Linguizzeta – Solenzara

O som da chuva misturava-se com o das ondas. Mas o embalo do som e o conforto da areia sob nós, fez desta uma noite bem passada.
Depois de empacotar a tenda e arrumar os alforges, ainda limpámos com um pano as correntes e voltámos a pôr um pouco de óleo. Passados poucos quilómetros de pedaleio, um som esquisito começa a aparecer em ambas as bicicletas. Numa mais do que noutra, mas ainda assim a coincidência de ambas as biclas começarem a fazer barulho após a pequena manuntenção, não podia ser ignorada. Que raio fizemos nós de mal?
Pode ser a paissagem mais bonita do mundo, e com certeza que a Córsega anda por lá perto nas revistas de viagem, mas quando se pedala ao som não constante de clack-clack-clcak, não há vista que apazigue os nervos!
Mas teria que ser assim até Porto-Vecchio ou depois. Uma paragem na berma da estrada e uma inspecção à transmissão nada revelou.
Mais um dia corriqueiro de vistas de perder a vista. Pedalar entre o mar e os picos recheados de neve.
A meio do dia parámos num hotel. Não para perder a cabeça e destroçar o nosso fundo de maneio, mas para um chá com Internet. Era caro (como tudo em França), mas tivemos direito a dois frascos de mel da Córsega em fez de açúcar e a bolinhos típicos da região.
Hoje foi um dia de novidade para os Nomadiclas! A primeira vez que acampámos num campo de futebol.
Quando pelo portão do campo passámos eram quase 17h e pensámos que teríamos o espaço só para nós. Até uma bancada com lavatório e torneira estavam por lá para facilitar o nosso camping. Um luxo!
Mas eis que passados uns minutos, um rapaz entra e caminha na nossa direcção. Fomos ter com ele, explicando a situação. "Estamos a viajar e parámos aqui em busca de um sitio para pernoitar." Ele diz que não há problema. Mas daqui a uma hora os restantes colegas deles iriam aparecer para os treinos diários da equipa da região!
Assim foi. Aos poucos foram aparecendo os rapazes e o treinador e rapidamente a equipa se compôs a correr e a aquecer, a rematar e a centrar pela noite dentro, enquanto nós, sentados nos bancos, os observávamos enquanto comíamos o jantar.
Quando já a noite estava cerrada, os holofotes foram desligados, as despedidas feitas e a tenda montada rapidamente sob a chuva que começava a cair e as trovoadas que gritavam lá longe no mar.

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