Catania – Fiumefreddo di Sicilia

A família despertava e saía de casa às 8 da matina. Nós com eles saímos.
Ermano saiu connosco, para nos guiar a uma boa padaria da metrópole, não muito longe da sua casa. Tudo normal até aqui, não fosse o facto de isto ser uma grande cidade, ser hora de ponta e o Ermano ir de carro e nós atrás dele de bicicletas, no meio de estradas multi-faixas, lambretas e aceleras, no meio do trânsito, de ramelas nos olhos. O que vale é que era sempre a descer!
Depois de alguns minutos de agitação, lá comprámos o pão e seguimos caminho, determinados a sair desta cidade o mais depressa possível. Montámos no selim, e começámos a batalha dos semáforos, carros mal estacionados, buzinadelas por todo o lado e enxames de vespas que faziam razias a tudo e todos, e carros a enfiarem-se por tudo o que era sítio.
Depois de alguns minutos stressantes a seguir a manada, saímos das bicicletas, subimos o passeio e fomos a andar até sair da cidade e do caos. Ainda demorou um bom bocado, mas antes tarde e inteiros do que espatifados e stressados.
De volta à estrada, já nos arredores de Catania, uma descida e um buraco sorrateiro, decidiram fazer um grande barulhão quando a roda traseira foi lá parar a grande velocidade. Ainda me pus a olhar para ver se estava tudo bem com a roda, mas não se via nada de anormal.
Hoje seria dia de campismo. Nada de horas marcadas e trocas de sms's. Nada de procurar ruas e perguntar por vilas e caminhos. Nada de apresentações, adeuses e bons dias. Nada de quatro paredes e tectos. Hoje iríamos pedalar até nos apetecer, montar a tenda onde calhasse e adormecer com o vento lá fora.
Seguímos por estradas secundárias, junto à costa, maravilhados com os berçários das laranjas, oliveiras, limões e tudo o que era citrinos típicos desta ilha.
Lá para o meio da tarde, naquele que seria um dia perfeito de pedaleio junto ao mar com laranjas por todo o lado, estradas desertas e o Etna a embelezar a paisagem, um barulho veio estragar o dia. A roda traseira estava a roçar nos travões. Não era culpa dos travões. Muito mais grave. Depois de um dia a pedalar sobre uma roda torta, sempre a piorar, finalmente foi demais para ela. Tínhamos um problema.
Trocámos os alforges traseiros das bicicletas, para tentar pôr menos peso na roda e fomos devagar devagarinho, até à primeira vila que nos apareceu, com a esperança de algo que se assemelhasse a um entendido de bicicletas. Pergunta ali, vai para ali. Pergunta a outro, vai para acolá. Lá encontrámos um "gommista". O negócio dele eram pneus de automóveis, mas mantinha um negócio paralelo de bicicletas e peças sobressalentes.
Com muita técnica e instrumentos arcaicos, lá foi endireitanto a roda ao sabor do tacto e anos de experiência (espero eu!), até que a tortuosa se assemelhou mais a uma direita. Mas o aro já apresentava rachas junto aos raios e ameaçava partir de um dos lados. É o princípio do fim... da roda traseira!
Rezando para que o aro aguentasse, não o resto da viagem ou o resto da Sicília, mas apenas o resto do dia, procurámos no lusco fusco por um poiso recatado onde montar a tenda.
Num terreno baldio, com o Etna por detrás e um aro a morrer, descansámos as nossas preocupações até ao dia seguinte.

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