Messolonghi - Astakos

As despedidas tinham ficado para a noite anterior. Pela primeira vez dissemos adeus a um anfitrião e nós é que ficámos em casa para fechar a porta e passar a noite.

Malas montadas, bicicletas prontas e lá vai a chave para debaixo da porta.

Não sei se alguma vez fizemos isto na nossa viagem, mas acho que não. Pela primeira vez, estávamos a voltar para trás! Não pela mesma estrada, mas para Norte em vez de Sul. E porquê?
O gorro que ficou perdido nas montanhas de Zitsa foi encontrado dias depois por Kostas na traseira do carro. Enquanto nós pedalávamos sem o gorro para sul, durante o fim-de-semana  o Kostas e a Anna recebiam em sua casa uns amigos que conheceram à anos através do Couchsurfing. Por acaso esses mesmo amigos não nos podiam receber nas datas que prevíamos passar na sua terra, visto estarem com o Kostas. Combinou-se a coisa por sms's e email's. Atrasámos os nossos planos efémeros mais um dia, pois os amigos do Kostas traziam o gorro de volta para o sul, no seu regresso a casa, e nós sempre acabávamos por "surfar" no sofá deles. Fácil! Por sinal, este nosso anfitrião de Astakos também se chama Kostas. vive com a sua mulher Chryssi e o seu rebento de seis meses.


Astakos, vila piscatória em tempos, esconde-se por entre montanhas, enseadas e ilhas na costa ocidental da Grécia. Desde Messolonghi a estrada era pacata, rodeada de plantações e matagal deixado à natureza.

Como a distância não era assim tanta, fizemos um pequeno desvio e fomos visitar Manus ao local de trabalho, num vilarejo de que já não nos lembramos o nome.
Para entrar no banco, um elaborado e minúsculo sistema anti-ladrão, com uma cabine que deixa entrar apenas um de cada vez e faz um exame anti-metais. O banco já foi roubado três vezes, daí o porquê do mecanismo.
Trocámos mais uns adeuses e abraços a este natural de Creta, montámos a bucha do almoço e seguimos caminho.


O Manus avisou-nos para termos cuidado na estrada com os porcos e as vacas. E assim foi. Pelo caminho lá aconteceram umas rasantes aos animais!

Ao chegar a Astakos, comunicamos a nossa presença por sms à Chryssi e recebemos as direcções logo a seguir. Ainda nem 50 metros pedalados e uma lambreta com um barbudo sorridente mete-se ao nosso lado, a dizer que a Ana parece uma grega a comer pão enquanto pedala, ao mesmo tempo que guiava e cumprimentava quem passava. É assim o Kostas de Astakos! Conhece toda a gente da terrra, mas trabalha debaixo de água. É mergulhador profissional e o seu dia a dia é com os viveiros de atum, que a companhia traz da Líbia para os fazer crescer na Grécia e exportar para o Japão! É assim a globalização...
Chryssi, psicóloga de profissão há já dez anos, dá conta dos adolescentes e dos problemas familiares desta pequena vila, assim como dos prisioneiros jet set's da prisão de Patras e ainda tem tempo para ser mãe a tempo inteiro.
Kostas e Chryssi tentam viver da terra tanto quanto possível, plantando a pouca terra que o senhorio lhes dá e com uns animais emprestados e partilhados por amigos.

Um serão em conversa, com os vinhos, os legumes da terra, um peixinho no forno, os queijos, a música e com o respirar suave do bebé de seis meses.
Pela primeira vez nas nossas vidas temos o prazer de conhecer... Hércules!

Messolonghi

A casa só para nós e um despertar sem horários, durante dois dias.
O Manus fez a a gentileza de ir dormir com a namorada e deixar-nos a tomar conta da sua casa. Ao final da noite era engraçado despedirmo-nos à porta e sermos nós a ficar lá dentro.

Demos uma banhoca valente às bicicletas, que já estavam a precisar.
Demos um salto ao mecânico que nos conferiu o básico dos básico por dois euros. Isto sim são bons preços, já para não falar da eficiência e simpatia com que nos atendeu.


Fizemos os almoços para o trabalhador que chegava do banco, só depois das quatro da tarde. Nós.. enganávamos a fome com um snack ao fim da manhã e assim almoçávamos todos juntos. Mesmo a maneira grega.

Num dos dias fomos passear por Messolonghi. Visitámos o museu. O nosso segundo desta viagem.
Entrámos no museu faltavam cinco minutos para fechar. O guarda mesmo assim deixou-nos visitar, porque erámos os primeiros visitantes da tarde. Sem podermos tirar fotografias contentámo-nos em olhar e ouvir o que o Manus dizia e o que o guarda dizia. Pinturas enormes de cenas bélicas a representar a resitência oferecida pelos gregos em Messolonghi contra as invasões turcas. A acompanhar as histórias dasfaçanhas gregas, que apesar de em menor número conseguiram sair vitoriosos. Uns originais outros cópias. E às vezes víamos o mesmo quadro duas vezes nas duas versões, uma no piso de cima outra no de baixo.
O Lord Byron mais uma vez a marcar presença. Na sua viajada vida de artista, acabou por morrer aqui em Messolonghi. O museu continha um sem número de esboços, desenhos, pinturas com diferentes, de doferentes ângulos só da sua maravilhosa face. como um estudo.
Numa paragem demos uns toques na bola em jeitos de voleibol. Tanta azelhice só podia ser corrigida com um professor. Sérgio ajuda-nos!
As antigas salinas e casas de pescadores. Quantas vezes repetimos que se não fosse a lígua estávamos em Portugal. A recta de estrada com passeio para pedestres e bicicletas, com águas baixas dos dois lados, flamingos, garças, e as divisões típicas de salinas. Uma Tavira no meio do Mediterrrâneo.
O final do dia foi a altura ideal para passear entre as casas dos pescadores, sombras e luz, água e terra batida, cães e galinhas, velharias, ferrugem, lixo. Tudo é arte visto detrás de uma objectiva.


