Ucrânia, que lêramos em blogues de outros aventureiros.

Na ponte antes de Stryi, mais um rio com gente ao banho. Onde houvesse um cantinho com pedras, areia, terra, havia um grupo de gente e a deleitar-se nos prazeres do banho!


As indicações levaram-nos a um hotel, que de preços baixos não tinha nada. Mas o porteiro percebeu-nos e lá nos encaminhou na direcção certa, que ficava ao virar da esquina. Um prédio antigo, transformado num hotel. Cada quarto, era como um apartamento, sem cozinha. Tínhamos quarto, sala de estar e casa de banho. Tudo com caldeira. As bicicletas ficaram na cave, junto à caldeira mãe.

 Deixámos a casa, e fomos à comida. Miudagem por todo o lado a passarinhar. Mais uma vez, tivemos dificuldade, em encontrar um restaurante. Ficámo-nos pela pizzaria. Com um atendimento cinco estrelas ficámos contentes na barriga e no coração. A empregada ensinou-nos a dizer obrigado em ucraniano, depois de dias e dias, desde a nossa entrada no país a distribuir spazivas russos, a pensar que era ucraniano. Dyakuiu é obrigada e Dobranotch, boa noite!

1 comentário:

Nuno Vieira disse...

Enquanto motociclista, vislumbro algumas semelhanças entre Portugal e a Ucrânia, pelo menos nas estradas! Não existe nada como a tradição que também nós executamos com mestria, de substituir uma depressão (buraco) por um relevo! É uma arte passada de geração em geração! É o nosso grande legado à Europa do "primeiro-mundo"! Vivam as tradições Lusas espalhadas por essa Europa fora...