Fiumefreddo di Sicilia - Gallico

O dia começou cedo para os trabalhadores dos pomares perto do nosso acampamento! Foi a desculpa ideal para arrumar as coisas e começar a pedalar cedo.
Serpenteámos pelas estradas até chegarmos à principal. A partir daqui já só avistávamos os Etna às vezes, entre os intervalos de uma colina, pomar ou edifício. Cada vez mais distante, cada vez menos visível.
Até à próxima Etna.
Num pequeno posto de gasolina parámos. Descansámos um pouco e extasiados debatemo-nos com a vontade de fotografar o local onde outra dupla de ciclistas, os nossos gurus Going Slowly, dormiram, quando visitaram Sicília há uns anos atrás.
Seguimos caminho a subir, na estrada junto à costa, aos zigue-zagues, recordando-nos da Riviera francesa.
Mais à frente, voltámos a parar para comer qualquer coisa. O pequeno almoço tinha sido fraco, e a subida ajudava à fome.
No meio dos carros, que subiam de ambos os lados, aparece um casal de ciclistas numa tandem a pedalar cheios de energia. Nós meio aparvalhados lá acenámos à sua passagem. Mas, uns metros à frente e a rapidez que traziam travou e desmontaram da bicicleta. A bicicleta que tínhamos visto em Pachino, era esta! Eram eles!
Avançámos em direcção a eles já com sorrisos rasgados nas caras. Apresentações feitas e foi um sem fim de conversa sobre bicicletas e viagens. Como fazem isto e aquilo? Ah, nós também! Quando partiram? Onde vão?
Estratégias, truques. As perguntas e a curiosidade não se esgotavam. Já a olhar para os relógios, porque nesta vida de andar de bicicleta, é importante estar já confortável dentro da tenda quando o planeta gira e deixamos de receber a luz do sol, onde estamos.
Os 4 em fila pela estrada, seguíamos orgulhosos desta nossa procissão de cycling touring. Vamos mostrar ao mundo que somos muitos e contentes. Já que estávamos todos a explodir de alegria deste encontro. Ao que parece o Tom e a Pauline pedalaram toda a Sicília a ouvir os locais a dizer que mais à frente tinham outro casal como eles. Finalmente, no último dia na Sicília, nos últimos quilómetros que faltavam pedalar, encontraram-nos e pedalámos juntos.
Parámos num jardim para fazer um almoço quentinho no fogão. Mais uma vez, espreitávamos e mostrávamos o material uns dos outros, o fogão, a loiça, o que se come, como se cozinha, como se lava, tudo era interessante. Parecíamos crianças a mostrar brinquedos uns aos outros.
Nós tínhamos uma casa à nossa espera do outro lado do Mediterrâneo, mas os nossos novos amigos franceses não. Trocámos umas sms's com os nossos couchsurfers, na esperança de que pudessem albergar mais um casal de ciclistas. Mas só tinham espaço para dois ciclistas e as suas tralhas. Já nos imaginávamos num serão divertido todos juntos e quentinhos.
O Tom e a Pauline assim que confirmámos que teriam de acampar, puseram a 27ª mudança da sua tandem e aceleraram estrada fora, para conseguirem ter tempo de chegar ao outro lado e procurar uma lugar para acampar ainda com luz. Nós seguimos atrás deles, com a língua de fora, mas ao fim de meia hora já os tínhamos perdido de vista. Será que pedalar numa tandem os torna mais rápidos? será por serem um pouco mais novos que nós? Será que nós amolecemos porque a cada dois dias temos uma cama quentinha, e uma dia de descanso?
Mais à frente voltámos a encontrar-nos. À entrada de Messina parámos na berma onde eles tinham encostado para comer chocolate. Antes do porto, visitámos uma padaria para biscoitos e pão saciarem a nossa fome titãnica.
Já no porto, sofremos um bocadinho porque o senhor da bilheteira achava que a bicicleta deles era grande de mais para o barco. Mas com uns telefonemas e umas conversas com o pessoal do porto e já estávamos todos a conversar alegremente e com os bilhetes na mão, todos contentes por termos mais uma hora com os nossos amigos.
Quando chegámos à Villa San Giovanni, já era noitinha. Nenhum de nós gosta e costuma pedalar de noite, e por isso apressámos as despedidas e separámo-nos. Nós para uma casa quentinha, eles para um hotel. Já era escuro demais para procurar sítio e acampar.
Num instante chegámos a Gallico. O Luca veio ter connosco ao café combinado e seguimos atrás do carro até sua casa.
A casa era fantástica , mas ainda não estava acabada, pequenos acabamentos de que o Luca se encarregava e que faziam toda a diferença. Tinham painéis solares que forneciam energia a toda a casa, e um quadro de electricidade que permitia desligar e ligar cada ficha, interruptor, quarto em separado, e descobrir mais rápido origens de curtos circuitos. Pequeninnas coisas, mas que mostravam que este jogador de Risco, com vários troféus de primeiro lugar, pensava na sua estratégia com muita antecedência, antes de mandar as tropas para a guerra.
O jantar fez a Domi quando chegou do consultório e estava uma delícia. Os 4 esparramados nos sofás tentámos prolongar o serão mas foi difícil esconder os bocejos e os olhos cansados.

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