No segundo dia, juntámo-nos à trupe de artistasa fotgráficos de Messolonghi e andámos a espalhar posters da sua primeira exposição. Conhecemos o famoso fotógrafo da terra, Vassili e no meio de todos os fotógrafos amadores/profissionais andámos misturados com espanhóis, gregos que queriam praticar o italiano, gregos ciclitas professores de italiano. Falava-se a língua que saía ora espanhol, ora italiano, ora inglês, ainda com tempo para mais umas lições de grego. O Manus fez questão de nos ensinar o básico do calão grego.


À noite, subimos até ao topo do monte mais alto ali da zona e tomámos um chá biscoitos e peçados de fruta em calda de açucar, que é um dos doces preferidos dos gregos. Jantámos frango grelhado. Deu para matar saudades.
A Cristiana fez-nos um doce delicioso cheio de frutos sêcos, típico da sua terra lá mais para o norte, no meio das montanhas.

Os Incrivéis fizeram parte da nossa lazeira pós almoço. Muitas fotos e conversas sobre fotografia, a Turquia, comida e como cozinhar, e a boa disposição do Manus e da Cristiana.

Por muito que possamos afirmar que tanto couchsurfing deixa-nos cada vez mais relaxados com as diferentes pessoas que encontramos, é verdade que há pessoas que nos fazem sentir em casa imediatamente. Como se estivéssemos a visitar amigos nossos, e não a encontrá-los pela primeira vez. Foi assim com o Manus e a Cristiana.

Rivio - Messolonghi

Despertámos com os patos no lago e limpámos a pouca chuva da noite na nossa tenda.

Ao sair, do campismo selvagem, o pastor e a sua mulher interromperam os seus afazeres matinais e ofereceram-nos leite de ovelha fresco! Por razões até hoje desconhecidas, mas encavacadas, recusámos. Assim como ao seu convite, minutos após, de ir beber café com eles. Talvez fosse a chuva que começava a aumentar de intensidade e o facto de querermos chegar a boas horas ao nosso destino.

Dia cinzento e de chuva. Não estava frio, mas nem por isso estava mais agradável.
Durante todo o dia a Lei de Murphy verificou-se. Se tirávamos a indumentária de astronauta impermeável, a chuva recomeçava ou aumentava. Se os vestíamos, a parava de chover e começavam as subidas. Um dia de encontros e desencontros com a chuva e a roupa.


Descemos as montanhas, por entre um desfiladeiro, até às planícies de Messolonghi. Como a estrada era boa e até não chovia, entusiasmámo-nos e não pusemos mão no travão. Resultado: lá em baixo, depois de passar em cima de buracos "sempre a abrir", a roda dianteira do Alexandre começou a chiar e a fazer barulhos esquisitos!

Parámos num café com ares de padaria, olhámos para a roda que nem uns entendidos e descansámos um pouco, antes de acabar os poucos quilómetros do dia.

Entre chiadeiras de rodas e chuvas em planícies de sal, chegámos a Messolonghi e esperámos pelo nosso anfitrião da zona, Manus.


Manus, fotógrafo nos tempos livres, banqueiro do povo em horas de serviço e nadador longa distância em mares planos. Trocámos falatórios e conversetas, ficámos a saber que era de Creta e que por lá o tempo era um paraíso. Tinha acabado de chegar de umas mini-féria em Istambul com o seu irmão.
A casa era pequena, mas nem por isso suficientemente pequena para nós os três. Não havia problema em dormirmos no chão, mas Manus não pensou duas vezes. Ofereceu-nos o seu quarto, arrumou sacola e rumou até à casa da sua namorada, Cristiana, para passar por lá a noite e deixar-nos à vontade.

A Cristiana veio buscá-lo, jantámos uns crepes, dissemos adeus ao nosso anfitrião e fechámos a porta.

Arta - Rivio

Despedimo-nos da primeira família grega a acolher-nos, em casa e no café do pai.
Arta voltou à sua rotina habitual de sábado. Dia de compras/mercado com clientes a entrar e a sair da lojas, carregando sacos, saquetas de papel. Nós também, rua acima rua abaixo  à procura da comida para  fim de semana. Perdemo-nos nas compras e acabámos por sair de Arta, muito mais tarde do que o planeado.

