Gizzeria Lido – Rogliano

Sem vento e em absoluto silêncio. Esta floresta junto à praia, com pinheiros e eucaliptos queimados transmitia sensações estranhas. Recebemos uns SMS quando ligámos o telemóvel. Parece que os nossos amigos ciclistas franceses esperaram por nós para que tentássemos acampar todos juntos. Mas nem sempre as tecnologias de comunicação funcionam a 100%.

Arrumámos as coisas, comemos uns biscoitos e umas laranjas (ainda tínhamos umas quantas do campismo anterior) e seguimos caminho. Dois quilómetros mais à frente, vimos o sítio onde os nossos companheiros armaram barraca. Mas já lá não estavam. Eles são demasiados rápidos e nós demasiado lentos.

Pedalámos uns valentes e rápidos 10 ou 15 quilómetros. Podia ser que os conseguíssemos apanhar... Mas era domingo e tudo estava fechado. Por isso quando apareceu um supermercado aberto, aproveitámos para orientar as refeições do dia. Enquanto um estava às compras o outro ficou cá fora. E eis que, para não variar, um italiano se aproxima para perguntar de onde somos. Parece que quanto mais para norte vamos, mais curiosas as pessoas ficam. Este italiano, tinha trabalhado em França durante uns anos e os seus colegas eram Portugueses. Tinha metido conversa com o nossos ciclistas franceses, no mesmo sítio onde nós estávamos agora. Mas há uma hora atrás... Mas deu-nos umas boas indicações, para chegarmos ao nosso destino pelas estradas menos inclinadas.

Na vila seguinte, virámos para o interior. Começámos a dizer adeus à costa e ao mar. Começámos a subir, a suar e a ficar cansados. Depois do ritmo rápido da manhã os 16km que se seguiram foram feitos a passo de caracol, com demasiadas paragens para descansar (às vezes de 100 em 100 metros) e com paragem para o almoço. Finalmente, estávamos a conhecer a outra face de Calábria. Menos povoada e campestre. Muitas montanhas e estradas sinuosas. Muitas casas de campo e vilas perdidas nos montes. Cabras, galinhas, vacas e cães todos à solta ou presos, pintavam o verde e castanho selvagem da flora.


Mas a lentidão e o cansaço de subir, de passar horas a subir até aos 850m têm as suas regalias. Em certos locais, podíamos ver toda a Calábria que havíamos pedalado os últimos dias. A partir de certa altura, sempre que olhávamos para o mar, o vulcão Stromboli e as suas vizinhas ilhas decoravam o horizonte, assim como os raios que o sol conseguia romper através das nuvens para tentar aquecer o mar Jónico.
Foi lento... mas depois de entrar no ritmo, até foi fixe. Já lá em cima, relembrámos o frio do Inverno nas alturas e quando começámos com as descidas e subidas, ui ui!

Com o sol despedir-se, e às portas inclinadas de Rogliano, decidimos perguntar pela rua dos nossos anfitriões. Seria estranho que eles vivessem dentro da cidade, pois sabíamos que tinham campos cultivados, ovelhas e galinhas a fazer parte da família. Um senhor sai de casa e antes de entrar no carro é abordado pelos dois ciclistas de biclas gigantes e de aspecto alienígena. "Têm que voltar atrás, virar à direita, subir e virar à esquerda lá em cima", dizia ele. "Se forem pela cidade é mais longe e não vos convém", a estrada é "brutissima", avisou-nos ele. Ok. Voltámos para trás, descemos, voltámos a subir (e que subida!!) e lá mais à frente, já com a escuridão a dominar, um carro junto à bifurcação. Ele parou para olhar o estranho casal e nós aproveitámos para obter mais indicações. Num golpe do destino, a senhora do carro era irmã da nossa anfitriã! Deu-nos indicações precisas e avisou-nos que era mais um quilómetro de subidas e descidas. Nada de especial, mas na escuridão, depois de um dia em montanha e com o sempre presente fantasma da roda traseira que se podia partir a qualquer momento, estávamos cansados!

Ao sentirmo-nos a aproximar de uma casa, começámos a ter dúvidas se seria aquela, mas nem pudemos deixar-nos levar porque aparece um carro e pára ao nosso lado, abre a janela e diz: "Anna? Alex?" Nós acenámos positivo e ele sai do carro e apresenta-se "Hi, I'm Keith!". Mais uns 300 metros e já tínhamos passado os portões e cumprimentávamos a Maria.

Acho que fomos, até agora, os mais autónomos na descoberta da sua casa. Eles dizem que até o carteiro se perde para lá chegar. Como nenhum deles, tinha visto as nossas sms's nos 2 últimos dias, chegámos um pouco de surpresa. Se não fosse a irmã  da Maria a telefonar-lhes, teríamos chegado mesmo 100% sem sermos esperados. Fizemos o nosso jantar, pois eles já tinham comido, e conversámos um pouco antes de irmos descansar. Vamos ver durante quanto tempo vamos descansar...

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