Bellac – Les Cars

A noite foi tranquila. Muito escura, por causa da lua nova, e se acordámos durante a noite, ao ouvirmos o som do ribeiro lá em baixo, nos primeiros instantes sonolentos, achámos que era chuva. Mas não! Acordámos, relativamente, secos. Nem comemos ali.

Parámos, mais à frente, para comer um pequeno almoço, num banco de jardim, ao som do Harry Potter, nos audi books.
Eram por volta das nove e tive que parar para tirar a blusa de manga comprida. O sol, finalmente, faz-se sentir! Nem queremos acreditar! A estrada ondula no meio das árvores altas, enquanto a sombra da manhã nos resguarda do sol, e nos arrepia, para fazer lembrar que está calor, mas já não é Verão.


Por ser domingo, é dia de caça, vemos sinais a pedir para abrandar por causa dos cães, e caçadores camuflados de espingarda na mão. Os ciclistas de estrada domingueiros passam por nós a abrir, e acenam ou dizem bonjour.
Mesmo assim, chegámos ao vilarejo que tínhamos como meta chegar à hora de almoço, a transpirar do buço. E se eu transpiro do buço, é porque está mesmo muito calor!
Encontramos as casas de banho públicas, muito porcalhonas,  por sinal, abastecemos com água e um senhor, indica-nos um local melhor, lá em baixo, em vez de ficarmos ali no banco virados para a estrada.


Lá em baixo, era junto ao rio. Dos dois lados havia bancos e árvores a intercalar. Escolhemos o mais perto, e começámos a cozinhar. Os dois sentados de frente para o sol, era inevitável, que estivéssemos a torrar. As calças arregaçadas até aos joelhos, os pés descalços, e até tivemos direito a um cheirinho à águinha fresquinha que corria lá em baixo. O que apetecia mesmo era ir ao banho, mas era proibido! Do outro lado um senhor sentou-se a observar-nos. A mulher veio juntar-se a ele. Nós almoçámos, lavámos a loiça, lavamos os pés e ainda lavamos a roupa!
Seguimos viagem, com muito calor!

As subidas são cada vez mais íngremes, e as descidas mais longas. Hoje não me sinto nos meus dias e faço tudo muito devagar. Ao nosso lado só se ouvem sons de fruta e ramos a cair. As castanhas à beira da estrada estão todas esmagadas e fazem manchas de branco no alcatrão. Cheira a madeira acabada de cortar. Vemos montes de troncos, de todos os diâmetros empilhados à beira da estrada.

No meio de uma descida ia muito bem embalada, quando dois senhores de colete amarelo fluorescente me começam a fazer sinais para abrandar. Lá se foi o embalo todo. Quando li o sinal ao lado, vejo que uma corrida de bicicleta está a decorrer. Das duas às seis. Eram quatro.
Passámos por eles, e dali em diante de duzentos em duzentos metros alguém de colete amarelo, fazia controle da corrida. Claro, que levámos com palmas e incentivos ao passar. De vez em quando passava um ciclista por nós a abrir. Mas a abrir mesmo, nós íamos a trinta e pouco e eles ultrapassavam-nos e desapareciam a pedalar sem parar. Até faziam barulho, com aqueles capacetes aerodinâmicos e aquelas rodas esquisitas. Num cruzamento em que a sinalização da corrida continuava para a direita, e o nosso caminho seguia para a esquerda, uma senhora de microfone na mão meteu-se connosco, a fazer sinal para voltarmos ali e ao mesmo tempo fazia o relato à nossa passagem para os espectadores que assistiam.

Fizemos um lanchinho no meio da relva, com a nova base para mesas que achámos numa árvore, e continuámos a ver ciclistas a passar. Pareciam ser da corrida, mas aquele não era o percurso!!

Só queríamos pedalar mais um pouco antes de começar a procurar um sítio para acampar. A experiência de ontem chegou, como lição. Já vamos automaticamente em direcção à Mairie, porque as toilettes são lá perto, normalmente. Vemos uma senhora a sair de lá, o que é estranho, por causa do dia e das horas, mas aproveitei logo para lhe perguntar se havia um sítio... e a ladainha do costume. Ela não sabia, disse que não havia campismo, nem casas de banho! Desolée, disse ela. Nós também. Mas o sol ainda brilhava por isso não havia stress. Nem foi preciso avançar muito, porque uma placa com uma tenda desenhada e a indicar zona de lazer apareceu-nos à frente. Seguimos as direcções e fomos desencantar um sítio, que parece bom  demais para acreditar.


Todos os sítios parecem bons! Um lago, árvores, relvado gigante, mesa para piquenique, casinhas de férias (fechadas) com alpendre, um pequeno zoo. Um verdadeiro aldeamento turístico, fechado. Tirando as famílias a brincar no parque infantil, e os donos a passear o cão isto está vazio.
Esperamos que não haja problemas.


...há um ano atrás: Quirima

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