A estrada que seguimos ficava junto ao golfo e volta e meia avistávamos água. Sabíamos que pelo caminho que queríamos seguir encontraríamos dois lagos e planeávamos acampar junto do primeiro.
A estrada serpenteava pelo monte acima e começámos a avistar o golfo do nosso lado direito. Pequenas praias, viveiros e muita montanha à nossa esquerda. Foi o nosso dia de pedaleio.


Uma terreola marcava o fim do golfo e da estrada que o seguia. Aproveitámos para meter a carta no correio.


Subimos, voltámos a descer e eis que os lagos se avistam e os vendedores de laranjas dão lugar aos vendedores de morangos.

Cheios de campos verdes e mémés a pastar nas suas margens. Como ainda era cedo, pedalámos mais um pouco.

Virámos à esquerda, em direcção ao lago e à procura de um poiso recatado nas suas margens. O caminho ia dar a um curral de ovelhas, que por enquanto estavam todas debaixo de tecto.
Seguimos caminho e encontrámos um lugarejo, abrigado do vento e escondido do mundo, apenas com o lago e as montanhas como vista para o final do dia.
Entre as arrumações do nosso campismo, reparamos que um dos óculos tinham menos uma lente. Busca rápida entre as ervas ao redor, revelaram a lente. Mas não havia nada a fazer. A armação estava partida

Nisto, começamos a ouvir vozes e sinos. As vozes param, mas o tilintar aproxima-se. Lá vinham as ovelhas na nossa direcção, para a sua ronda de pastagem. Por enquanto não nos viam, mas assim que passassem a cerca de arbustos que escolhemos como esconderijo a história seria outra.
Bem dito, bem feito. A primeira ovelha que nos avistou, para surpreendida e com cara de caso a olhar para nós! "Que estranhos são estes nas minhas pastagens?", exprimia a ovelha nas suas feições!
Aos poucos todas as ovelhas foram parando, o que provocou um engarrafamento nas que vinham atrás, assim como uns gritos do pastor ao longe, para continuarem caminho!
Como os seus animais não se mexiam, lá veio ele, ver o que se passava com os seus próprios olhos.
Virou a sebe de arbustos e foi a vez dele ficar pasmado. Tenda amarela, duas bicicletas, malas espalhadas por todo o lado e dois portugueses a apreciar as vistas!
Fomos ter com ele, e num grego arranhado e gestos internacionais, lá nos fizemos entender. Apenas pretendíamos passar ali a noite e de manhã seguíamos caminho.
O pastor sorriu, disse-nos que não havia problema, encaminhou as ovelhas que continuavam de boca aberta a olhar para nós e voltou aos seus afazeres.

Assim como nós. Pararoca feita, loiça lavada e mais um dia na casa amarela.

Arta

25 de Março - Independência da Grécia e 9 meses antes do nascimento de Jesus (concepção)
Acordámos cedo para termos tempo para fazer a visita pela cidade durante a manhã, deixando a tarde livre ao estudante que precisava de preparar-se para os exames. Nós também ficámos contentes com o tempo disponível para actualizar datas digitais.

O sol brilhava, as barrigas aconchegadas com as papas de aveia, e as vontades de sair à rua e passear eram tudo o que precisávamos. Deambulámos pela cidade, em passo lento de passeio. A grande muralha que cercava a cidade, reconstruída nos topos, tinha em determinadas ruinhas casas construídas mesmo em frente, que em épocas menos legisladas não importavam a ninguém, mas que agora com a valorização do património, o turismo, tudo importuna.
As igrejas ortodoxas eram novidades para ambos. O exterior com cúpulas, revestido de tijolos dispostos em todos os sentidos e a formar diferentes frisos/desenhos. À entrada da primeira, deslumbrámo-nos com as pinturas coloridas. A disposição do que estava no interior muito diferente do que o que os nossos olhos baptizados de catolicismo, fazia-nos imaginar como seria de facto uma celebração.
A arqueóloga presente numa das igreja ofereceu-nos uns dvd's e avisou-nos que o museu estava aberto.
As ruínas, os anfiteatros tudo a lembrar tempos de escola e as fantasias da mitologia.


As ruas a encherem-se de gente muito bem vestida. Carros a estacionar em todo o lado. Ruas fechadas ao trânsito. Notava-se que em geral toda a gente tinha tido muito cuidado com a sua apresentação. O Nikolas explicou-nos que os estudantes, os grupo de dança e o exército iriam desfilar pela cidade.
Antes do desfile começar voltámos a casa, e espantados assistimos à televisão local transmiti-lo em directo. Não admira que estivessem todos bem vestidos. Iam aparecer na televisão.
O desfile começou com os grupos de dança, meninos, meninas, moços e moças vestidos a rigor, faziam-nos lembrar roupa de rancho folclórico, um pouco mais adornada. O pormenor dos sapatos dos moços que tinham pompons pretos na ponta, não passava despercebido.
As escolas desfilaram umas a seguir às outras. Os estudantes, consoante a escola tinham diferentes uniformes, mas em geral eram azuis, saia para as meninas e calças para os rapazes, e camisa branca, por causa das cores da bandeira. Os melhores alunos de cada escola desfilavam à frente dos restantes. O melhor de todos segurava aa bandeira. O professor de cada turma marchava ao lado dos alunos melhor sucedidos, sempre muito atento aos passos e de apito na boca para marcar o passo. Pelo que o Nikolas disse cerca de um mês antes do vinte cinco de Março, começam os treinos para o desfile. O tempo de aulas é passado a marcar o passo. Apesar não ser a favor desta demonstração de disciplina, disse-nos que na altura até gostava, só porque saíam da sala de aula.


