Pachino - Augusta

Se continuarmos na Sicília muito mais tempo, bem que podemos dizer adeus às bicicletas, vendê-las ou dá-las, e começar a rebolar. Em Sardenha avisavam-nos que eles aqui na Sicília eram um bocadinho mais curvilíneos. Não que encontremos pessoas gordas, mas a verdade é que estamos sempre a comer. Muito e bem! Não sei se existe uma expressão para quando se come assim mas acho que deveria ser "comemos, à grande e à siciliana/italiana".
E ja temos comentários de como no nosso blogue há sempre constante o assunto da gastronomia.
Estamos na Sicilia meus amigos... a comida italiana é património imaterial da Unesco.
Para adiantar tempo comemos umas sandes antes de sair, mal sabendo o que nos esperava para o pequeno-almoço, na casa ao lado. Já de barriga cheia, não conseguimos recusar o que tinham preparado para nós. E assim lá comemos mais uns pãezinhos com doce, e bebemos um delicioso leite de amêndoas caseiro, acabado de preparar.
As despedidas foram-se fazendo entre sessões de fotografias de grupo, últimas verificações de trajecto e brincadeiras de quando chegarmos à Nova Zelândia avisarmos para se abrir o champanhe.
Estes 3 dias passaram a correr e souberam a pouco. Foi uma experiência de Couchsurfing, mas podia não ter sido. Sem Couchsurf, a Giusi acolhe pessoas, amigos, viajantes, e igualmente ela parte à aventura à procura dos outros, há já muito tempo. A bondade existe e ela acredita nela.
O vento estava em sentido contrário. Custou-nos um pouco ao início e depois de 3 dias só a comer. Mas em 50 km chegámos à bela Siracusa, a cidade dos limões, a horas para um almoço com vista.
Um almoço que mais parecem gulodices, de tão bem que sabem. A acompanhar o calor do sol a aquecer a roupa e a pele, a fazer-nos fechar os olhos, e a sentir uma molenguice de preguiça.
A Maria que nos esperava em Augusta relembrou-nos dos nossos compromissos.
Serpenteámos junto aos muros que nos separavam do Mar Iónico, a rebentar nas rochas a poucos metros de nós. Entre os precipício para o mar e as fachadas antigas dignas de uma cidade histórica, sentimo-nos no meio de um filme italiano, cheios de sol e mar, a passear de bicicleta.
Uma paragem num posto de gasolina, e a curiosidade típica dos sicilianos a fazer os dois trabalhadores aproximarem-se cheios de perguntas. Meio incrédulos, meio gozões disseram-nos adeus intrigados e divertidos sem tempo suficiente para perceberem como é possível viajar de bicicleta.
Uns 10 km a mais do que nos mostrava o mapa do Google, juntaram-se a mais 20km feitos por uma estrada repleta de chaminés fumegantes, cheiro a químicos, fábricas feias, fizeram lembrar-nos da famosa nacional N10. Ao fundo a destoar de toda esta poluição visual, e não só, o Etna a erguer-se de uma nuvem, coberto de neve, que os sicilianos, dizem conferir-lhe um aspecto de bolo, não fosse esta uma terra onde a comida é prioridade.
A Maria surpreendeu-nos esperando por nós junto à única entrada para cidade. Seguimos atrás dela, e como não podia deixar de ser, num dia de mais de 80km, os últimos quilómetros foram a subir. Para terminar em grande.
Uma hora de carro depois e estávamos nós em Buccheri,na sala da Alfina, à espera que chegassem o resto dos amigos. Sem trocarmos uma palavra, imaginámos, cada um para seu lado, mais 2 ou 3. Qual não foi a surpresa quando depois de tocarem à campainha vemo-nos a cumprimentar três casais e os respectivos pares de filhos de todos eles!
21h30 e a fome apertava. Seguimos em fila, como num baptizado, todos à espera uns dos outros, para o restaurante. A mesa reservada com 13 lugares, sem contar com os bebés que se sentavam ao colo, ou nos carrinhos.
dois bebés, três mais crescidos e um na barriga mostraram-nos outra parte da vida siciliana que ainda não tínhamos visto.
Comemos pizza, acompanhada de risos divertidos, conversas, fotos e choraminguices de sono.
Regressámos a casa, a lutar ferozes com a força hercúlea que as pálpebras tinham ganho, durante uma hora embalo de curvas, altos e baixos, em estradas sem iluminação.

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