Tramatza - Sanluri

As casas aqui são pintadas sempre de duas cores. Podem-se fazer as combinações que se quiser. Um dos lado é laranja e o restante é amarelo, ou duas paredes são verdes claras e as outras duas são verde escuro. Às vezes só o interior das varandas é de uma cor e o resto da casa é de outra, à volta das janelas tem uma cor e nos pormenores das varandas, também à volta das portas. Amarelo e laranja, rosa e branco, Azul claro e azul escuro, rosa e branco, amrelo torrado e amarelo claro... 2 tonalidades de uma cor, muitas cores, mas sempre tudo em tons pastel.
Saímos todos apressados de casa. Apenas o pai do Federico ficou por casa.
Começámos a pedalar por volta das 8h30m. Contentes porque era cedo e porque sabíamos que teríamos alguém à nossa espera depois dos 70km. Uma família com 3 filhos.
Numa paragem para abastecer no LD, as voltas e reviravoltas na barrigas da Ana começaram. Obrigaram-nos a parar várias vezes para evacuações de emergência e, nestas alturas, cantamos o Evacuation dos Pearl Jam.
O caminho foi sempre a dritto, e tutto piano.
Por volta das 16h30 chegámos a Sanluri, à piazza combinada. Os locais rondam-nos, aproximam-se das bicicletas, olham e desviam o olhar e os mais jovens soltam risadinhas.
O Daniele veio buscar-nos na sua bicicleta e seguimo-lo nos poucos metros até sua casa. Um portão enorme de madeira que desliza e lá dentro um pátio de cimento com várias árvores de fruto, entre elas, claro limoeiros e laranjeiras. Deixámos as bicicletas debaixo de um telheiro em cima de um poço, que por agora está tapado. Entrámos. A casa além de grande é lindíssima. Toda a parede da entrada está cheia de portas envidraçadas e em arco. Antigamente, este tipo de espaço usava-se mas aberto, tipo alpendre. As cores são vermelho grená e amarelo claro, e nos arcos interiores pedras a ornamentar.
O nosso quarto era no primeiro andar e tivemos a casa de banho só para nós, já que os meninos passaram, durante a nossa estadia, a usar a debaixo.
O Francesco é o mais velho de 11 anos. Um pouco mais reservado, mas quando fala, deixa-nos a todos encantados com a calma e serenidade com que transmite os seus pensamentos. As marcas do tempo passado na América fazem-se notar, tanto no Francesco, como na Elisa, e em especial no pai Daniele. O Daniele adora a América, e  depois de ter estado num país onde as coisas funcionam, sente-se um pouco frustado porque em Sardenha/Itália nada funciona como devia. Desde as escolas, à política, passando pela parte social das pequenas vilas como Sanluri. Mas nada se compara à comida italiana. E nada como uma mãe sarda para fazer jus a esta maravilha gastronómica. A mãe Mari (diminutivo de Marinella) super atenciosa e serena encheu-nos de mimos comestíveis e outros mais que se lembrava. Com ela aproveitámos para falar num italiano muito rudimentar, mas com calma todos se entendiam. Sendo sarda, também ela sabia falar um pouco desta língua e pudemos encontrar semelhanças com algumas palavras portuguesas. Com muita paciência ainda nos ajudou a aprender novas palavras em italiano e a conjugar uns quantos verbos mais utilizados.
O Simone, o mais novo, com 4 anos, depois de muita vergonhite inicial, acabou por nos deliciar com a sua energia. Pequenas brincadeiras e livros uns a seguir aos outros, no nosso colo ou entre corridas para abraços, derreteram-nos aos dois.
Finalmente, a Elisa. Muito atenta a tudo à sua volta. Sempre pronta para dar uma ajuda com o inglês e italiano de quem hesitava à procura de palavras. Com apenas 8 anos já participa sem saber na transmissão do sardo. Faz parte de um grupo coral, que se juntou para angariar fundos para uma associação de esclerose múltipla. Um amigo da família, o Bruno, que foi o fundador desta associação e que se encontra acamado há algum tempo vítima de esclerose lateral amiotrófica.
O habitual leite morno com biscoitos da família, aconchegou-nos antes de irmos todos para a cama.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sizi takip edıyorum ana harikasınız.Tebrikler....