L'viv

Os antigos eléctricos sobre as velhas linhas, faziam-se ouvir atrás da janela. Estávamos em L'viv. Assim como Praga foi em tempos a "nova Viena", L'viv é a "nova Praga" em alguma literatura de viagem e em conversas de viajantes. E nós chegámos aqui. De bicicleta!


Mas o porridge, não espera por contemplações sobre vitórias conquistadas. A conversa com A Olga e o Taras era feita a muito custo, mas a língua da fome é universal. A Olga e a Ana desceram as escadas e atravessaram a rua, para comprar mirtilos e leite fresco, a uma senhora com uma banca improvisada ao lado da paragem do eléctrico.

Os nossos anfitriões tinham os seus afazeres e nós os nossos. Dia de passear pela antiga cidade, com o centro histórico poupado às invasões arquitectónicas soviéticas.

A casa da Olga é, praticamente, no centro, por isso após dez minutos, já passeávamos pelas praças, à volta dos parques, ao lado de estátuas e junto à ópera. Como cidade grande e importante que é, L'viv está sempre em movimento. O tráfico é constante. As pessoas nas ruas misturam-se com os turistas. E por ser sábado, uma invasão de branco feminino e de gravatas masculinas. É o mês do casamento e toda a gente quer as fotos do dia da união, ao lado dos monumentos mais lindos do país. Era impossível andar cem metros sem dar de caras com uma noiva e o seu comité, assim como dois ou três paparazzis contratados para documentar digitalmente o dia para todo o sempre. L'viv, cidade de casamentos.


Em sítios estratégicos, as placas a indicar os principais monumentos e igrejas, tornavam difícil uma pessoa perder-se na cidade. Mas nós tentámos. Visitamos livrarias, encafuámo-nos em feiritas de bugigangas, em ruelas apertadas que desembocavam em mercados de bairro. Deixámos que a cidade nos envolvesse. Apenas queríamos observar e não participar.


Só quando a barriga começou a chamar, é que decidimos participar na procura de um restaurante ou fonte de comida. Mas por procurar nos bairros errados, restaurantes foi algo que não encontrámos. Encontrámos sim, um fast food ucraniano. Tudo frito e reaquecido no micro-ondas, mas surpreendentemente, com algum aspecto de estabelecimento de família. Não entendíamos nada do menu. Apenas os preços eram convidativos. Esperámos ao lado, a ver o que as pessoas encomendavam, levavam e e pagavam, ficando depois a comer logo ali ao lado, no meio do passeio. Longe de parques, árvores ou bancos. Dissemos à rapariga para fazer uns "iguais àqueles! Fomos comer, sentados num muro e depois voltámos para uma segunda dose de calorias, fritos e gorduras, ou não fossemos nós Nomadiclas esfomeados.

Continuámos a deambular pelas ruas, até encalhar na esplanada de um café, com cobertores nas cadeiras para quem quiser passar um bocado mais "cozy", enquanto bebericava um café quente ou um chá. Como será isto no Inverno, cheio de neve?

É a eterna pergunta que nós fazemos, desde que entrámos na Bulgária e continuamos a viagem para Norte. Também é algo que já descobrimos preferir. Depois de pedalar no Outono, Inverno, Primavera e agora o Verão, já descobrimos a nossa estação favorita de pedaleio. O Inverno. Custa mais e dói mais quando faz frio. Mas tudo se torna mais acolhedor, não somos tratados como turistas cheios de dinheiro, as pessoas são mais (ainda mais!) acolhedoras e as casas mais quentes. Tudo está mais vazio e parece mais verdadeiro. Como será isto no Inverno?

Por ali ficámos a escrever, com uma caneca reconfortante e um cobertor nos ombros, ao som das vozes ucranianas dos nosso vizinhos e dos músicos de rua, em busca de mais uns trocos. Apenas lamentámos não ter ninguém connosco, com quem partilhar esta cidade e que nos pudesse esclarecer as dúvidas que tínhamos ao longo do dia, mas que por não perceber a língua, ficariam sem resposta.


Chegámos a casa, e fomos todos para a cozinha. Às ordens da Olga, toda a gente estava a trabalhar para receber a paga. Um belo repasto de batatas, molho de salada com queijo e ervas e mais compote, (sumo de fruta cozida).
Mas eis que depois de encher a barriga, a resposta às nossas preces toca à campainha. Sofia, a sobrinha da Olga, que não só fala inglês, como esteve seis meses a fazer Erasmus em Faro, e têm um fraquinho pela cultura e doçaria portuguesa! Pastéis de Belém e um galão era com ela! Com ela, podemos comunicar com a Olga e o Taras. Descobrimos que durante o fim-de-semana, estávamos todos a querer falar da mesma coisa, sem encontrar as palavras certas em inglês/ucraniano.
Com a Sofia fomos à noite passear mais um pouco pelo centro histórico. Descobrimos que existe um rio por debaixo da cidade, encoberto por anos e anos de construções e reinados. Já existem planos para o pôr a descoberto de novo. Descobrimos que o pai do Masoquismo viveu e cresceu por aqui. Deixámos aos mais ousados leitores do blog, a tentativa de adivinhar o que está dentro do bolso da estátua do senhor. No bar onde nos sentámos, foi inventada a primeira lamparilha. Finalmente, alguém que nos explicou os porquês, pôs os pontos nos "i's" e que por trabalhar na área do património cultural da cidade, nos explicou que L'viv, não aceita comparações com outra capitais europeias.

L'viv, não é Viena. L'viv, não é Praga. L'viv é... L'viv!

2 comentários:

Nuno Vieira disse...

Já pesquisei o que está no bolso do Sr. Valha-me Deus...

Anónimo disse...

Anaaaaaaaaaaaaaa, não me digas que também meteste a mão no bolso do homem! Andas muito atrevida! jokas
MM