Desfile acabado pedalámos até ao museu arqueológico. O nosso primeiro museu desde o início da viagem.
Adorámos e perdemo-nos no tempo. A nossa infância de sonhos helénicos, mitos e deuses a regressar ao presente e a misturar-se com épocas de há mais de dois mil anos diante de nós em vasos, brinquedos, mosaicos, jóias e escritos. No final, lá nos queriam oferecer mais dvd's em grego, mas tivemos que recusar, gentilmente.


O almoço, como é típico deste dia em toda a Grécia, foi bacalhau. Abre-se uma excepção ao jejum da quaresma e come-se peixe.
Uma almoçarada grega, com toda a família, pai, mãe, avó, irmão, Nikolas e nós (os europeus como nos chamou o pai do Nikolas) Salada, iogurte com pepino, puré de batata, chicória cozida  e bacalhau e batatas no forno, que parecia e a modos que sabia a caldeirada. Para finalizar um doçaria fina repleta de chocolates e massas folhadas.

A seguir ao almoço (a começar às três da tarde) dorme-se a sesta. Nem todos. Nós entretivemo-nos entre a rua a passear e o ecrã do computador.
A tarde passou e veio a noite sem grande mudanças.
O pai do Nikolas fez questão que ele fosse ajudar pelo menos uma hora no café e nós fomos com ele. Bebericámos chá enquanto jogávamos uma cartada, típica portuguesa, enquanto os gregos jogavam ao que mais gostam, gamão e bebiam o que mais gostam raki (igual ao nosso medronho).
Comemos os folhados de espinafres e queijo que a avó fez e os restos do bacalhau do almoço pelas onze da noite, mesmo antes de ir para a cama.

Vasaiika - Arta

Dormimos no topo da montanha.

Quando começámos a pedalar foi sempre a descer. A paisagem assombrava-nos, dos dois lados rodeados grandes montanhas. Como se estivessemos num desfiladeiro, com o rio a acompanhar a nossa descida e alguma neblina que criava um ambiente fantástico.


Uma dezena de quilómetros em cima da bicicleta a descer a montanha, quando do nosso lado esquerdo vemos uma bicicleta e um ciclista a acenar-nos. Olhámos melhor e vemos as malas na bicicleta. Claro que demos meia volta e fomos ter com ele. Antes que nos esquececemos montámos o tripé e com todas as máquinas lá fizemos as fotos da praxe.

O Joan da Eslovénia, é um habitué de viagens de bicicleta. Ja deu a volta ao mundo e já foi até à ponta de África e voltou para casa. Sempre que pode parte à aventura porque os projectos estão sempre a surgir na sua cabeça. Tem a idade dos nossos pais e é electricista.
Com conversas a correr, o tempo foi passando e estivemos quase uma hora a conversar. Olhámos para os relógios  surpresos, ainda mais porque a hora tinha mudado durante noite, acrescentando mais uma hora aos nossos relógios.
Num espaço de uma semana avançámos duas horas em relação à hora italiana, que juntando às rotinas tardias dos gregos nos deixam ainda meio abananados.

A ideia de pedalar juntos surgiu, naturalmente. os três em fila a serpentear no sopé destes arranha-céus naturais. Os ritmos de pedalar são diferentes mas conseguimos encontrar um meio termo. Felizmente, na Eslovénia a hora de almoço é por volta das treze. Estávamos todos cheios de fome e parámos no jardim de um hotel. O jardineiro veio ao nosso encontro saudar-nos e oferecer-nos café e outras coisas. Almoçámos tranquilos e aquilo que parecia pouco, tornou-se num banquete. Sempre a tirar comida de dentro dos sacos de cada um, todos partilhámos o que tínhamos e tivemos direito a café, sopa, segundo prato e fruta.


Conversámos e conversámos, divertidos com histórias partilhadas das viagens de bicicleta.

Sabe-nos sempre tão bem encontrar pessoas que sabem exactamente o que estamos a falar. Trocamos ideias e voltámos a pedalar até Arta.

Em menos de meia hora já lá estávamos. Os três aos abraços e em sorrisos de despedida tão contentes por nos termos encontrado e partilhado esta manhã. Despedimo-nos e cada um um seguiu o seu caminho. Nós andámos pela cidade às voltas até encontrar a estação do autocarro, onde tínhamos ficado de ir ter para nos encontrarmos com o Nikolas.

Enquanto ele não chegava os nossos cantis vazios não saciavam a nossa sede. Um dos condutores dos autocarros ofereceu-nos uma garrafa.

Apareceu de bicicleta. Seguimo-lo pelas estradas que já tínhamos percorrido para ir ali ter, quase que fizemos o exacto percurso em sentido inverso.

