Le Treil - Boisse

Queríamos sair dali o mais depressa possível. Ramos secos, cheiro a queimado, carros a passar a metros acima das nossas cabeças... Más vibrações.

O sol anunciado para o resto da semana, o Verão que finalmente nos calhou, não começa antes das 9:30. Até lá, foi dor nos pés e nas mãos, ar gélido a entrar nos pulmões e nós sempre a rezar por uma subidita que fosse para poder por o termostato a subir também.

Aos poucos a coisa lá aqueceu. Começámos a deixar de ver com mais frequência as nogueiras. Ao longe umas colinas prometiam outro grande vale. Do género do vale do rio  Dordogne, no dia anterior.


Toca subir e a descer por entre as florestas e as aldeias francesas, com a temperatura sempre a subir, lá chegámos a Luzech. Uma vila situada numa língua de terra que os meandros do rio Lot cavaram durante muito tempo. Ficámos por ali a almoçar sandocas e a partir as nozes da região anterior. Agora temos que as pôr a secar enquanto pedalamos.

A sério que parece Verão. Até tive que usar a estratégia de ensopar o lenço que protege a mioleira do sol. Na Turquia, era a Ana que pedalava com botas em temperaturas acima dos 30ªC. Agora calha-me a dose de pés quentes e peúgas fedorentas. Nostalgia por umas chanatas...

A pedalada da tarde, foi a fugir às estradas secundárias. Desta vez, fomos pelas terciárias ou caminhos alcatroados que apenas o pessoal de tractor conhece. É de facto, o caminho mais recto para chegar a Toulouse. Mas implica não tornear serras, em busca de inclinações mais suaves, mas sim, atacá-las de frente, com as mudanças mais baixas e muito suor para as ultrapassar. Foi devagar, que fomos avançando, mas valeu a pena.
Valeu a penas pelas vistas, quando chegávamos a um topo deserto e só nosso. Valeu a pena quando sentíamos o cheiro do mosto da vindima que decorre agora nesta região. É daqui que vem o vinho de Cahors e nós atravessávamos a região que lhe dá sabor, mesmo pelas estradas mais perdidas, apenas com vinhas de perder de vista por todo o lado e mansões e casarões no centro destes cultivos. Estamos em França, na época das vindimas. Não arriscámos provar as uvas que ainda pendiam, não fosse a cura um processo recente.


Sempre a descer, sempre a subir, de vez em quando lá cruzávamos uma estrada mais movimentada, mas fugíamos logo para uma via só nossa. Ás 18:30, fechámos a loja e no topo da colina, montámos mais uma vez a casa, que por estes dias é branca. Mais uma vez adormecemos a ver as estrelas, o sabor de uma brisa de Verão Outonal, ao som de um qualquer animal que ronda a nossa tenda...


...há um ano atrás: Quirima

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