Trebitz - Oschersleben

Passámos a manhã à espera que chovesse a qualquer momento, de tão carregadas que estavam as nuvens em cima das nossas cabeças.
Mas à entrada de uma pequena cidade, somos distraídos pela ruas cheias de gente. O mercado de fruta e legumes, flores, salsichas e comida pronta. No meio da confusão duas raparigas passam por nós de malas na bicicleta. Tinham um ar jovem, mas rapidamente as perdemos de vista. Voltámos a vê-las mais à frente, com um homem, que achámos ser o pai que viaja com as filhas numas férias pelo país.


Mais uma vez andámos um pouco perdidos com as estradas porque nos cruzamentos é sempre preciso avançar mais um pouco até vermos a cidade ou direcções que pretendemos seguir. Tentamos várias vezes pedir ajuda às pessoas e todas são são muito prestáveis e tentam ao máximo ajudar-nos, mas nós conseguimos embrulhar a informação toda e entear  o fio.

Tudo se resolve e seguimos. Ora, na berma da estrada, ora a subir e descer passeios. Tentamos respeitar os sinais com pista obrigatória para ciclistas e peões, mas confesso que me tira do sério ciclovias de duzentos metros ou às vezes um pouco mais acabarem sem alternativa a seguir e no meio do nada, obrigando -nos a retomar a berma. Se seguimos na berma e ignoramos os sinais, é costume ouvirmos uns automobilistas a reclamar ou levar com uns olhares de soslaio. Tentem entender, nós tentamos.... Gostamos de pedalar, mas andar aos s's e a saltar passeios não é bem o estilo de viagem que tínhamos em mente.

Para não variar, à hora de almoço, uma chuvinha para animar a malta e lembrar que nem só de sol vive o homem, mas de também da água que cai do céu. E mais uma vez nós de cantis vazios, cheios de sede, e sem ver ninguém na rua a quem pedir! Ironia! Fontes, torneiras ou posto de gasolina, é difícil ou quase inexistente, pelo meio de estradas e vilas secundárias.


Comemos pão com salsichas, para diversificar. Há muito que não comíamos e tínhamos saudades. O nosso pão aqui é invariavelmente com sementes e muitas vezes escuro. De mistura ou de centeio, daqueles densos em que se come uma fatia e a seguir se sente um peso no estômago. Gostamos muito deste pãozinho alemão.

Entre as vilas e aldeias as estradas temos sempre árvores de fruto a acompanhar. Pereiras, macieiras e ameixoeiras. Custa um bocadinho não olhar, não cobiçar e não parar a todo o instante para um rápida colheita. Claro, que nos perguntamos quem será que trata disto tudo e quem usufruiu desta fruta toda. Será que é uma simpatia para os automobilistas! Na Turquia as árvores de fruto que existiam no meio da rua não passavam indiferentes a quem por lá passava e havia sempre quem se pusesse debaixo da árvore esticado a apanhar e comer fruta. Mas aqui não. Ficamos um bocado na dúvida se podemos e como não vemos os locais a fazê-lo intriga-nos o motivo. Mas ao fim de tantos dias a olhar, a querer,  caímos em tentação e enchemos o saco de pêras, ferramos o dente numa e continuamos.


Ao final da tarde entramos numa cidade, o oásis de uma estação de gasolina com água infinita faz-nos parar para encher os sacos. Mas para sair, olhamos para todas as saídas das rotundas e pontos de interrogação sem resposta surgem no ar. Seguimos por uma, mas com água nos sacos e a noite a chegar não nos preocupámos se era a certa ou não. Queríamos só um sítio para pernoitar, de preferência com um tecto.

Os arredores da cidade não inspiravam confiança, e por isso enfiámo-nos no primeiro campo que encontrámos, quase à saída da cidade. O trigo já tinha sido cortado e as árvores protegiam-nos da estrada. Estava tudo molhado e  nada parecia convidar a grandes expansões de actividades no exterior. Lesmas e caracóis, folhas amareladas húmidas faziam prever um acordar molhado.  Ao fundo víamos as luzes nas janelas das casas a começarem a acender. Não era nem de longe o nosso sítio ideal, mas os humores estavam em baixo, e só queríamos ir dormir. Quanto menos trabalho melhor. Mal comemos, uns cereais (muesli é o rei aqui!) e enfiámo-nos logo na tenda!


...há um ano atrás: Lau - Forte da Casa

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