Swidnica

A comer é como se começa o dia. E se  continua...

A Vitória toca à campainha, e mesmo já tendo tomado pequeno almoço, é quase que "obrigada" a voltar a comer. Seja pelo cheirinho que inunda as nossas narizes, quer pelo aspecto reluzente e apetitoso de umas belas salsichas gordas e estaladiças. Ovos mexidos, pão, chá, café e o melhor é parar. As manhãs passavam diante da mesa, que nunca estava vazia. A Anna e o Ryzsard levantavam-se, alternavam e continuavam a repor a comida na mesa. Claro, que fome, ninguém passou. Os botões do topo das calças não eram desapertados desde há muito tempo, nem sentido o tal "estou empanturrada/o", como foram nesta casa, refeição após refeição.


Num ritmo descontraído, preparávamo-nos para sair, depois das barrigas estarem bem cheias. Os cinco no carro. Ou melhor, os seis, porque o César vinha connosco. O cão de pêlo branco encaracolado seguia connosco, mulheres atrás mas sendo de dente arenhado para qualquer toque. O dono, o deus da sua vida, a luz dos olhos, o cheiro do seu nariz canino, era o único autorizado a tocar-lhe sem fronteiras, e até fazer acrobacias dignas de circo, como saltar dez vezes consecutivas do chão para o colo. Era assim o César, the spoiled dog, como a Vitória e eu lhe chamávamos.

A nossa primeira visita, foi à Igreja da Paz, que mesmo estando fechada, impressionou as nossas íris! Com condições impostas para a sua construção, foi erguida sem a utilização de pregos, e revestida com lama. A maior igreja de madeira da Europa.


A barragem, o bar restaurante com esplanada, onde o Rizsard com os filhos subiam às vezes de bicicleta e justificou a bicicleta mecânica que os filhos lhe ofereceram.
Bebericámos chás e cafés no meio de lições de polaco. Tudo antes do almoço. Com direito a uma paragem na padaria, bolos e pão, que começámos logo a petiscar  a caminho de casa, e umas felizes framboesas doces, que me fizeram a mim feliz!

Ao almoço a história de comida sem fim, continuou! Horas à mesa a comer (Muita carne, muita mesmo. Chichinha boa!) e a conversar. A Vitoria, ouvia e ouvia e ouvia. Nós que contávamos histórias, a Anna e o Rizsard que diziam coisas, e todos a dizer, a exigir, traduz isto, traduz, que eu quero que eles percebam o que estou a dizer! Traduz, e a Vitoria, incansável falava sem descanso, de inglês para polaco e de polaco para inglês. Ao menos, ganhava fluidez na fala, tentávamos nós dizer-lhe e compensar por "usá-la" sem lhe dar descanso. Todos os dias da nossa estadia, a Vitoria tirava tempo das suas férias, para aparecer de manhã e só se despedir à noite, quando alguém dizia que já era tarde! Por tudo isto, e pela sua tenra idade, paciência e partilha, a Vitoria conquistou-nos! A todos, já que nos confessou que nunca tinha passado tanto tempo em casa dos tios! Planeava uma segunda visita a Itália, num intercâmbio de estudantes, e até já falava italiano!


À tarde voltávamos a sair! Passeatas a monumentos famosos, que apareceram em filmes sobre a Segunda Guerra, e no último dia, finalmente, um fim de tarde bem passado, no seu cantinho de horta e jardim. Um terreno enorme diante dos prédios onde moravam, dividido em parcelas, alugadas pelos moradores para poderem produzir as suas próprias fruta vegetais e flores. Diariamente, os vizinhos tomavam conta do seu espaço.

De máquina fotográfica na mão e sol de fim de dia, maravilhámo-nos com os frutos silvestres, e legumes que os dois plantavam. Viemos preparados de casa com mais comida e enquanto nós andámos à procura da foto mais bonita, a Anna preparava um repasto. Um cheiro familiar a chouriço assado, pôs os sentidos em alerta e aumentou a produção de saliva nas nossas bocas. Comi uma bela dose de framboesas apanhadas por mim, para meu belo prazer e deleite da Anna e do Rizsard que se sentiam contentes por nós estarmos também em sintonia com o seu estado de espírito.


Uma última refeição todos juntos, com o pai da Vitória, no jardim, coberto de plantas verdes a trepar qualquer verticalidade construída. Um contraste com os filmes que o Rizsard nos mostrou  em casa. O Inverno em Swidnica. Metros de neve, carros escondidos, branco,... branco, ...branco neve! Só visto na televisão parece mentira, para nós as recordações deste local vão ser coloridas de dias de comer até inchar e chuva alternada com sol de fim de estação.

Será demais dizer que sentimo-nos com a nossa família. A Vitória uma prima e os tios dela, nossos tios, que visitamos poucas vezes ao ano, mas que nos recebem de braços abertos, e nos tratam como filhos (Tal e qual como o Priot dizia na resposta que nos enviou pelo Couchsurfing).

A Anna continuou durante o fim de semana a tentar ligar aos filhos. A Barbara numa viagem de bicicleta pelo norte da Polónia, e o Piotr numa viagem com a namorada pela Noruega. Dizer-lhes que nós lá estávamos, saber deles e partilhar todas as coisas boas que vivíamos todos os dias.

Sorrisos e carinho quando pensamos neles. A nossa família na Polónia, que vemos poucas vezes ao ano....

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