Arganil - Carreira

Chegámos a Dezembro, e ainda andamos em cima da bicicleta.

Tivemos mais uma noite tranquila no quartel dos bombeiros, com uma camarata só para nós. Despachámo-nos rápido, dissemos adeus à Dona Teresa. "Por detrás de uns grandes bombeiros há sempre uma grande mulher, neste caso a Dona Teresa". O que deixámos escrito.


Arganil, enfiado num vale profundo da serra, estava coberto de neblina. Deve ser assim a maior parte dos dias. Cada dia que passa temos menos frio de manhã, pois estamos cada vez mais a sul. Subir serras ao despertar também ajuda a ficar quentinho. E destas, não sei quantas atravessámos hoje. Andámos pela Lousã, Miranda do Corvo, Condeixa-a Nova, Louriçal... Um sem número de terras, em que dizíamos a nós próprios: "Só mais esta. Só mais esta". Subíamos e descíamos como se não houvesse amanhã. Foi divertido, mas cansativo.


Não tínhamos planeado isto, mas quando chegámos a Condeixa, já com sessenta quilómetros nas pernas, e com o sol a começar a descer, deu-nos na cabeça, e decidimos não ficar a conhecer os bombeiros de Soure, mas sim seguir em frente até à casa da Annie, na Carreia. Nem sei como o fizemos.

A estratégia seria chegar até à nacional cento e nove, antes que a luz do dia se esfumasse de vez. Esta parte conseguimos, mas o que veio a seguir, não é para repetir.
Uma coisa, é fazer mais de cento e doze quilómetros na Alemanha, onde os últimos dez, são pedalados ao longo de uma grande cidade, totalmente preparada e iluminada para os velocípedes. Outra é fazer cento e treze na nacional cento e nove. Carros por todo o lado, camiões a abrir, obras ao longo da estrada, troços de estrada completamente às escuras. Será que aprendemos algo neste ano de viagem? É a pergunta que nos invade a cabeça, quando depois de meses temos um comportamento destes!
Fomos ambiciosos. Arriscámos e tivemos sorte, armados com um colete reflector, duas luzinhas vermelhas a piscar atrás e uma quinta-feira feriado que, provavelmente ,fez diminuir o volume de trânsito.
Mas conseguimos. Chegámos dez minutos antes das sete, hora em que a Annie planeava sair de casa para os seus compromissos.

De alguma forma, senti que esta chegada, foi mais um prego no caixão da viagem. Atravessámos um pouco do Norte frio de Portugal, sem nunca ter que acampar ou chegar a sentir frio a sério. Agora estamos numa casa de amigos de longa data. A partir daqui, as etapas serão de família em família. Acabou-se, por enquanto, o factor surpresa. O começar o dia, sem saber onde vamos dormir...Acabou de acabar-se, e já estou a sentir-lhe a falta.


A Annie e a Marta, foram ao teatro. Nós... Ficámos por casa, e fizemos o nosso "teatro" com um frango e meio assado, acabadinho de sair da churrasqueira da zona. Para muita gente seria apenas mais um. Para nós, o primeiro depois de um ano de ramadão! Soube a pato!


...há um ano atrás: Monfta – La Bastide de Besplas

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