Générac - Eyguieres

Mais um dia ventoso pela frente. Levantámo-nos com as galinhas apesar de nos terem posto à vontade para ficar depois de toda a agente sair, desde que fechássemos as portas todas. Custou um bocado porque estávamos cheios de sono e rabugentos mas valeu a pena. Vale sempre a pena quando nos despachamos de manhã e papamos logo uma data de quilómetros antes do almoço. O vento empurráva-nos e às vezes tínhamos de nos inclinar contra ele para não sermos empurrados para a berma ou valeta, como fazem os motociclistas. Estava mesmo muito vento e a pequena cidade onde chegámos para almoçar, arrumou mais cedo as suas mercadorias do mercado bisemanal, porque o vento levava tudo à frente.
Comemos umas sandes num bar, tipo tasca, cheio de franceses e ficámos bastante surpreendidos com não termos de pagar nem o pão nem a água. Mesmo que seja água da torneira ninguém nos oferece um jarro de água e muito menos um cesto cheio de pão, que voltam a encher se comermos tudo.
O nosso contacto do Couchsurfing ainda não tinha respondido, e sem net, restava-nos apenas esperar que nos respondesse às SMS a explicar onde era a sua casa.
Continuámos pelas estradas rodeados de oliveiras e montanhas. Nas calmas mas sem parar, atrevo-me a dizer que estávamos a atingir um bom ritmo diário de pedaleio.
Chegámos a Eyguieres antes de começar a anoitecer e com um anúncio de Intermarché por perto, decidimos abastecer.
Entre várias entradas e saídas à vez para alguém ficar a vigiar as babes, lá recebemos uma resposta a dizer-nos para nos mantermos por ali, porque a sua casa era pertinho.
E assim foi, entrámos e saímos e petiscámos, abrigámo-nos do vento e esperámos.
À hora combinada o Romain e a Silvaine dirigem-se a nós e trocamos as devidas apresentações. A Sylvaine ficou a fazer compras e nós fomos andando, porque estavam preocupados connosco tanto tempo a apanhar este vento. Pelos vistos, quem aqui vive gosta de tudo menos do vento, que raramente dá descanso.
Antes de jantar conversámos um bocadinho, comemos uns aperitivos e experimentámos uma bebida típica da Normandia, donde era proveniente o Romain. Tudo como manda a tradição francesa. Foram sempre atenciosos connosco desde o primeiro minuto.
O jantar foi entre outras coisas uma surpresa para as duas partes. Para eles porque não tiveram tempo de ler bem o nosso perfil e não sabiam que a Ana não podia comer nada com leite. Em vez do que tinham pensado, que só para esclarecer tinha manteiga, natas e queijo, fizeram-nos uns suculentos bifes. O Alexandre teve a coragem de perguntar porque é que eles estavam assim vermelhos, em sangue. Para eles é uma refeição normal e com o hábito, que não desejo adquirir, tenho a certeza que é muito bom, mas custou-nos muito a comer aquele bife cru. Nós não somos chiques, é o que se pode concluir. Nunca poderemos ser verdadeiros franceses não gostando assim desta carninha tenrinha, cozinhada apenas o suficiente em cada lado para adquirir uma corzinha. O Romain é que estava nas suas 7 quintas e após termos junto os talheres em cima dos pratos fez-se aos bifes literalmente.
Mais uma vez a sanita estava sozinha numa pequena divisão, enquanto a banheira e o lavatório ficavam na parte de cima, junto ao nosso quarto.
A casa era fantástica. Com as dimensões perfeitas para nós. Tinha uma espécie de casa de arrumos no exterior, com sítio para churrascos, estender a roupa e no Verão havia uma piscina do condomínio que eram praticamente os únicos a utilizar. Os vizinhos eram de idade avançada.. A decoração deixou-me encantada com pequenos pormenores que a própria Silvaine gostava de fazer. Também eles tinham o tradicional pratinho cheio de trigo a brotar. No início de Dezembro cada pessoa faz o seu pratinho e no dia de Natal põe-se na mesa. Conseguir fazê-lo chegar até lá exige pouco trabalho mas ainda assim é um bom prenúncio para o ano vindouro.
Todos estávamos cansados e ninguém conseguiu disfarçar. Acabámos o jantar e fomos fazer um soninho descansado. No dia seguinte não tínhamos despertador e era sábado por isso o Romain não ia trabalhar, só a Sylvaine.

1 comentário:

Nuno Vieira disse...

Esse vento forte e incessante não será o famoso Mistral, velho conhecido de quem viaja de moto por essas paragens?