Luynes - Gonfaron

O fantástico ciclo da água...
Acordámos com os sacos cama exteriores todos molhados e os pés congelados. Nem chegámos muito bem a dormir, se completámos um ciclo REM já foi muito. A nossa respiração e calor corporal derretiam o gelo que se formava por causa do nosso calor. E assim mantivemos água em estado liquido dentro da tenda, a cair em cima de nós durante toda a noite.
Saímos da tenda e entre cada coisa que arrumávamos, era obrigatório uma paragem para esfregar as mãos, ou soprar-lhes umas baforadas de dentro de nós. As dores eram tantas que parecia que os ossos eram de gelo e estavam a queimar-nos por dentro.
A tenda estava tão tesa com o seu revestimento gelado que parecia uma folha estaladiça prestes a partir-se. Nem a conseguíamos sacudir, e esfregar com um pano era o mesmo que nada.
Mas conseguimos partir. Para começar a ganhar alguma sensibilidade nas placas de gelo que tínhamos dentro dos sapatos, andámos até um café para beber algo quentinho e usar o WC. Aproveitámos e despachámos logo as compras para o almoço.
Pedalámos por aí a fora com a intenção se só parar num MacDonalds para aceder à net e avisar a Jill e o John que afinal não iríamos conseguir chegar lá neste dia.
Perto das 13h avistámos um Mac ao lado da estrada e, rapidamente, enchemos os cantis e enviámos o email.
Ainda deu tempo para consultar o mapa. Parecia que afinal até casa dos J&J eram só 57km. De manhã com os atrasos todos só pedalámos 20km. Olhámos um para o outro e entre dúvidas e acertos de paragens comprometemo-nos em só parar quando lá chegássemos. Já fizemos 60km em 4 ou 5 horas, mas sempre de manhã, porque à tarde temos que contar com o chegar aos sítios e procurar pelas casas, já para não falar de que às 17h está a anoitecer, e pedalar à noite não faz parte dos planos. Mas a noite mal passada e a vontade de poupar o dinheiro de uma noite num albergue ou parecido, encheu-nos de pica.
Foi a loucura, paragens super minis só para confirmar o caminho e beber água. Parecia que tínhamos tomado alguma coisa porque os nossos conta quilómetros mostravam 27km/h de velocidade instantânea e nós sem parar de pedalar. Nunca tínhamos pedalado assim.
Às 17h30 já tínhamos chegado ao sítio e com umas perguntinhas aqui e ali encontrámos a casa. Fizemos 88km no total, o que quer dizer que à tarde fizemos 68km em 4 horas e meia. A sensação ao fim do dia era fantástica. Só dizíamos um ao outro: "Conseguimos!"
A casa estava tão quentinha. Tomámos um chá, e conversámos enquanto a Jill dava de comer às gémeas Camille e Celéste, de dois anos. A Cristina, que também estava a fazer HelpX como nós, tinha feito uma sopa deliciosa cheia de fusilli, mesmo boa e quentinha.
E acaba aqui a nossa aventura este ano. Vamos ficar aqui parados a passar o Natal e talvez o ano novo. Trocamos o nosso trabalho, como cozinhar, limpar, pintar, olhar pelas meninas, e o que se arranjar para fazer, e eles "pagam-nos" com comida e casa.
São americanos e estão a restaurar esta fantástica casa de 220 anos há 5 anos. Há muito que fazer e dá sempre jeito uma extra help. Amanhã chega outro casal que vem através do HelpX e também são americanos.
A Cristina que tinha previsto passar 3 meses aqui em França, foi surpreendida pelo frio e mudou de planos e vai passar o Natal noutro HelpX em Itália, a trabalhar na recepção de um hostel. A Cristina é completamente bestial. Tem 60 anos, é do Uruguai, tem filhas e netos, viveu cerca de 30 anos em New Jersey, na cidade onde filmaram Os Sopranos. E a padaria, o talho, a mercearia que ela usava eram as que se utilizavam nas filmagens. Elas existem mesmo. Viaja sozinha há 3 anos através do Couchsurfing, e do HelpX  e não se cansa. Foi uma das primeiras hippies e participou no primeiro Clean Air Act, que houve nos Estados Unidos.
Então adeusinho, e até pró ano.

BOAS FESTAS.

2 comentários:

D. disse...

Mando-vos um abraço quentinho para os dias frios.....este vosso texto até me fez arrepiar!!!!

R.

Joana Antunes disse...

Bom anooooooooooooooooooo!