Santiago de Compostela – Dueñas

Seis menos quinze e soou o alarme do primeiro despertador.  Dez minutos depois um novo despertador fez-se ouvir e tirou-nos da cama. Acendemos a luz e toca a despachar e arrumar. Quando pego na minha almofada e me preparo para tirar a protecção, vejo um pontinho do outro lado. Ponho a mão e trago um bichinho morto. Volto a concentrar-me na almofada e vejo mais dois, um deles bem grande! Dois piolhos enorme e vermelhos, cheios do meu sangue, que andaram a papar durante a noite. Ao tirar a coberta do colchão mais!!! Muitos, muitos mais, dezenas a escalar a parede! Quando tiro o meu casaco mais outro ali ao lado. Tínhamos as paredes cheias dos dois lados!!! Nem sei que pensei! Frustração e um ataque de fúria a surgir. No último dia tinha que acontecer isto! Fui ao guarda dizer-lhe que tínhamos o quarto infestado de piolhos da cama e queria que viesse comigo ver, mas ele acreditou sem ver e fez só a nota escrita que devia avisar os responsáveis.

Mesmo à porta da saída, fazíamos os últimos preparativos. O caminho tinha uma última surpresa para nós. No meio do corredor aparece o Santi! Ficámos os três com cara de parvos a entreolhar-nos. Ele, especialmente, a perguntar o raio fazíamos ali! Demos-lhe um valente abraço antes de sairmos com um sorriso estampado na cara. O Santi bem dizia "o caminho dá-te o que precisas, não o que queres!" Pelos vistos tinha mais uns piolhos e um amigo à nossa espera mesmo antes do adeus! O pensamento fugiu-nos para a Reyn. O que estaria a fazer ela a estas horas?

Estava-se bem na rua. Ainda escuro e tudo deserto tivemos uma última caminhada descansada e relaxante antes de nos enfiarmos num autocarro a sufocar durante oito horas. Depois, mais do mesmo. Aquecimento abafado, filmes e publicidades a passar, pára arranca, e umas sonecas. O percurso até Valladolid passava pelos mesmos sítios por onde tínhamos caminhado.  Durante um bom bocado, esticámo-nos para espreitar peregrinos a caminhar na berma ao nosso lado, muito emocionados e cheios de memórias do que sentimos quando estivemos ali, há uns dias atrás. Queríamos gritar-lhes "Buen Camino", dizer-lhe que também estivemos ali, dizer-lhes o que vem a seguir...


Depois das oito horas e meia de pura tortura automobilística, eis que chegámos a Valladolid. Será que devemos aproveitar e ir aqui à Decathlon ou seguir já para Dueñas. O Albierto e a Maria estariam a trabalhar quando chegássemos. Isso fazia a balança pender para o ficar por ali. Mas o cansaço da viagem, e querer estar num sítio calmo para assimilar os últimos acontecimentos pesavam mais e partimos para Dueñas.

Ao chegarmos tínhamos o plano de aguentar pela biblioteca, e pelo supermercado até acharmos que um deles estivesse despachado. Mas quis a sorte que o Pablo entrasse no mesmo supermercado! Dali fomos com ele direitos a casa. Mesmo estando a trabalhar, vieram todos à porta receber-nos de sorriso na cara. Levámos tudo para a "nossa casa" e tomámos um banho. Que alegria pegar de novo nas malas e rever as nossas bicicletas!
Pedi rápido ao Albierto para pôr roupa a lavar e assim que chegámos pusemos a máquina a lavar a 60º.  O Albierto veio ter connosco e ali lhe contámos a história toda de ter tido chinches e de termos acordados rodeados de piolhos. Um pouco dramático, mas achámos melhor não dormir ali. Não fosse contaminar a casa rural e estragar o negócio. Mais vale prevenir...
Levámos a roupa para a outra casa, e mais uma máquina de roupa programada para a manhã seguinte.
O Alexandre e o Albierto desarrumaram a sala de estudos do Albierto e montaram duas camas para nós. A Maria fez as camas. Ao jantar falámos do caminho, claro! Mas estávamos mais para lá do que para cá!  Aquela hora há muito que estávamos a dormir nos albergues. Boas noites e cama.


...há um ano atrás: Quirima, Angola

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