Forte da Casa

O dia de chegada ao Forte da Casa, entre tanto cimento, ambiente cinzento e excesso automobilístico, assustou-nos e com o convite do Pedro e da Beatriz para passar o fim-de-semana na terra, não pensámos duas vezes. Sábado de manhã, lá fomos a caminho da Bairrada, a cinco quilómetros de Tomar. Um vilarejo, como milhentos outros que atravessámos de bicicleta e que aprendemos a gostar e a apreciar.


Depois de duas horas sentados no carro, saímos para uma lufada de ar fresco e frio. Paz e sossego.
Preparou-se o carapau assado com batatas e grelos. Carapau grelhado!! Que bom que é ser português!
Fez-se as lidas à casa, visitou-se o resta da família, logo ali ao lado. É só atravessar a horta e tornear as oliveiras. Por aqui, assim como na Atouguia da Baleia, tudo permanece imutável. O avô continua a sentar-se à cabeça da mesa, no mesmo banco, junto do mesmo canivete e sob o mesmo relógio com mais de cem anos.
As sobrinhas, Maria e Catarina, mostraram-nos os seus tabuleiros da tradicional Festa dos Tabuleiros, para nos porem a par do que por cá se tem passado. De quatro em quatro anos, agora temos longa espera até ao próximo.


Falámos com toda a família, durante o fim-de-semana, às vezes à lareira com aroma de castanha assada, outras ao pequeno-almoço, entre torradas, café e papas de aveia! Contamos-lhes as histórias e desventuras, que não vêem no blogue, de alguns hábitos nutritivos estranhos dos nosso vizinhos europeus. Batatas cozidas ao pequeno-almoço ucraniano, favas cruas em vez de amendoins nos bares de Creta, dez ovos mexidos e salsichas fritas com fartura no despertar polaco, alface com queijo em França. Todos sorriem e a avó exclama "Ai filha!" ao ouvir tais circunstâncias estranhas por que passámos.

De regresso aos subúrbios lisboetas, arriscámos tirar um dia para resolver assuntos pendentes na capital. Apenas um. Por enquanto, chega e sobra.
A loucura do Natal no Centro Comercial Vasco da Gama, empurrou-nos para um almoço ao ar livre nas escadas do Pavilhão Atlântico. Uma viagem no autocarro cinquenta serviu para fugirmos aos transportes públicos e caminhar o resto do dia. Tudo parece terrivelmente familiar e assustador. Todo este consumismo desenfreado. Todo este stress citadino, toda esta múltiplicidade de estímulos sensoriais. Buzinadelas, telemóveis, semáforos, pessoas aos berros, aviões a razar e comboios a travar. Publicidade por todo o lado. Compra! Compra! Compra!


Fugimos.... e entrámos num sítio, junto à nossa antiga casa, onde nos pudéssemos sentir "normais" de novo. Entrámos num supermercado ucraniano. Tinha pouca gente e a que tinha, não era portuguesa. Os produtos e os preços, assinalados em cirílico. Peixe em conserva por todo o lado, centenas de frascos gigantes de pickles, tomates pelados e molhos. Uma prateleira reservada para os rebuçados e doces ao quilo. E, pufuletis! O nosso snack favorito na Roménia, quando saíamos da estrada...
Foi a realização do quão diferente nos sentimos por estar em casa. Do quanto tempo passámos fora e do quão diferente foi a nossa realidade durante esse tempo.
Talvez tenha sido por isso, que passámos a maior parte dos dias, escondidos em casa. Longe do papão da familiaridade.



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