Trinisa - Diakofti

O que fariam se acordassem com dor de barriga às 3 da manhã, dentro de uma tenda num campo de oliveiras? E se a “necessidade” de ir lá fora fosse imperativa, mas o papel higiénico estivesse no alforge da pessoa que dorme profundamente ao vosso lado e o dito alforge estivesse lá fora, onde a chuva, vento e frio dominavam? Faziam força para voltar ao doce saco-cama e à tranquilidade dos sonhos ou acordariam a pessoa ao vosso lado, enfrentando a rabuga do sono, sairiam do calor da cama azul, sairiam para a inclemente intempérie em busca do alforge para o transportar à dona e à única pessoa do mundo que sabe onde está o papel higiénico está, para em seguida andar à chuva com uma lanterna na cabeça, entre matagal e oliveiras em busca dum sítio adequado? Lembrem-se, tudo isto com uma intensidade imperativa nos intestinos!
A opção escolhida por este Nomadicla com diarreia, foi a de enfrentar a Natureza. Meia hora mais tarde, encharcado e miserável, voltar para a cama azul...


Mas as dores não acabaram por aqui. Ao acordar, a fraqueza de uma noite mal passada, tornou-se evidente. Mais ainda quando os vómitos vieram. O dia prometia. De repente, os dez quilómetros que nos separavam da cidade e do barco que iríamos apanhar pareciam uma estrada sem fim de dor e sofrimento.
Mas conseguimos. Devagar, devagarinho, lá se pedalou e se empurrou onde era preciso.
O barco era às 15h. Tínhamos tempo para esperar e desesperar. Não sei o que era pior. Esperar sob um intenso calor, tentando evitar ao máximo a má disposição e a sensação de fraqueza, ou ansiar por uma viagem de barco de horas com dores de barriga.
Com metade de uma fruta na barriga, uns comprimidos contra o enjoo e a diarreia, lá embarcámos, com um atraso de uma hora, ou não estivéssemos nós na Grécia.
Durante a viagem, um novo sintoma. Febre. Mas esta foi combatida com uma soneca na sala de espera do barco e ficou-se por ali.

Chegámos a Kythira.
Os passageiros desembarcaram e nós com eles. A primeira impressão era que tínhamos à nossa frente uma aldeia abandonada no meio de um deserto montanhoso. E ventoso!
Com a exaustão a chegar ao limite, a subida inclinada que teríamos que fazer para sair da aldeia onde desembarcávamos estava fora de questão. Assim como procurar um local onde acampar, naquela que seria mais uma noite difícil. Precisávamos de repouso e um pouco de conforto e a dor de barriga ainda cá estava. Talvez fosse dos feijões das noites passadas.
Contra o vento pedalámos, devagar, até encontrarmos alguém junto a um cartaz que anunciava, quartos para alugar. Não estavam abertos nesta altura do ano, mas indicaram-nos uma casa que sim estava.
Ainda debatemos se deveríamos pagar para dormir, mas a saúde não perdoa e sem saúde não há viagem ou pedaleio.

Dissemos sim, ficámos com um quarto com vista para o mar e uma varanda, onde quem sabe, amanhã poderíamos tomar um pequeno-almoço descansados antes de ir explorar a ilha...

1 comentário:

Anónimo disse...

A eterna duvida...concederão as cólicas intestinais o direito ao egoismo? a resposta é sim! hoje por mim amanha por ti...
As melhoras meu amigo, nao te preocupes há imodium por todo o mundo..
Beijinhos,

R.