...um mês mais tarde

Deixámo-nos estar por Tomar para o Ano Novo.
Foi pouco mais do que um esforço para passar a meia noite todos juntos, cada um no seu combate privado com o João Pestana, enquanto víamos quem ganhava o concurso da televisão. Comemos passas, bebemos champanhe e fomos ao sono que os lençóis guardavam.


Voltámos à capital poucos dias depois, aproveitando a boleia, e tratámos das nossas paperocracias de regresso à sociedade. Também as temos. A casa amarela foi entregue na loja para ver se a concertavam da vareta partida de que se queixava. Afinal a marca tem reputação de garantia vitalícia. A ver vamos, o que nos esperava essa viditerna garantia. Custou deixá-la assim, sem garantias para o coração.
O Alexandre foi ao escritório, antigo local de trabalho, e regressou com um tele-trabalho.

As visitas à bela e agitada Lisboa mais não deixavam que uma vontade de escapar para ambiências mais pacatas. Muito fumo, muita gente, pouco espaço, muitos carros, muito barulho, muito muito, e nós com tanto cá dentro, a conseguir espaço para mais estes muitos.


Começámos a rever as amizades deixadas para trás.
A Sílvia e o Nuno, que nos desarmou com  reviveres de dias da nossa viagem que provaram que se não era o mais assíduo leitor, é o com melhor memória. Fantástico, como guardou perguntas muito específicas sobre o que lia no nosso blogue, desde o início, e depois conseguiu lembrar-se de tudo para nos perguntar. Um chocolate para o coração,  estes amigos.
A super-unida família Durães, em Setúbal e na Quinta Piri, no Lau!. As sorridentes brincadeiras com os manos Duarte e Diogo não deixam ninguém indiferente, enquanto ajudam o avô a construir um canil e o pai a tratar dos cavalos.


No meio de tudo isto, em Lisboa e antes, em Tomar, aproveitámos e começámos a inventariar as nossas posses, acumuladas ao longo de anos e espalhadas pelos quatro cantos das nossas famílias.
Quem diz o inventário, diz mesmo tudo o que temos. Tudo o que ficou guardado e espalhado pelas casas reuniu-se aos poucos numa folha de Excel nos nossos portáteis. Assim sabíamos onde tínhamos aquela máquina de fazer sumo que precisávamos (e que não vendemos antes da viagem) ou aqueles vinte dossiers com fotocópias do tempo da secundária, que se calhar estavam melhor no ecoponto azul. Fomos esvaziando, limpando, reciclando, oferecendo, relembrando a quantidade de coisas que "temos". Uma enormidade, para quem passou ano e meio a viver feliz com o conteúdos dos alforges de uma bicicleta.
Mais tarde logo se veria o que fazer com tanta tralha. Soava a demasia e futilidade, mas o principal era escrever tudo. É necessário para o que pretendemos fazer a seguir. A nossa próxima "aventura"...

Sem casa certa, o plano nas nossas cabeças parecia fazer sentido. Todas as semanas vagueámos ao sabor da corrente, até que a Ana arranjasse um trabalho que nos fizesse lançar âncora, enquanto o Alexandre tele-trabalhava.
E assim, mudámos de poiso durante este primeiro mês de regresso, com a bagagem às costas, de casa em casa, entre as "nossas" quatro casas.
Espalhávamos a casa pelas aldeias, como se diz, e matávamos saudades enquanto inventariávamos, recolhíamos as nossas informações e esperávamos de braços abertos que o sentimento (e o trabalhinho) nos murmurasse ao ouvido, "aqui vou ser feliz!".


Não aconteceu. Pelo menos, desta maneira! Estávamos à descoberta de Peniche e das possibilidades internéticas, quando nos apercebemos que a estratégia de regresso à normalidade, não estava a funcionar. Num banco de jardim, deitámos cá para fora as ideias, aqui, ali ou acolá. Internet, bicicleta, supermercado, sossego, casa de família, aluguer, dinheiro, vieram à baila. Eram importantes. Tomar, Atouguia da Baleia, Lisboa ou Tavira?
Foi nesta altura que ligámos à mãe do Alexandre a pedir-lhe albergue, até conseguirmos alugar uma casa. A resposta foi contente pela proximidade do filhote, mas com a surpresa acrescida da possibilidade de aproveitar a casa vazia da avó.
Partimos nessa noite, rumo ao sul, sem certezas, mas com esperança e com o conhecimento de que voltávamos para junto das nossas meninas de duas rodas.


Tavira é, relativamente, pequena para nos podermos deslocar a pé ou de bicicleta para todo o lado. A biblioteca é a nossa preferida, e tem Internet para dar e oferecer. É uma calmaria, quando não é Verão e temos praia e serra ali ao lado e com alguma sorte um trabalho escondido algures para a Ana.
Timidamente, voltávamos à realidade e a vida retomou estranhamente uma rotina caseira. Bem nos dizia a Catherine, no Caminho de Santiago, que é assustadora a velocidade com que retomamos a nossa rotina, depois de regressarmos....


Para saberem se continuamos por Tavira, se sempre fomos morar para a ex-casa da avó do Alexandre, se a Ana arranjou um trabalhalhito bom com meninos, se continuamos a pedalar e a fazer as nossas saídas de fim de semana com as bicicletas. Têm que esperar para ler o que se passou este ano.


...há um ano atrás: Sanluri