Ballée – Savigné-sous-le-Lude

Frko durante a noite, junto ao pequeno riacho. Mas menos frio do que a noite anterior.  Dois dias sem chover, uma noite sem vento e uns quilómetros mais para sul do que a noite passada, ajudam as sonecas serem mais quentinhas. Seja como for, não há que enganar, o Verão que não passou por nós e já se está a ir embora.

O orvalho e as sombras das árvores fez demorar a partida. Só lá para as dez da manhã é que as chanatas tocaram os pedais.


Depois da agradável surpresa de ontem, ao pedalar pelas estradas secundárias, optámos por deixar as principais e nacionais para os carros. De manhã, para fazer render as pedaladas, fomos para a estrada chata que rápida e aborrecidamente nos poria em Tours. Depois do almoço, virámos para o campo.

Enquanto um foi às compras o outro ficou a tomar conta do estendal. Em questão de minutos montamos todo o estaminé de tenda, toalhas, lona e panos que secavam ao sol, pendurados numa rede e estendidos no parque de estacionamento.

Mesmo no mapa, a estrada é uma recta. Não há como enganar. Carros a voar, poeiras dos camiões e abelhas a entrar no decote da Ana e a picá-la nas mamocas! Que treta de estrada!
Mas nem tudo é mau. Depende da perspectiva. Estamos a pedalar no interior de França, prestes a entrar no Vale do Loir. É o segundo dia sem chover e o céu está azul, com o sol a aquecer-nos. Os alforges estão cheios de comida, das quais uma vinhaça e um patê de coelho, ambos caseiros e ambos oferecidos por um simpático senhor. Não nos podemos queixar.

Almoçámos antes de chegar à cidade de La Fléche. Nome engraçado. Lembro-me de há dias ter passado por uma placa a assinalar um vila com o nome de São Jorge qualquer coisa, o Arqueiro. Agora passamos pela flecha dele.

A segunda parte do plano entrou em acção. Virámos para fora da estrada principal e a diferença foi imediata. Como que uma enorme ciclovia só para nós. O calor aumentou e até conseguíamos ouvir os passarinhos a cantar! O vento constante durante a manhã, era quebrado pela floresta cerrada que estávamos a atravessar. De repente, uma chamada de atenção da Ana. "Olha Alexandre! São javalis!". Grandes como porcos, super peludos que largaram a correr bosque fora assim nos nos sentiram. Passámos por eles duas vezes. Dois adultos à primeira e uma ninhada e a sua mãe à segunda. Havia uma rede entre eles e nós, por isso não estávamos preocupados. Como seria acampar nesta floresta? Com uma estrada só para nós, podemos pedalar lado a lado e conversar enquanto pedalamos.


Outro luxo que não encontrámos ((ou reparámos) quando atravessámos França da primeira vez, foi o facto de em qualquer vilazita perdida no meio do nada, existirem casas de banho publicas. Acabaram-se, de certa forma, a busca de gasolineiras ou as visitas à Natureza. Estamos a atravessar regiões imensas de campo e florestas e podemos estar descansados, porque na próxima vila, vamos encontrar um fácil acesso à água. E mais! Ao encher os recipientes de água, para mais uma noite de campismo e regressar à estrada, fomos explorar a sala de festas e a marie da vila (junta de freguesia). Podia ser que um local para montar a tenda fosse encontrado, mas encontrámos algo mais. Uma senhora ao sair da marie, foi interceptada por nós. Perguntámos-lhe logo se existia algum sítio na vila onde colocar a tenda. A senhora indicou-nos o campo de futebol, onde havia montes de espaço e teríamos acesso a água. Mas que bem, nem precisámos de pedalar mais, e tínhamos casa de banho.


Montámos a tenda junto aos balneários, cozinhámos no alpendre, lavámos roupas e panos e jantámos a ver o pôr do sol sobre o campo de futebol, com uma garrafa de vinho licoroso ao nosso lado. Vivemos tempos felizes em França!


...há um ano atrás: Quirima

Sem comentários: