Slawiecice – Nysa

Desta vez aproveitámos o pequeno-almoço do hotel. Ontem, não tínhamos a certeza se podíamos ou não. Hoje, não há dúvidas!

Dissemos adeus ao Adam. Ele tinha a sua própria viagem de trabalho com que se preocupar, e não podia vir connosco visitar a fábrica das fotografias. Tirámos a foto para o jornal local, junto à placa da cidade e seguimos caminho atrás do pai do Adam. Foi uma viagem rápida até à maior fábrica de fotografias da Polónia.
O pai do Adam entrou, e nós atrás dele, até que um rapaz veio receber-nos e nos levou a ver as instalações. Impressoras industriais, técnicas de impressão em vários materiais, rolos gigantes de papel fotográfico. Vimos o processo desde o início ao produto final. As pessoas enviam as fotos pela internet, são reveladas aqui e depois empacotadas para o cliente. A zona onde as fotografias são separadas por encomenda é impressionante. Podíamos ficar a olhar para o rolo que cospe centenas de fotografias por minuto e imaginar as histórias por detrás de cada fotografia. Era hipnotizante olhar para todas aqueles vidas congeladas a passar rapidamente pelos nossos olhos. Foi um início de manhã bem diferente. Mas a estrada esperava por nós, assim como o fantástico tempo irónico.


Dissemos adeus ao pai do Adam... duas vezes! Uma à porta da fábrica, outra já algures na estrada, quando ele foi ter connosco de propósito para uma segunda despedida. Gostámos muito desde grande senhor, que investe o seu trabalho no crescimento da terra onde vive.

Talvez pelas inesperadas surpresas de Slawiecice, com o Adam e a sua família. Talvez por a manhã ter sido tão diferente do habitual. Talvez por tudo isto junto, mas os quilómetros que se seguiram foram muito peculiares. Com a moral arrebitada pelos últimos dias, seguiu-se uma queda abrupta da energia para continuar. O vento, frio e chuva de frente também não ajudavam. E é nestas alturas que algo de interessante acontece. Quando olhámos para o mundo que nos rodeia de forma negativa e pessimista, tudo se mistura. Esta estrada era indistinguível de todas as estradas que já pedalamos. A paisagem sempre a mesma. As pessoas que deixámos atrás, perdem-.se nas memórias e um real e monumental esforço, têm que ser feito para recordar onde estamos, em que país pedalamos e quem é o quê misturam-se num emaranhado das faces que  ficaram quilómetros atrás. Nunca a hora do almoço demorou tanto tempo a chegar.


A estrada não passava por nenhuma localidade. Virámos nós em direcção a uma, em busca de um local seco e abrigado onde cozinhar. Uma paragem de autocarro, fez as honras à casa. Como não tínhamos água suficiente e uma senhora andava ali por perto no seu quintal, fomos ter com ela de garrafa na mão. Ela desapareceu por detrás da sua casa, e regressou momentos mais tarde com o líquido essencial. Mas algo mais. O marido veio com ela, e depois de conversarem os dois, perguntaram-nos se queríamos entrar no seu supermercado (que estava vazio de produtos e fechado), para podermos cozinhar mais abrigados. Ofereceram-nos um alguidar onde lavar a loiça e deixaram-nos à vontade para dormir ali, se a chuva ameaçasse piorar! Não falámos uma única palavra de inglês ou polaco. Não pedimos por nada, a não ser água. Em troca, recebemos um presente de generosidade polaca genuína.
Quando encaixámos o rabo no selim, a moral e a barriga iam mais compostas.

Entrámos para o centro da cidade, e após um sms ao Marek, o resto das direcções foram recebidas.
O Marek e a sua mulher, vivam na casa da família desta última. Juntamente com o pai e a mãe, os irmãos e respectivos conjugues e rebentos que por ali corriam. Era uma casa enorme e cheia de vida. O Marek e Agniescza além de viajantes veteranos, eram ávidos por aprender algo de novo que os estimulasse. Entre eles já tinham no cinto, cinco cursos universitários, desde Astrofísica, Física Experimental, Mecânica e Electrónica. Quando viajavam era à boleia o seu mapa mundo incluía uns meses de boleia e trekking na África Oriental, a fazer campismo selvagem e a acordar com os elefantes a passear por perto. No Alasca, onde caminharam durante duas semanas sem ver mais nenhuma pessoa além deles. Quando nos contaram como apanharam boleia de um avião, já não nos surpreendeu.

Agora dedicam-se a construir eles próprios a sua casa, na vila vizinha e a receber viajantes como nós.

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