Toda a família em casa na pausa para o almoço a dormir a sesta grega. Às cinco horas voltaram todos para o trabalho, no café e no consultório do dentista. Nós os três fomos dar uma volta pela cidade.

Pelas onze horas, jantávamos batatas fritas feitas pelo Nikolas e íamos para a cama logo a seguir. É assim na Grécia....

Zitsa - Vasaiika

Quatro e meia e o despertador toca. O Alexandre e o Kostas, cada um em sua casa, preparam-se para amanhecer no meio da farinha.

Às cinco da manhã começam pela cave a preparar as misturas de farinha, depois a ligar as amassadeiras e a aquecer os fornos. Quando a Anna, a mãe Vassiliki e a Ana chegam cada uma à sua hora já os homens têm quase tudo orientado. Mesmo assim há sempre trabalho a fazer. Enrolar os pães nas sementes de sésamo, pincelar os pãezinhos com ovo, ralar o queijo, encher os pães com queijos, dispô-los nos tabuleiros, atender os clientes que já sabem os horários das fornadas, e se sentam à espera não importa o tempo. O padaria da aldeia nunca pára.

Mesmo quando estão nas suas supostas horas de folga, ou dias de folga, todos os clientes sabem onde moram e não é isso que os impede de tocar à campainha da casa, ou bater à porta da padaria do Kostas a quererem comprar pão.
Por volta das nove a boleia do Kosta e da Anna para a Albânia apressa-os a sair sem tomarem o pequeno-almoço. Nós ficamos sozinhos com a mãe grega, que às vezes nos surpreende com umas palavras em inglês.


Comemos o nosso pequeno almoço, enchemos dois sacos de pão, biscoitos e folhados de queijo e procurámos pelo gorro do Alexandre por todo o lado. Arrumámos tudo e voltámos a desarrumar. Voltámos a casa, subimos as escadas, voltámos a descer, fomos até ao topo da montanha à procura do carro onde estivemos no dia anterior e nada de gorro.
Partimos cabisbaixos sem o gorro especial.

Percorremos a estrada que já conhecíamos em sentido contrário em direcção a Ioannina.

Embalados ao sabor da brisa primaveril, avistámos ao longe duas pessoas na berma da estrada. À medida que nos aproximámos conseguimos distinguir as mochilas, os contornos de guitarras e os perfis. Ainda longe começamos a sorrir, a esticar os braços e atirar olás uns aos outros. Eram a Sílvia e Emílio em plena acção. Um terceiro encontro fortuito pela Grécia. Se nos voltarmos a encontrar, que todos cremos que sim, há-de ser assim, novamente.
De polegar esticado lá estavam a pedir boleia a quem passava. Parámos para dizer olá, a boleia nas nossas bicicletas fica para uma outra vez com menos malas. Prometeram apitar-nos quando voltassem a passar por nós já de boleia apanhada e cumpriram.

Pouco depois, os nossos conta quilómetros diziam que estávamos algures onde queríamos ficar para o dia de pedaleio. Com os cantis cheios de água, andámos por ali à volta da estação de gasolina a averiguar por um bom local para passar a noite. Descobrimos um sítio escondido junto a um galinheiro abandonado e montámos a nossa casa.

Ainda era cedo, por isso tivemos muito tempo de luz para calmamente preparar o nosso jantar e organizarmo-nos em outras tarefas antes de ir dormir.

O sono veio cedo, depois da noitada do dia anterior, e da alvorada prematura.

Zitsa

Knock Knock!

Who”s there? Anna!!
Foi até à nossa porta avisar-nos que dentro de meia hora, estariam à nossa espera para irmos todos até Ioannina.


Tomámos um pequeno almoço de pão ainda morno, acabadinho de sair do forno, e partimos com a máquina registadora e o computador para levar ao senhor doutor que ficava de caminho.
O parque de estacionamento onde deixámos o carro é junto ao famoso lago que embeleza a cidade.
Passeámos pela cidade debaixo de um sol que nos saudava com raios quentinhos. Dentro das muralhas da cidade o vento não se sentia tão forte.  Misturados com a vida citadina, com amigos e sem bicicletas carregadas de malas somos anónimos, somos gregos.


Tomámos um chá aqui, entramos numas lojas acolá,... mais um amigo, mais uma amiga, ...um passeio até ao castelo, uma esplanada com sol. Temos um almoço fantástico de saladas gregas lá pelo meio da tarde, como nos vamos apercebendo.
Continuamos o passeio e vamos tomar café grego, chocolate quente grego e chá a outro café catita.
Sempre que entramos num café, ou restaurante o empregado que nos vem servir vem sempre com copos de água para toda a gente, se quisermos mais é só pedir e não se paga nada por isso. Assim como o pão.
Encontramos um dos fornecedores de farinha, e ali no meio da rua fazem o seu negócio.
Passamos na loja da registadora que já está pronta, abastecemos com fruta e verduras e regressamos a casa.


Enquanto uns tomavam banho, outros punham a roupa a lavar e meia hora depois estávamos todos sentados em redor de uma das mesas do café do irmão do Kostas com mais três amigos. Com os portáteis à frente cada grupo espreitava sua coisa e bebericava as suas bebidas. Toda a gente fuma dentro dos cafés, restaurantes e no ferry a caminho da Grécia.

