Macomer

Como bom anfitrião que é, o Cosimo levou-nos logo pela manhã a visitar as redondezas de Macomer. O seu entusiasmo em relação ao património existente na Sardenha passou para nós, assim que falou em construções de 4000 anos! Sem ser guia turístico, foi contando a história de cada sítio na dose certa, sem dizer demais, e deixando sempre algo mais para contar depois. O seu amigo Andrea, veio connosco e trouxe uma lanterna com ele! Os 4 a subir os montes, a saltar muros, e acenar do topo dos nuraghes para as fotografias.
Pois é, afinal as construções que tínhamos começado a ver a caminho da sua casa, que pensávamos serem parentes italianos dos chozos, são nuraghes (diz-se nuragué). Não se sabe que utilização lhes davam noutros tempos, mas estudos psicológicos afirmam que a sua forma circular, deixaria maluco qualquer pessoa que lá tentasse habitar.
Subimos sempre ao topo! Para ver a vista, e o Cosimo, já experiente nestas andanças, procurava e indicava-nos, imediatamente, os outros 2 que se podem ver sempre de um topo, já que eram construídos sempre aos 3 de cada vez, formando um triângulo no terreno. Alguns, os maiores, chegam a atingir os 18 metros de altura, e tem 2 andares. A lanterna do Andrea mostrou-se muito útil nestas pseudo explorações.
Algumas das tumbas que visitámos estavam cheias de água, mas nas que conseguimos entrar, conseguíamos ver, para além de morcegos a descansar de cabeça para baixo, mais janelas interiores, que por sua vez se ligavam a mais janelas. Como um túnel labiríntico.
Almoçámos em casa, cordeiro assado com vários legumes, preparados sobretudo em azeite, tudo pronto à nossa espera. Foi só chegar e comer. Mais uma vez a família quando faz uma iguaria distribui pelos restantes familiares e nós, sortudos, provamos verdadeiras delícias sardas. Aqui come-se bem. Aqui come-se muito bem. A seguir às refeições há café para quem quer, preparado numa cafeteira ao lume, que tem de ter a marca típica destas cafeteiras, que é italiana, e com um revestimento especial para não trazer malefícios para a saúde. Acompanha-se com mais panettone, com fatias de 25cm e licores sardos.
Antes do pôr do sol voltámos a sair. Desta vez foi a Sabrina o 4º elemento do grupo. Saltámos mais muros, e além de nuraghes, vimos construções dedicadas a cultos de fertilidade, com o formato da cabeça de um touro, por se acreditar serem símbolo de virilidade. Umas estátuas de mulheres e outras de homens a reforçar esta ideia. As estátuas das mulheres distinguiam-se das dos homens por terem umas saliências, que parecem maminhas. Os homens são umas pedras lisas, tipo menir.
Os pastores das redondezas, antes de se reconhecer a importância destas construções, vinham às vezes roubar umas pedras para construírem eles muros para guardar as ovelhas. Não é estranho ver igrejas antigas, mas nem de longe tão antigas como os nuraghes, com pedras que retiraram destes últimos.
O Cosimo aproveitou para apanhar umas folhas de hera para fazer o seu champô natural, e partimos de volta a Macomer.
Dia 13 de Janeiro é dia de Santo António. Aqui celebra-se 2 vezes ao ano. Nesta data e 6 meses mais tarde, como nós em Portugal.
Em duas zonas distintas da cidade haviam fogueiras gigantes a arder. As gentes da terra espalhavam-se em redor. Num sítio bebia-se e enchia-se o copo a quem chegava. Sempre cheio. Vinhaça da Sardenha, da última vindima e que todos empunhavam com orgulho. Tivemos ainda direito à bandeira da Sardenha, versão simplificada, a enfeitar as testas pelo resto da noite. Uma cruz, e em cada divisória uma pinta preta a simbolizar os 4 reis mouros. Existem muitas versões para a história desta bandeira, aqui, explicou-nos o Cosimo, a badana que em algumas representações está sobre os olhos dos reis representa o desagrado, a revolta contra os colonizadores espanhóis.
Convidaram-nos para mais tarde participar da jantarada de favas com carne de porco que preparavam.
No outro sítio, visitava-se a igreja com o santo, distribuíam  bolos sardos e chá quente. Comemos torrão que, apesar de ser espanhol, é uma constante destas festas, em pedaços dentro de um saco de papel.
O jantar foi uma emocionante primeira pizza num restaurante, acompanhados por um casal amigo. Aqui até se fazem pizzas com batatas fritas!
Não sei qual dos 2 estava mais contente!

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