Ummern - Bierde

A pequena barraca para manter seca a palha, manteve-nos secos também, apesar da forte neblina e humidade que nos rodeavam. Estamos nas terras baixas da Alemanha. Também devemos estar a chegar ao Inverno, porque ao começar a pedalar, sentimos um frio que trouxe memórias de mãos e pés gelados, durante os meses da lareira acesa. Poucos metros à frente, trocámos as chanatas pelas botas e vestimos o casaco.


Tal como e Alex de Flechtorf nos informou, esta zona da Alemanha é muito popular para os ciclistas. A falta de montanhas e colinas, as constantes florestas, os campos de milho e as típicas casas, fazem as viagens de bicicleta, um regalo para os olhos e sentidos. E não temos que partilhar as estradas com os carros, seguindo sempre uma ciclovia, devidamente sinalizada. Um prazer matinal, este de pedalar na Alemanha. Estamos a tentar fazer as pazes com os trilhos ciclistas, depois do fiasco dos dias após Leipzig.
 

Em Celle, entrámos para o centro. Aqui, todas as casas estão renovadas, embora a suas tortas vigas de madeira lembrem que já têm algumas centenas de anos. Tirando isso, tudo parece novo.
Encontrámos um banquinho, e enfiámos a bucha da manhã. À nossa volta, as gentes desta terra seguiam a sua rotina diária, com o apoio da omnipresente bicicleta. Aqui, todos pareciam chiques e tornavam fashion o uso de saltos altos e dois pedais.
 

Já nem ligamos muito às horas da refeição. Cada país têm as suas horas de comer. Uns comem que nem pardais, outros que nem javalis esfomeados. Uns passam o dia a comer, outros comem uma ou duas vezes ao dia. Nós seguimos a corrente de cada país e aos poucos encontramos a nossa. Sem calor ou frio extremos, com os dias ainda bem longos, acabamos por comer apenas quando temos fome. Paramos quando nos apetece. Os quilómetros vão-se fazendo e depois dos felizes cinquenta, tudo o que vêm à rede é peixe!

O dia a terminar, e a busca normal de água para um confortável campismo começa. Desta vez, encontramos uma gasolineira em que não temos que pagar para usufruir do WC. Seria isso, uma coisa da Alemanha do leste? Enchemos os cantis e os sacos de água. Aproveitamos para encher os pneus também, e é nessa altura que a Ana repara nuns compridos rasgões no seu pneu traseiro e num sinais de desgaste nos das frente. Não são furos. São rasgões laterais que parecem que vão rebentar a qualquer momento! Ao olhar para o conjunto de pneus da outra bicicleta, uns rasgões ainda maiores! Mas o que é isto? Demasiada pressão? A menos?

Não há nada a fazer. Cheira-nos que é de pedalar com pouca pressão e muito peso. Negligenciamos demasiado a manutenção de tudo o que envolve a bicicleta. Ontem foram aos travões e as câmaras de ar que deram problemas. Hoje são os pneus que mostram a nossa falta de cuidado. Quando tivermos na tenda, logo ligámos o computador e consultamos o mestre Zinn.
 

Uns quilómetros mais há frente, entrámos para a densa floresta à nossa esquerda. Com o solo coberto de fofinho musgo, não foi difícil encontrar um spot onde pernoitar.
Já dentro da cama azul, em frente ao computador e à bíblia da mecânica de bicicletas fotografada antes de sairmos de Portugal, a resposta ao dilema. Pouca pressão nos pneus, pode causar "snake bites". Deve ser isso que nós temos. Fomos mordidos pela serpente da preguiça na manutenção.


...há um ano atrás: Lisboa e arredores

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