Baia Mare - Mara

Como o despertar nesta casa é sonolento e demorado, as despedidas aconteceram às dez e meia da manhã. Demasiado tarde para pedalar. O calor do dia anterior continuava a fazer-se sentir. Demasiado calor. Dissemos adeus ao Robert, mas pedalámos só até ao jardim da noite anterior. Encostámo-nos a um banco, à sombra das imensas árvores e por ali ficámos.


O parque era enorme. E algures por ali, alguém devia estar a alugar carrinhos para as crianças, porque era raro vermos uma a andar a pé. Todas pareciam estar a ter a sua primeira aula de condução.
Mesmo à sombra, o bafo do calor e a humidade tropical, tornaram a tarde, num sonho por praias de água fresquinha.

Quando ganhámos forças para enfrentar a estrada, lá para as quatro da tarde, fizémo-lo a passo de caracol suado. Ainda para mais, a subida do dia avizinhava-se longa e esforçada. Tão longa que ainda estavámos nas curvas e contra curvas a cinco quilómetros, quando o lusco fusco apareceu. Tinhamos que encontrar algum sitio onde acampar. Mas tudo era inclinado e densamente florestado.


Nas bermas da estrada grupos de pessoas de todas as idades caminhavam ou esperavam na paragem do autocarro. Pela roupa e pelo ar de praia, imaginámos que viriam do rio. Ao nosso lado, sempre a correr, ouvíamos o rio. Às vezes, no meio de uma estrada secundária, dois ou três rapazes em calções de banho e de cabelo molhado, andavam de pés descalços. e de cara contente.
Muitas estradas até às margens do rio, e da estrada, conseguíamos vislumbrar por segundos, numa brecha da vegetação cerrada, um bocadinho de água. Há quanto tempo não vamos dar uma mergulhaça...

Bem lá em cima, umas construções antigas e com propósito esquecido, apareceram. Deviam ser a retrete da montanha, porque o espaço até era bom para acampar, mas a porcaria espalhada impedia-nos de o fazer.

Junto ao chafariz onde a maior parte dos automóveis paravam para encher os garrafões, uns degraus escondidos embrenhavam-se na vegetação. Um espaço livre de vegetação e à sombra fresca das árvores, com algumas mesas e bancos por ali espalhados. Uma área de piquenique, com a familiar pegada humana, o lixo. Porque é que é continuamos a "embelezar" a natureza, nos sítios onde ela se encontra mais selvagem?

Mas um pouco de empurrão para fora da zona, ainda na clareira e eis que um pequeno milagre imaculado nos permitiu acampar. A noite chegou rápido, a a escuridão envolveu-nos por  completo. Estávamos numa montanha, no meio da floresta com um riacho a correr ao nosso lado e o cheiro do lixo humano não muito longe de nós. As imagens de ursos assassinos com machados de serial killer são inevitáveis. Mas já não ligamos ao nosso subconsciente assustado.

Dentro da tenda, adormecemos com o vento a ganhar força no topo das árvores e com os trovões e relâmpagos ao longe.

1 comentário:

Nuno Vieira disse...

Uma das fotos no Flickr tem galhofa... Afinal não sou só eu! Existe um galhofeiro lusitano em cada um de nós!