Gallico – Gioia Tauro

Ficou combinado que o último a acordar era um ovo podre! Mentira! Mas ficou combinado que para termos uma despedida em grande, sairíamos de casa às 7h30m. Dirigimo-nos para o café onde nos encontrámos e quando entrámos o que vimos não vamos esquecer: montras gigantes, com tabuleiros gigantes, cheios de croissants empilhados, separados pelo creme que continham no interior. Nutella, e como se a nutella não bastasse, no mesmo croissant, adicionavam uma esguichada de chantily e salpicavam com açúcar em pó. Chocolate, ricotta, chantily, pistachios, doce, o que consigam imaginar de exagero de doce. E toda a gente lá dentro segurava um na mão e comia com a boca cheia e um ar de felicidade. Todos menos a Ana...
Despedimo-nos e prosseguimos mais uns quilómetros até à padaria que o Luca nos tinha ensinado, para abastecer com o delicioso pão antigo, feito sem se adicionar fermento. Foi a vez da Ana satisfazer o seu palato.
Depois sim, pudemos continuar, ou melhor, iniciar, viagem.
Mais uns quilómetros e começámos a sentir uma ligeira inclinação no terreno. Sabíamos que tínhamos uma subida de muitos quilómetros pela frente. Felizmente, que o Domenico e o Domenico, a quem todos chamam pelos diminutivos de Mimmo, cruzaram-se connosco em sentido contrário e resolveram voltar para trás para falar um bocadinho connosco. A meio da conversa ofereceram-nos um café e nós aceitámos. Seguimos em fila atrás deles até à cidade mais próxima até ao café.
Podíamos escolher o quiséssemos e lá marchou mais um croissant com doce e um café. Aqui chama-se cornetto, e ai de quem, ai de quem lhe chame croissant. Nunca se poderá comparar um croissant a um cornetto, tão completamente cheio de doce que nem sequer se consegue fechar ou dar uma trinca sem que saia creme pelo lado oposto, ou se fique com um bigode açúcar e creme.
Acrescento que o Alexandre, antes de sair de casa ainda teve tempo de comer um panettone com café para fazer companhia à Domi, contabilizando assim, três cafés/pequenos-almoços durante a manhã.
O Mimmo e o Mimmo foram o toque especial para nos enchermos de energia para a longa subida que se seguia. Entre curvas e contracurvas fomos subindo, subindo, subindo.
E mais à frente já sem subidas a fazer, parámos perto de um posto de gasolina, num muro resguardado do vento, a preparar o almoço.
A estrada que se seguiu era tranquila, e cheios de pica dos quilos de açucar ingeridos pela manhã, num instante fizemos os quilómetros que queríamos fazer nesse dia. Eram 15h00 quando começámos a procurar sítio para pernoitar.
À nossa volta campos de oliveiras, limões e laranjas. Num rápido vislumbre, ao passar, vimos uma estrada secundária, de terra batida, com uma corrente que dava para passar para o outro lado e resolvemos verificar se seria um bom sítio para ficar.
Montámos a tenda num instante.
Uma relva fofinha, verdinha fresquinha, oliveiras fila sim, fila não, sempre de duas em duas laranjeiras. Laranjas, tangerinas, mandarinas, clementinas. É pró menino e pra menina! Centenas de bolinhas cor de laranja penduradas em bolas gigantes de verde vivo, que se deixavam trespassar em alguns sítios pelos raios e sol que tocavam no solo. Se olhássemos com atenção, escondidos entre as folhinhas mais baixas das ervas rasteiras, havia montículos de formigueiros, e em muitos sítios sem ervas, víamos estradas de terra revolvida com buracos no fim de uma em linha recta, que davam acesso a estes fantásticos túneis. Espalhados aqui e ali víamos cartuchos de espingarda, dando-nos a certeza que este sítio estava pejado de coelhos/lebres. Depois alguns minutos em silêncio a ler e escrever, vimos alguma coisa a mexer-se debaixo da terra e a percorrer um dos caminhos de terra junto da nossa tenda.
Não comemos coelho à caçador ao jantar, mas focaccia e pizza que já tínhamos à nossa espera nos sacos. Seguiram-se mais dois episódios do The Walking Dead. Tivemos imenso tempo para fotografias, para passear até ao fim do pomar, ler, escrever e descansar no meio deste verde verdejante cheio de clorofila. Levantar a mão e colher uma laranja, que comíamos de seguida. Lembrando-nos do Andrea de Petrosino, a dizer que entre a fruta ser apanhada e colhida se perdia uma valente percentagem de nutrientes. Nós colhemos a vitamina C directamente da fonte. Melhor, só abocanha-la ainda na árvore.
Gostava de agradecer ao dono deste pomar por um dos campings mais tranquilos e bonitos onde já estivemos.

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