Rogliano - Ferramonti

Sem pressas...
Sem pressas para acordar, sem pressas para tomar o pequeno-almoço e sem pressas para partir. Depois de aqui estar durante uma semana, não íamos partir a correr de certeza.
Acordámos cedo, preparámos a bagagem e fomos para esta bela cozinha uma última vez. Enquanto uns faziam crepes, outros preparavam bacon, ovos estrelados e feijões. No fim, não sobrou nada deste english breakfast com toque final "à lá crep", recheados com Nutela e marmelada caseira de laranja. Nham, nham!


Soube muito bem descansar esta semana, mas voltar de novo à estrada e receber todas as surpresas que ela trás, é um belo prazer. De novo as paisagens constantemente novas e sempre a passar. Os buzinões e tangentes dos camiões. As paragens em busca de mantimentos ao melhor preço, para as refeições diárias, o fantasma da roda traseira que se pode partir a qualquer momento e os travões da Ana que não funcionam como deviam. De novo o olhar na estrada e no céu, a tentar prever se aquela nuvem vai ou não descarregar, se aquela colina é suficientemente inclinada para tirar o casaco e a busca incessante da estrada certa. A seguir a auto-estrada, a cruzá-la por debaixo e por cima, a intercalar o caminho de ferro. A agitação de uma cidade grande como Cosenza a contrastar com a pacatez do campo. O tráfico de cidade e o parco tractor junto à estrada secundária.
Se sabe bem descansar, é porque é a viajar de bicicleta que lhe damos o verdadeiro valor.


Já com o sol a esconder-se e as nuvens a passar de branco para cinzento, começámos a procurar junto à estrada por um sítio abrigado onde pernoitar. A noite avizinhava-se molhada qb!
Eis que, como sem esperar muito, os céus começam a despejar tudo e mais alguma coisa que lá em cima carregavam. Sem nada à vista, virámos para uma estrada batida e parámos para discutir a melhor estratégia. Um casal de idosos, a 50 metros, abrigados dentro da sua motocicleta de três rodas e caixa aberta, olhavam curiosos para nós... O homem sai e nós aproximámo-nos para perguntar por local abrigado onde montar a tenda. Num Italiano inexistente e com forte dialecto calabrês, lá percebemos que os edifícios atrás dele, estavam desocupados e que por ali não ia ninguém.

Agradecidos, aproximámo-nos, cautelosos e de sentidos apurados para o mínimo sinal que nos impedisse de continuar na nossa demanda por um abrigo. Aos poucos lá nos fomos embrenhando na zona. Primeiro debaixo do tecto, depois nas traseiras do armazém. Uma porta aberta e mais outra escancarada lá à frente. Passado dez minutos depois de falar com o homem, já estávamos a discutir se seria melhor montar a tenda nos escritórios do primeiro andar ou nos espaços abertos do rés-do-chão!

Um local a lembrar os filmes pós-apocalípticos de que tanto gostamos, ou as histórias de de zombies que apenas alguns apreciam no seu verdadeiro potencial. Tudo espalhado por todo o lado. Ganga que não chegou a tornar-se calças, caixotes de trapos, papéis e dossiers, bidons de químicos e esquecidos computadores arcaicos. Tudo numa ténue luz, dum fugaz sol, que ambientava e apimentava o local. Muito divertido este nosso primeiro camping de fim-de-mundo!

Dispusemos os rolos de tecido no poeirento chão do escritório, montámos a tenda, os bancos e arranjámos uma mesita ferrugenta para o jantar. Depois da paparoca, fugimos para o saco-cama e para os sorrisos que apenas dois episódios do Seinfeld conseguem provocar. Tudo ao som de um dilúvio que lá fora se fazia ouvir.

Desta vez tivemos sorte. Vejamos como corre amanhã. Vejamos se os céus nos deixam secos até ao próximo destino.

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