Já passava das nove, todos juntos mas desta vez entre a padaria e a casa do Kostas. Uns no andar de cima outros no de baixo, andávamos dentro e fora, cima e baixo a preparar o jantar: pasta fresca. A máquina preparou a massa, nós cortámos, estendemos, espalhámos e cozemos a pasta, numa misturada de gente e mãos que queria por a mão na massa. Todos menos o sociólogo do grupo que assistia com a avó e a mãe Vassiliki ao jogo de basquetebol na televisão.

A mesa posta e temos um jantar tardio, para as nossas barrigas ainda muito portuguesas. Brindou-se com o vinho de Zitsa, conhecido em toda  a Grécia. As uvas são únicas na região. Quem vem a Zitsa  bebe o vinho de Zista.

No dia seguinte, acordava-se cedo para fazer pão para a aldeia toda e já passava há muito da hora de dormir.

Polydroso - Zitsa

Um dia de acasos, encontros e reencontros...

O nosso destino, uma vila a poucos quilómetros da Albânia. Nós já estávamos no meio das montanhas, mas ao olhar para o norte, os picos brancos de neve alertavam-nos para um dia de esforço. Pelo menos o sol brilhava forte. Mas não forte o suficiente para lutar contra o vento frio.


Começámos cedo a labuta. A estrada era decente, mas as subidas, curvas e contra-curvas faziam-nos demorar. Sabíamos de antemão que teríamos de virar algures à esquerda na estrada principal e pedalar o resto do caminho nas estraditas perdidas. Mas depois de algum tempo, qualquer coisa não ia bem. O mapa grego que encontrámos em Igoumenitsa não é dos melhores e o detalhe deixa algo a desejar.
Perdemos a nossa saída algures lá para trás. Teríamos que pedalar ainda mais quilómetros devido ao nosso engano.

Um pouco desanimados com a reviravolta dos acontecimentos, olhámos para o mapa e decidimos parar para almoçar em Zitsa. Ainda era um esticão, mas seria melhor pedalar mais agora do que depois do almoço.

Horas depois, em Zitsa, mortos de cansaço e de fome, encontrámos um canto, com bancos e abrigado, do vento para cozinhar. E eis que, enquanto um montava o fogão e o outro cortava a cebola, um sonoro «Hi!» cantou aos nossos ouvidos. Na varanda do prédio vizinho, um rapaz e uma rapariga acenavam para nós e perguntavam se falávamos inglês e se éramos os portugueses que viajavam de bicicleta. Surpreendidos respondemos que sim a tudo, e aos poucos lembrámo-nos de um pedido de CS que fizéramos enquanto planeávamos a travessia por Albânia. Kostas, o padeiro de Zitsa, não podia na altura e no meio de tantas voltas e mudanças de planos, acabámos por perder o contacto dele
.
Abençoada a hora que Anna, a sua namorada americana, decidiu ir estender a roupa, nos viu da sua janela decidiu chamar o Kostas. Abençoada a hora de facto, porque pelo que nos contaram, o pior ainda estava por vir e que até à casa do Manus seria sempre a subir e não seria nada fácil.
Em menos de nada, estávamos à mesa da sua casa a comer o almoço com eles. Kostas orientou o esquema todo. Telefonou ao Manus, o nosso anfitrião de Kalpaki, a avisá-lo que iria "roubar" os seus couchsurfers e que mais tarde iríamos ter com ele de carro e passar lá o serão.

Kostas, nasceu em Zitsa e em Zitsa ainda está. Há 18 anos que é o único padeiro da vila e das terreolas vizinhas. Aprendeu sozinho mas entretanto já estudou em escolas francesas. Já recebeu mais de duzentas pessoas na sua casa, mas ainda consegue manter o entusiasmo como se fosse a primeira vez. A Anna, conheceu-o numa visita à Grécia há uns anos atrás e por aqui deixou ficar o seu coração. Mudou-se para cá à 3 meses e já se fala de casamento cá em casa. Nós ficámos encantados com eles e com as surpresas que a estrada ainda nos dá quando nos enganamos no caminho.


Antes do sol se pôr, Anna faz uma caminhada até ao mosteiro no cimo da montanha. Nós fomos com ela, ver o pôr do sol. Ficámos a saber que Lord Byron pernoitou por aqui nas suas viagens, quando foi apanhado desprevenido numa tempestade.

De carro, depois do Kostas fazer a sua sesta da tarde, fomos até à casa do Manus e da Cristina, passar o serão todos juntos.
Depois de 40 minutos a serpentear por montanhas, chegámos a uma aldeia ainda mais pequena que Zitsa e entrámos na sala acolhedora de lareira acesa. E quem é que já lá estava. A Sílvia e o seu namorado Emílio! Tinham aqui chegado de boleia, a sua forma preferida de viajar, no dia anterior. Eis que de uma forma improvisada, dois portugueses, dois italianos, dois gregos, uma albanesa e uma americana, compunham a primeira festa improvisada de Couchsurfing nas montanhas à volta de Kalpaki.
Bebeu-se o vinho típico de Zitsa, conhecido por ser um vinho tinto com gás, comeram-se enchidos, queijos e bolos, provaram-se bebidas espirituosas gregas, ao som das tarantelas italianas e de músicas tradicionais de Creta, cantadas pelo cozinheiro de um dos hotéis da zona, que decidiu fazer uma visita ao Manus e por aqui se deixou ficar connosco.

