Trapani - Petrosino

Aos poucos, os marinheiros, os pescadores foram ligando os motores dos barcos, enchendo tudo de fumo e barulho, ligavam também as luzes. Alguns carros a passar por nós, uns nem nos viam, outros sim, mas ignoravam a nossa presença. Um carro estacionou mesmo a uns 5 metros de onde estávamos. Um senhor saiu, entrou na porta lateral do escritório onde estávamos acolhidos à entrada. Passados alguns minutos voltou a sair e foi-se embora de carro.
A chuva continuava a cair, ligeira.
Eram 5 e meia.
Cada vez mais gente, a passar por nós. Pessoas sozinhas, ao pares, em grupos maiores, a fumar, de guarda-chuva aberto, de casaco apertado até ao topo, gorros, e aconchegos quentinhos, malas de rodinhas, malas na mão, a tiracolo, passos seguros e apressados. Quando alguém reparava em nós, continuava como se fosse normal. Encontrar duas bicicletas cheias de malas e no meio, dois marmanjos de sacos cama vestidos, deitados a dormitar, no chão de um escritório da Agip.
Forçámo-nos a tentar descansar, mas quando outro senhor da Agip entrou na porta lateral, resolvemos desistir de lutar contra a maré e em cinco minutos tínhamos mudado de poiso e passado à posição de sentados, debaixo de uns bancos, para quem espera pelos barcos. Nós e mais outra nova remessa de passageiros a baforar os nossos narizes com o fumo dos primeiros cigarros do dia.
Esperámos que clareasse e fartos deste início de dia, saímos para a chuva de bicicleta debaixo do rabo.
Foram só 40km até casa do Andrea. No meio de uma vila, almoçámos nuns bancos abençoados com sol.
O Andrea nunca mais dava sinais de vida e enquanto ele não dizia nada, andámos por ali a perguntar aos poucos que víamos, se conheciam algum Andrea que fazia iates.
Com um plano  na manga caso ele não dissesse nada, resignámo-nos a esperar na praça combinada de frente para o mar.
O Andrea chegou, e seguimo-lo mais um ou dois quilómetros até à sua casa.
Pôs o seu quarto à nossa disposição, mudando-se para a sala, onde tinha o computador onde trabalhava.
Antes do jantar fomos abastecer a casa dos seus pais e voltámos para cozinhar um jantar tardio demais, para dois ciclistas cansados. Mais 40 minutos porque o gás tinha acabado, e tinha que se ir buscar mais.
Lá pelas 23 horas estávamos a jantar.
Felizes, por ter uma casa, cama e comida boa, fomos dormir sem sentir balanços nenhuns.

Sem comentários: