Ferramonti - Castrovillari

A noite foi atribulada. A chuva era tão forte a bater no tecto de metal, que às vezes acordávamos com ela. Ainda sim, depressa adormecíamos com o conforto de quatro paredes e um telhado durante o tempo de chuva.


O sol decidiu aparecer pela manhã, e nós com ele voltámos à estrada e dissemos adeus à antiga fábrica da Calvin Klein. Ainda houve tempo de trocar os travões traseiros da Ana por uns novos. A ver quanto tempo vão durar estes...
O caminho até Castrovillari não era longo, por isso foi calma a viagem. Sem pressas.

Sabe bem ver o relevo desta bela Calábria a desenrolar-se lentamente. Se se vê uma montanha lá bem ao longe, sabemos que só amanhã a vamos começar a subir. Aos poucos e devagarinho as colinas dão lugar aos vales e estes a mais colinas. Lentamente, as colinas se tornam montanhas ou os vales acabam no mar. Hoje pudemos ver pela primeira vez o mar Mediterrâneo. Mas aquele que se encontra entre a biqueira da bota e o tacão, no mapa de Itália. Vimo-lo entre umas casas enquanto almoçávamos numa qualquer vila.


Junto ao município (câmara), foi o local do manjar hoje. Uma valente sandes de presunto com tomate, enquanto escrevíamos para o blog. Quando retomamos o ritmo do pedal um enorme vale foi-nos apresentado. Nós no topo de uma colinazita ao sul e ao norte a Serra Dolcedorme e o Monte Pollino. Como uma gigantesca muralha a impedir-nos de prosseguir mais para cima em Itália (e mais para o frio). Hoje rumávamos para o seu sopé. A partir daqui, se tudo correr bem, voltamos à nossa direcção predilecta. Em direcção ao sol nascente.

Depois de uma quentinha subida, chegámos a Castrovillari sem sequer saber. Esperávamos mais uns 5 ou 6 quilómetros para lá chegar, mas ao perguntar a um nativo onde estávamos, esclarecemos as nossas dúvidas.
Ao procurar a casa da Teresa, e como já vai sendo habitual nesta viagem, perguntámos a direcção a um desconhecido que acabou por se revelar vizinho da nossa anfitriã! Levou-nos direitinho a casa. Assim não dá luta...

Depois da Teresa chegar do seu lufa lufa no supermercado, e de termos conversado um pouco em casa (pós-banho), fomos com ela e o seu amigo Vincenzo, jantar pizza a uma osteria. Osteria é tipo a tasca cá do sítio (mais ou menos). Pode-se ir para lá beber cervejas e ver jogos de futebol, mas também se pode ir comer por preços mais em conta. Não que as pizzas por cá sejam caras. O normal são 5€ por uma enorme dose de pura divindade, recheada de pecado da gula. Algo que na nossa rica e santa terrinha ficaria na secção dos 10€ ou 15€, num qualquer auto-denominado restaurante italiano ou take away Telepizza, mas com um terço do sabor. Como toda a comida que por aqui se manja (lembramos, património imaterial da Unesco), vai ser difícil voltar a provar algo assim quando daqui sairmos e alguém (não italiano) se oferecer para cozinhar comida italiana. Vai ser difícil voltar a apreciar a massa "scolta" portuguesa. Não que seja má, mas....

Os olhos raiados de sono vermelhos acusaram o cansaço e voltámos todos para o quentinho da casa e para o quentinho de um home made cappuccino. O nosso, entre aspas,  primeiro cappuccino italiano.
Divino!

1 comentário:

Nuno Vieira disse...

Algumas das fotos do interior do armazém onde pernoitaram, estão fantásticas...