Polydroso - Zitsa

Um dia de acasos, encontros e reencontros...

O nosso destino, uma vila a poucos quilómetros da Albânia. Nós já estávamos no meio das montanhas, mas ao olhar para o norte, os picos brancos de neve alertavam-nos para um dia de esforço. Pelo menos o sol brilhava forte. Mas não forte o suficiente para lutar contra o vento frio.


Começámos cedo a labuta. A estrada era decente, mas as subidas, curvas e contra-curvas faziam-nos demorar. Sabíamos de antemão que teríamos de virar algures à esquerda na estrada principal e pedalar o resto do caminho nas estraditas perdidas. Mas depois de algum tempo, qualquer coisa não ia bem. O mapa grego que encontrámos em Igoumenitsa não é dos melhores e o detalhe deixa algo a desejar.
Perdemos a nossa saída algures lá para trás. Teríamos que pedalar ainda mais quilómetros devido ao nosso engano.

Um pouco desanimados com a reviravolta dos acontecimentos, olhámos para o mapa e decidimos parar para almoçar em Zitsa. Ainda era um esticão, mas seria melhor pedalar mais agora do que depois do almoço.

Horas depois, em Zitsa, mortos de cansaço e de fome, encontrámos um canto, com bancos e abrigado, do vento para cozinhar. E eis que, enquanto um montava o fogão e o outro cortava a cebola, um sonoro «Hi!» cantou aos nossos ouvidos. Na varanda do prédio vizinho, um rapaz e uma rapariga acenavam para nós e perguntavam se falávamos inglês e se éramos os portugueses que viajavam de bicicleta. Surpreendidos respondemos que sim a tudo, e aos poucos lembrámo-nos de um pedido de CS que fizéramos enquanto planeávamos a travessia por Albânia. Kostas, o padeiro de Zitsa, não podia na altura e no meio de tantas voltas e mudanças de planos, acabámos por perder o contacto dele
.
Abençoada a hora que Anna, a sua namorada americana, decidiu ir estender a roupa, nos viu da sua janela decidiu chamar o Kostas. Abençoada a hora de facto, porque pelo que nos contaram, o pior ainda estava por vir e que até à casa do Manus seria sempre a subir e não seria nada fácil.
Em menos de nada, estávamos à mesa da sua casa a comer o almoço com eles. Kostas orientou o esquema todo. Telefonou ao Manus, o nosso anfitrião de Kalpaki, a avisá-lo que iria "roubar" os seus couchsurfers e que mais tarde iríamos ter com ele de carro e passar lá o serão.

Kostas, nasceu em Zitsa e em Zitsa ainda está. Há 18 anos que é o único padeiro da vila e das terreolas vizinhas. Aprendeu sozinho mas entretanto já estudou em escolas francesas. Já recebeu mais de duzentas pessoas na sua casa, mas ainda consegue manter o entusiasmo como se fosse a primeira vez. A Anna, conheceu-o numa visita à Grécia há uns anos atrás e por aqui deixou ficar o seu coração. Mudou-se para cá à 3 meses e já se fala de casamento cá em casa. Nós ficámos encantados com eles e com as surpresas que a estrada ainda nos dá quando nos enganamos no caminho.


Antes do sol se pôr, Anna faz uma caminhada até ao mosteiro no cimo da montanha. Nós fomos com ela, ver o pôr do sol. Ficámos a saber que Lord Byron pernoitou por aqui nas suas viagens, quando foi apanhado desprevenido numa tempestade.

De carro, depois do Kostas fazer a sua sesta da tarde, fomos até à casa do Manus e da Cristina, passar o serão todos juntos.
Depois de 40 minutos a serpentear por montanhas, chegámos a uma aldeia ainda mais pequena que Zitsa e entrámos na sala acolhedora de lareira acesa. E quem é que já lá estava. A Sílvia e o seu namorado Emílio! Tinham aqui chegado de boleia, a sua forma preferida de viajar, no dia anterior. Eis que de uma forma improvisada, dois portugueses, dois italianos, dois gregos, uma albanesa e uma americana, compunham a primeira festa improvisada de Couchsurfing nas montanhas à volta de Kalpaki.
Bebeu-se o vinho típico de Zitsa, conhecido por ser um vinho tinto com gás, comeram-se enchidos, queijos e bolos, provaram-se bebidas espirituosas gregas, ao som das tarantelas italianas e de músicas tradicionais de Creta, cantadas pelo cozinheiro de um dos hotéis da zona, que decidiu fazer uma visita ao Manus e por aqui se deixou ficar connosco.

Lá fora o frio apertava, mas ninguém se preocupava muito com isso.

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