Flechtorf


Ainda é cedo. Como não estamos numa tenda, deixámo-nos ficar até ouvirmos os passos dos nossos anfitriões. O tempo passa, e umas portas abrem-se, os sons do início do dia começam e nós saímos da cama e juntamo-nos ao mundo.

A Julia e o Alex já andavam atarefados a preparar tudo. Nós claro que gostamos, mas sentimos sempre a vontade incómoda de querer participar. Sentamo-nos à mesa pouco depois, para um repasto de café, chá, ovos mexidos, pão,queijo, quark, milch e carnes fumadas.
É ao sabor destes ingredientes que começa a conversa. Era difícil parar de falar com eles. Sempre a a partilhar histórias, um tema a levar ao outro e uma palavra a iniciar outro tópico.

O Alex é jornalista desportivo. Doido por futebol, até já escreveu um livro sobre isso e tudo. Deixou-nos curiosos, porque nos parecia ser um livro bem-disposto! A Júlia trabalhava no ramo da imobiliária! Sempre divertidos, partilharam connosco o seu jogo dos países. A Júlia ganha com cinquenta e muitos países visitados e o Alex quarenta e tal. Quando se fala em visitar algum sítio, os country points vêm sempre à baila. Juntos fizeram couchsurfing pela primeira vez em Portugal, e a Júlia, em especial, fala disso com um brilho nos olhos. Eles adoraram e em grande parte, deve-se ao casal que os recebeu e ao seu gato. Será que vamos ter de esperar pela meta dos cem países para nos virem visitar? O ponto de Portugal já o têm!


O repasto termina, a chuva caía forte lá fora, por isso prepara-se outro café/chá e brinca-se com o Carlos. Mas a conversa não pára.
Uma aberta nas nuvens, vamos ou não? É isso ou ficar o dia todo em casa. Fomos então, visitar a cidade grande de Braunschweig.

Esta não levou com o comunismo em cima. Levou foi, com as bombas dos aliados. Muitos dos edifícios tiveram que ser construídos de raiz ou renovados até serem a imagem espelhada do seu antecessor. Sabiam que foi em Braunschweig que um austríaco famoso oficializou a sua nacionalidade alemã? Logo a seguir, deixou crescer o bigode rectangular debaixo do nariz. e pedia as pessoas para levantar a mão direita ao pronunciarem o seu nome. Chamavam-lhe Adolfo.


Demos um passeio pelo centro e vimos uns edifícios de escritórios artísticos. Deve ser divertido trabalhar aqui. A chuva voltou e tivemos que fugir para debaixo de umas sombrinhas numa esplanada onde dezenas de alemães bebericavam a sua bica, que por aqui têm o volume de uma cerveja!

Por obra do acaso, a conversa ia dar muitas vezes ao tema dos furos nas nossas bicicletas. Não queremos ser supersticiosos, mas tememos que ao falar muito nisso, a coisa aconteça.

Quando parou de chover, fomos ver a parte velha da cidade enquanto o Alex e a Julia nos falavam disto e daquilo, das curiosidades por detrás dos monumentos. Ao nosso lado, um casal seguia um homem de trinta e muitos anos. Este último era alemão, o casal não. Falavam entre eles em inglês e um pressentimento disse-me que ali estava a decorrer um outro encontro de couchsurfing, pois o homem também estava a explicar as mesmas coisas que os nossos anfitriões nos diziam. Curioso.

A estátua no meio da praça, foi alterada pouco depois de ser feita. Os críticos não foram brandos e assim o autor decidiu inclui-los na obra também, num sítio muito interessante...


Ao jantar, com a língua inglesa já enraizada depois de todo o dia a falar, o Alex peguntou-nos onde iríamos dormir amanhã. A nossa resposta, "we don't know", de tão normal e natural que é para nós, impressionou o Alex. Se não são estes momentos, já não nos recordamos do quão diferente se tornou a nossa rotina diária.


...há um ano atrás: Lisboa e arredores

1 comentário:

Nuno Vieira disse...

...Um tal de "Adolfo"...? Acho que é proprietário de um bar chunga lá na minha rua...