Ribera - Licata

Será que finalmente iríamos ter um dia normal de pedaleio na Sicila?
Depois dos adeuses à Federica, ficámos a acabar o nosso primeiro manjar da manhã com sabor às laranjas de Ribera. Bem boas!
A descer até à SS 115, lá começámos a pedalar para Licata. Finalmente, tivemos que tirar o casaco para deixar o suor do esforço e sol, evaporar livremente, durante as descidas a mais de 30 km/h.
A estrada é boa. Disso não nos podemos queixar. Mas que dizer dos escuros túneis e gigantes viadutos, que tínhamos que partilhar com os camiões que por aqui abundam? Mais do que os quilómetros, é o stress de estradas concorridas que nos cansa. Valha-nos as paisagens que se enriquecem de cores e formas ao sol. Paisagens brutas! Com serras a saltarem do nada e relevos rasgados pelo tempo. Verde selvagem misturado com cultivo aparentemente desorganizado e quadriculado.
Durante a matina, um par de BTTistas que faziam a estrada secundária paralela à SS 115, meteu conversa conosco. Os "uuusss" e "aaaasss" que se seguiam à palavra Portucalo, misturavam-se com os "bellos" após a palavra Licata como destino.
Assim que entrámos na populosa Agrigento conseguimos ver os tão famosos templos gregos. Não vos dissemos que as pontes e viadutos da SS 115 são altos? Agora imaginem as vistas! E sabiam que em Sicilia, existem mais templos gregos inteiros e em pé, que na própria Grécia? É verdade! Pelo menos é o que nos dizem...
Depois de passar a pé pelo mercado semanal de Agrigento, em tudo igual a uma corriqueira feira de Portugal, lá seguimos as placas para I Valle di Tiempli, na esperança de almoçar à sobra dos pilares gregos do nosso primeiro templo. Mas acabamos por comer à sombra das oliveiras do parque de estacionamento, depois de nos pedirem 15€ como entrada! Vimo-los ao longe e ficámos contentes.
Ao chegar a Licata, de novo as planícies. Apenas se viam uns valentes montes junto à costa e ainda brincámos com o ter que subi-los para chegar a casa da Marionella e do Vincenzo.
Mais valia estarmos calados, porque depois de quase 90km tivémos mesmo que subi-los e a seguir descê-los para sermos recebidos pela nossa primeira família Siciliana. Amanhã já sabemos o que nos espera quando começarmos a pedalar, ou a bem dizer, empurrar!
Marionella, pôs-nos logo em sentido. Avisou que só falava italiano e esperava que nós nos esforçássemos para o fazer também. Mas tão bem recebidos fomos por esta mãe enfermeira, pai analista de sangue e filho cinturão negro de karaté, que não foi esforço nenhum.
Por aqui habitam há muitos anos e desde a infância se conhecem. Com vista invejosa para o mar e longe do busilis da cidade, que nem por isso é assim tanto. Como não hão-de os Sicilianos ser um dos três povos que mais facilmente chegam aos 100 anos?!? O segredo? Muito trabalho toda a vida, sobre a terra e mar que lhes dá de comer uma saudavél comida. Muitos sorrisos e abraços aos amigos e familiares que durante toda a vida se mantêm unidos.
É simples este segredo. Trabalho, boa comida e laços familiares fortes.
Estamos a gostar de Sicilia. Das pastas feitas em menos nada, mas que mais parecem pratos de chefes em restaurantes com cinco estrelas da Michellin. Licores e vinho de produção própria. Bebidas e comidas tão diversas de terra para terra que cada dia de pedaleio é um assalto aos sentidos com tantos sabores novos e costumes.
O dia de estrada foi longo, mas fomos tão bem recebidos pelos habitantes da Casa Mia, que nos deixámos ir pela conversa. Ao computador a partilhar sites e dicas, na horta com as mil e uma árvores de frutos diferentes que eles tinham, à mesa ao sabor de carne e do minestrone, licores e vinhos, queijos e enchidos.
Só vamos poder ficar uma noite com eles, embora uma semana não chegasse para os ficar a conhecer.
Parece que estamos em casa.

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