Tarasteix - Villenueve-de-Riviére

Às 8h30m já estávamos em cima dos selins. Um dia magnífico, céu limpo. A vista fantástica dos Pirenéus à direita. Estrada plana.Perfeito.
Perto das 12h30, começou a nevar. Uns farrapinhos muito pequeninos, que assim que tocavam no chão desapareciam. Quando decidimos parar para almoçar e refugiar-nos do tempo, a neve parou.
A ideia de cozinhar, parecia boa, porque saberia bem uma comida quentinha no meio de tanto frio. Mas não foi preciso muito para preferir as sandes. Uma opção muito mais rápida e menos fria, por causa de termos de lavar a loiça. No Verão cozinhamos com fogão, no Inverno comemos sandes!
Regressámos à estrada e minutos depois recomeçou a nevar. Desta vez com mais intensidade. Parámos para vestir os impermeáveis: calças, casacos e luvas. Como uns bonecos michelin, sentimo-nos um pouco atordoados com este novo clima, experimentado pela primeira vez na bicicleta. E tirando a neve que caiu em Portugal há cerca de 5/6 anos, foi a nossa primeira vez a sentir neve. Uma experiência com várias emoções contraditórias à mistura, mas muito positiva. Adorámos. Os alforges ficaram cobertos de neve em cima, assim como os casacos, as luvas, e o volante da bicicleta. Mais uma hora de caminho e já tinha desaparecido tudo. A vila de destino estava perto e estávamos de bom humor. Quando chegámos mandámos uma mensagem a avisar os nossos hosts do Couchsurfing. Telefonaram a pedir-nos para aguardarmos pela sua chegada. Vieram e após as apresentações seguimo-los de bicicleta. Avisaram-nos da subida de 1,5km mesmo antes da sua casa, e ofereceram-se para carregar as nossas malas, ao que respondemos não. Mantemo-nos firmes até agora em pedalar tudo. No cheating.
A subida, era de facto ingreme, e longa. Nas  mudanças mais baixas e muito muito devagar fomos subindo, um pouco constrangidos com a presenças dos nossos anfitriões que insistiram em manter-se por perto.
Mal entrámos na garagem deparámo-nos com uma tandem, umas 4 orbeas e mais umas 2 ou 3 outras bicicletas à vista. Sabíamos de antemão, por consultar o perfil no Couchsurfing, que já tinham pedalado nas férias, na América e outros países.
A casa era lindíssima, cheia de quadros por todo o lado, biblots referentes ao mar, e a decoração muito delicada. Parecia um museu, no bom sentido, se é que pode ter um mau. A mesa estava posta com chá e biscoitos, que depois de confirmar que eram sem leite comemos gulosamente. E conversámos. Sobre bicicletas. O primeiro e único casal até agora que já fez e percebe o que estamos a fazer de uma maneira mais empática. A Geneviéve (Gené) e o Vincent. O vincent tem um porte que recorda o Gerard Depardieu, era grande. E a Gené um aspecto frágil, mas doce. Encheram-nos de perguntas sobre aspectos técnicos da viagem e das bicicletas, e partilhámos experiências vividas até então. Quiseram mostrar-nos o seu vídeo, já editado, da viagem pela América. Custou um bocadinho porque estávamos muito cansados e sonolentos. Mas conseguimos. Tomámos banho, com o conselho de que um banho de imersão é melhor para a recuperação muscular.
O jantar foi servido de seguida. Como não poderia deixar de ser comemos massa, com carne. As conversas e conselhos sobre bicicletas continuaram. Muitas dicas, muitos truques de quem já faz ciclismo à muito tempo. As suas viagens começaram após muitos anos de ciclismo e os conhecimentos adquiridos então adaptaram-se a estas viagens. Conselhos como alternarmos a cada 1km quando há vento de frente ou de lado, controlar o tempo das paragens para não ultrapassar os 5 minutos, por causa do ácido lácteo, e muito mais. O que mais nos chocou mais foram os 190 km percorridos num único dia, dito como se fosse a coisa mais normal do mundo. Até tivemos vergonha de dizer quantos tínhamos feito ou costumamos fazer. Até Tarasteix fizemos 94km e estávamos com o ego dans les nuages, mas depois deste encontro 80km por dia nunca mais vão ser o mesmo.

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