Lá fora o frio apertava, mas ninguém se preocupava muito com isso.

Igoumenista - Polydroso

Fomos ficando... O acordar cedo e começar a pedalar tornou-se numa molenguice e numa converseta com a Theofania até quase à hora do almoço! Houve tempo para aulas de grego, partilha de origamis, histórias com papel, cafés gregos e segredos antigos sobre a sua confecção.


Mas a nossa viagem faz-se de bicicleta e é de dia que gostamos de pedalar. Além disso a chuva anunciada previa-se para o fim da tarde.

Antes de partirmos, a Theofania ofereceu-nos uma pedra com um buraco. Diz-se que quando se encontra uma pedra com um buraco é sinal de boa sorte. A partir de agora a sorte oferecida viaja connosco no guiador esquerdo da bicla do Alexandre.

Estamos no norte da Grécia. Mas a nossa rota improvisada leva-nos ainda mais para norte e mais para o interior das montanhas.

Não foi um dia de muitos quilómetros. Depois de tanto tempo parados, viagens de barco e cafés gregos, este foi de facto o nosso primeiro dia de pedaleio na Grécia. Pedalámos sempre a subir e sempre que uma terreola surgia, ficávamos de olhos em bico a tentar perceber a sinalética. Como se escreve padaria? E gasolineira? E quais os caracteres de mercearia? Ainda temos muito que aprender.


Parámos num pequeno jardim para cozer os ovos e comer as ervilhas, debaixo de uma chuva miudinha que teimava em aumentar.

O resto da tarde foi debaixo das intempéries. Muita, muita chuva. Tanta que tivemos que procurar abrigo numa paragem de autocarros, perdida no meio das montanhas.

Ainda pedalámos mais um pouco depois disso, mas já se fazia tarde e os nossos hábitos de procurar bons spots de campismo estavam um pouco destreinados.

Dentro da tenda amarela, enrolados nos sacos-camas azuis e lençóis brancos, de novo o Seinfeld fez as honras à casa e abriu as portas ao João Pestana...

Igoumenitsa

Acordámos para o nosso primeiro dia na Grécia! O gato veio dar os bons dias e nós madrugámos, esperando que os habitantes da casa madrugassem também. Mas não... Tomámos o pequeno-almoço, esperámos um pouco e voltámos para o quarto. Ainda era muito cedo para a Theofania acordar.


Após o café matinal arrebitar os grandes olhos da nossa anfitriã, saímos porta fora em direcção a um novo país!

As sombras gigantes que vimos ao sair do barco na noite anterior, revelaram imensas montanhas em toda a volta de Igoumenitsa. E nada de gradualmente diminuírem de altura até chegar ao nível do mar. Não! Mar e montanhas lado a lado. Como se estas tivessem irrompido das águas por alguma fúria dos deuses.
As vistas da cidade em tudo similares às portuguesas. Nada nos faria espevitar os olhos e notar alguma diferença de uma qualquer rua, numa qualquer cidade de Portugal, se não fosse uma pequena grande diferença. A língua! As pessoas passam por nós e chutam para fora sons ininteligíveis para os nossos ouvidos. Os letreiros e os sinais, todos escritos num alfabeto diferente que o nosso cérebro não consegue interpretar.
Os céus mostravam-se azuis e convidavam para uma passeata pela marginal. Aos poucos fomos descobrindo novos costumes enquanto caminhávamos...

Por exemplo: Aqui bebe-se café! Nada das chávenazitas minorcas que nos habituamos a ver em toda a nossa viagem e que também é costume na Tugalândia. Não. Aqui bebe-se café em canecas gigantes, em doses industriais e sempre muito devagar. Um grupo de amigos a beber café numa esplanada, pode demorar-se horas e horas em pacata contemplação dos arredores. Nós já tínhamos a nossa dose de cafeína nas veias, por isso Theofania e as suas amigas levaram-nos a provar outros líquidos matinais.
Aqui não se come. Vai-se comendo. Pediu-se uma bebida espirituosa quente, com mel e canela, (mas também se bebe pura). Um pequeno jarro, uma mão cheia de copos de taberna, e uns pratos de comida e pão. "Alguém pediu esta comida?" Perguntaram os ingénuos portugueses. "Não. É normal vir algum prato de comida quando se pede  algum tipo de bebida alcoólica."  Pelo vistos o normal de hoje eram batatas no formo, rodelas de tomate e uma carne guisada! Para a segunda rodada, vieram mais batatas, mas de mão dada com almôndegas!


Por ali fomos ficando o resto da manhã\tarde. Nós, a Theofania e as suas amigas, a beber e a petiscar. Ninguém se lembrava do almoço. Lá para as 15h alguém falou de que devíamos ir almoçar. Na Grécia, pelos vistos, os hábitos são todos tardios.
Saímos da esplanada, andámos uns metros e entrámos num restaurante vazio. Ainda era cedo para a clientela habitual!

