Saint-Raphaël - Antibes

Não se pode dizer que se dorme, quando a noite é passada a ouvir a banda sonora da chuva a cair sobre o avançado, a ouvir as gotas que salpicam os alforges para o interior da tenda e a sentir que o nosso descanso está a ficar molhado. Ora é um que sai da tenda para recolocar os alforges dentro da tenda. Ora se fecha a porta deixada aberta para circular o ar. Ora é o outro que sai para colocar a lona sobre as biclas e recompor o avançado. Enfim... Não dormimos, mas repousámos. Pelo menos de manhã não choveu, quando chegou a altura de arrumar a tralha e sair da praia de desembarque dos Aliados.
Assim como também não choveu durante o resto do dia enquanto atravessámos a espectacular marginal que liga St Raphael a Cannes. Altos e baixos, curvas e contra curvas, gigantescos penhascos e formações de cores avermelhadas a contrastar com o azul do mar e o verde das árvores e arbustos. Tudo polvilhado com brutas mansões, construídas no limiar do possível e impossível junto ao mar, e quase a nele tocar. Estrada estreita mas ainda assim cheia de caros colegas ciclistas. A maioria ainda devolve o cumprimento, mas alguns snobs viram a cara como que com vergonha dos nossos tramanacos desajeitados e carregados! olha para estes a pedalar a 15 à hora... E lá vão eles a roçar os 30Km/h..
Em Cannes, passeámos junto à famosa passadeira vermelha, contámos as mãos e os nomes dos famosos que tal como em Hollywood, estão gravados no chão e ficámos pasmados com a quantidade de italiano que se falava nas ruas e na quantidade de casacos de peles e maquilhagem usada no dia a dia das dondocas e dondocos.
A partir daqui começa a paisagem de aglomerado urbano que liga Cannes-Antibes-Nice como se de uma gigantesca mega metróple se tratasse. Ainda se tem o azul da Costa Azul, mas adeus às arvorezinhas e aos penhascos. Olá semáforos e prédios.
Não percebemos quando acabou Cannes e começou Antibes. Ainda se viram algumas placas de vilas entre os dois, mas tudo parece igual.
Abençoado Inverno que torna esta viagem, por locais de culto ao sol e ao corpo com toalhas e chapinhanços no Mediterrâneo, num autêntico prazer com níveis de trânsito toleráveis e costas desertas...
Cedo chegámos a Antibes. O nosso anfitrião espanhol só chegaria lá para as 18h, por isso ainda houve tempo para voltar ao centro e fazer umas compras de supermercado, depois de já termos encontrado a casa do Victor.
Tal como nós, também ele se desloca sobre duas rodas. Mas estas têm bastantes mais cavalos que as nossas!
Victor, de Madrid, informático de profissão, trabalha em França hà 3 meses, numa empresa sediada no meio de uma floresta a dez minutos de casa. Adepto do Linux, de viagens e de comida saudável, sem extremismos. Praticante do Caminho de Santiago de bicla e de bicla pela montanha aos fins-des-semanas ou quando pode. Adepto de campo e interior do país como fuga às loucuras do Agosto junto ao mar. Cheio de dicas e truques sobre viagens de bicla, este nosso amigo pedaleiro partilhou o que se sabia connosco.
Como de costume, também ele franziu a testa quando explicámos que é mais confortável para nós dormir no chão do que num sofá diferente todos os dias.
Depois do jantar de couscous com conversa e água filtrada, eis que o sono dos justos chegou mais uma vez.

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