Edewecht – Rhede

Como se não bastasse estarmos algures na zona industrial de uma pequena cidade, é domingo. Sinónimo na Alemanha de silêncio, paz e sossego. Está tudo fechado. Supermercados, lojas e até cafés. Não se vê vivalma. Apenas algumas padarias estão vivas. Ninguém nos incomodou durante o dia ou pela manhã. Abrigados da potencial chuva, no parque de velocípedes de uma fábrica, a rotina matinal, não saiu da... rotina! Sim. Já é rotina, acordar em local novo, arrumar a tenda depois de passar por ela um pano, enfiar saco cama no saco e depois no alforge. Arrumar traquitanas espalhadas nos respectivos locais. Tudo em modo automático. Montar a taça de origami, para o muesli com água. Lavar os dentes e a cara. Montar no selim e começar a pedalar para mais um dia.


Um dia de ciclovias. Mais campo e cidades alemãs pitorescas. Vacas, cavalos e póneis. O aleatório rebanho... O alemão que usa a bicicleta para ir ao vizinho ou à sua horta. Para passear perto da sua casa, ou para aproveitar o ar fresco da manhã. Cruzámo-nos com todos e a todos dizemos "Hello" ou "Guten Morning".
Porque é domingo e tudo é fácil, temos bastante tempo para pensar...
Já estamos a vinte e um de Agosto. Há um mês estávamos abrigados da chuva com a Justyna em Tarnów, na Polónia... Há dois meses, começava o Verão e nós acordávamos num vasto milheiral da Roménia, para enfrentar um dia de calor abrasador e a nossa primeira capital... Há três, saíamos de um barco em Rhodes...

É o que dá pedalar assim. Com bocejos domingueiros e sem desafios numa ciclovia, com música nos ouvidos. "Rádio Nostalgia"...

Parámos após vinte e tal quilómetros. Um banco e uma mesa, é sempre um bom motivo, e local, para passarmos o resto da manhã a escrever os postais que faltam, com o selo deste país. Convém, antes de sair dele. Aproveitamos os pãezinhos ainda quentes! Ao nosso lado, um senhor de idade. Fardado de verde e com uma catrefada de medalhas. É o primeiro a chegar ao ponto de encontro de mais de vinte homens e mulheres vestidas de verde e com medalhas no peito. Alguém também trouxe uma corneta. Conversam um pouco. Organizam-se e alguém diz qualquer coisa ao grupo que está em sentido. Tudo não durou mais de dez minutos. Que raio estavam eles a fazer? Porquê tanto trabalho a fardarem-se para se reunirem durante dez minutos à conversa e ficarem em linha durante 60 segundos?


As nuvens aglomeram-se. Por esta altura, corre ao nosso lado um canal. Como aqueles que vimos em França. Corre ao nosso lado durante muito tempo e até entrarmos numa cidade um pouco maior. Por todo o lado, barcos. Pequenos e grandes, com e sem vela.


Continuamos a pedir direcções quando não sabemos onde virar, ou o sol se esconde, levando com ele o nosso sentido de orientação. Mas continua a ser fácil, esta bicicletada alemã.
Já estamos perto da fronteira. Mais uma. Mas não a atravessámos. Fica para amanhã, se Deus quiser, a geografia da terra deixar, e os lobos e ursos não nos comerem (a nossa ladainha supersticiosa, onde vamos juntando ou modificando mais itens, consoante a situação!). Para hoje ficou a nossa busca de um spot de campismo, no seio da ultima cidade alemã. Continua a ser domingo. O silêncio do dia ainda cá está.
Uma zona com estábulos, campos de futebol e ténis. Deve ser o poli-desportivo do bairro. Num canto abrigado da nuvens medonhas montámos a casa branca. Desta vez o avançado amarelo ficou guardado.


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