Umas pitas maravilhosas mais tarde, voltámos para casa. A Theofania foi trabalhar para a sua pizzaria e nós ficámos dentro de paredes, esperando pela próxima Couchsurfer da Theofania que também viria partilhar a casa connosco.

A Sílvia, chegou algum tempo depois, e trouxe consigo as nossas memórias de Itália. Uma verdadeira hippie\hitchhiker, veio para Igoumenitsa esperar o namorado de Itália, para depois seguirem viagem até à Índia.
A conversa prolongou-se, ao sabor de uma pasta adocicada e ao som da tosse crescente da Sílvia. Era alérgica aos gatos. Depois de muitas trocas de quartos, lençóis, almofadas e sacos-camas a única solução foi encontrar outra casa para a Silvia. Nós já não presenciámos isto, pois dormíamos o santo soninho quando a Theofania saiu do trabalho e foi procurar junto das suas amigas um espaço livre de gatos.

Brindisi - Igoumenitsa

Antes mesmo que o nosso despertador soltasse o alarme, acordámos sobressaltados com o som da porta atrás de nós a abrir-se. Espreitámos e dois homens saíram. Ainda não eram 6h00.
Em menos de nada desmontámos tudo e arrumámos a casa e as malas nas bicicletas. A espreitar numa janela, da torre bem alta atrás de nós, um dos trabalhadores acompanhava atento o nosso início de dia.


Com pelo menos três horas pela frente antes da hora do nosso barco, fomos até à cidade, fazer compras para a viagem e navegar na Internet, para enviar pedidos de última hora de Couchsurfing. Talvez tenhamos sorte ao chegar a Igoumenitsa.

Ao passar os postos alfandegários, um "adeus Itália" dirigido ao guarda. Talvez ele tenha percebido, talvez não. Seja como for, foi um adeus sentido e a desejar um regresso rápido. As emoções da despedida da bela Itália, que nos tratou tão bem, à flor da pele, mas ao mesmo tempo a excitação do novo país.


O barco tinha hora prevista de partida às 11h00 da manhã, mas só partimos às 12h00. Dentro do barco, no salão comum, além do bar e do restaurante, tínhamos dois plasmas a cuspirem notícias em italiano e numa língua indecifrável: Grego!
Cá dentro os pormenores que nos introduziam à Grécia, saltavam à vista. O menu do restaurante, a escrita. As caras do tripulantes e de muitos passageiros a lembrar-nos a Europa de leste e as conversa mais audíveis que nenhum de nós compreendia. Os sinais de proibido fumar estavam bastante visíveis, mas toda a gente, incluindo a tripulação acendia o seu cigarro, quando lhe apetecia.

O céu estava azul enquanto o sol durou, mas algumas nuvens começaram a juntar-se sobre nós. À medida que navegámos mar adentro, as nuvens tornaram-se maiores, mais escuras e as últimas horas de navegação foram de relâmpagos e muita chuva lá fora.


Já perto de aportar um dos nossos telemóveis surge com a mensagem a perguntar se queríamos actualizar a hora. E assim descobrimos que os italianos não sabiam o que diziam e que na Grécia o fuso horário acrescenta mais uma hora em comparação com a Itália. Fazendo as contas chegámos à Grécia (Ellada) às dez da noite, com muita chuva a receber-nos.
Uma tentiva de ligação à net às portas do porto revelou sinal positivo. A Theofania aceitou receber-nos, mesmo com tão pouco tempo de preparação e depois de nos ligar a dizer para procurarmos pela pizzaria Kone, partimos com destino ao centro da cidade de Igoumenitsa, sempre sob chuva.

Sábado à noite, e cidade de estudantes. As ruas cheias de malta jovem toda impiriquitada, quiosques, bares e restaurantes cheios de pessoal e nós a circular pela berma da estrada mal tratada e a lembrar as estradas portuguesas, perguntando de quando em quando onde era a pizzaria. O que vale é que os gregos arranham melhor o inglês do que nós o grego.
Já estávamos um pouco desanimados e o cansaço estava a apoderar-se de nós. Pizzaria Kone cadê você?
Falámos de novo com a Theofania para esclarecer a localização. Estávamos a meros metros de distância, quando o rapaz da entrega das pizzas veio ao nosso encontro de mota para nos guiar a porto seguro.

Estamos na Grécia, e aqui vive-se até tarde. A Theofania saiu do trabalho à meia-noite e foi connosco até a sua casa, do outro lado da rua. Saltaram bem à vista as suas feições distintas e olhos amendoados azuis enormes a lembrar que estamos num local diferente.
Quando o namorado chegou para se juntar a conversa, as frases em grego misturadas com as palavras em inglês faziam-nos sentir um pouco desnorteados. A frustração de não poder comunicar na totalidade. As lombadas dos livros que queriam ser lidos, com o cérebro sem reconhecer o alfabeto. Valha-nos estarmos com uma licenciada em tradução. Talvez consigamos acabar o dia a saber algumas novas palavras.

Podres e rotos estivemos à conversa até às três da manhã a beber cházinho, até que alguém cedeu e fomos todos dormir, finalmente!

Kalinicta a todos...