Dafni - Iraklio

Acordámos com despertador depois de um mês a acordar com o nascer do sol. São os pequenos descansos que nos ajudam a aguentar mais uns quantos ti-ti-ti-tis irritantes pela manhã. A rotina matinal foi-se fazendo devagar e sem pressas.
A novidade de peças novas na bicicletas enche-nos de micro projectos de manutenção diária que dizemos para nós mesmos “agora, vou fazer isto todos os dias”.  Dure o que durar, ambos limpámos a roda cremalheira da frente e a transmissão em geral!
A paisagem em volta da nossa tenda encheu-nos as vistas, as papas de aveia a barriga.

Mais um dia de pedalada começa com a promessa de sol e vento. As nuvens de muitos tamanho e variações de branco e cinza iam cobrindo e destapando o caminho, conforme lhes dava o vento.
Aos 20 quilómetros parámos para um snack matinal. Aí debatemos as novas medidas dos pneus e a distância que percorrêramos. Algo parecia não estar bem, pedalámos de sinal em sinal a ver se os metros batiam certo e ao fim de uns 4 quilómetros demo-nos por contentes. Sem nos apercebermos, com a mente distraída noutras coisas, subimos toda a manhã sem nos cansarmos muito, e claro, esforçar as peças novas.


O pedalar entre gigantes montanhas é comum, mas continua a elevar-nos os ânimos. Desta vez, foram as montanhas cretinas, cretenas, cretenses (um postal para quem descobrir como se chamam os naturais de Creta ;) que pela sua forma excentricamente cónica faziam pensar em alguém titânico a moldá-las assim.
As pequenas aldeias por onde passámos inspiravam-nos num misto da sua simplicidade e tradição. Uma dúzia de casebres nos dois lados da estrada, com senhoras de avental e lenço atado à cabeça a varrer as entradas! Uma gasolineira pequena com um senhor de bigode grisalho e boina na cabeça e um jovem de roupas gastas, rotas e sujas intercalam o lugar do chofer! Os cães presos nas coleiras por correntes a ladrar à nossa passagem e a levar um esticanço no pescoço quando a corrente acaba. Alguns mais felizardos andam por ali a ver se lhes dá o cheiro. Faz lembrar alguma coisa? Até nos animais vadios somos iguais aos gregos. Aqui há-os aos pontapés.....Tal Grécia, tal Portugal!
Dizem que é do local onde vivemos, que nos molda a maneira de ser/viver.....


A hora de almoço lembrou-nos a sexta-feira 13!
Sentados nos bancos de pedra ao lado de uma fonte, comemos fatias de tomate e pepino salpicadas com sal, pão e azeite. Uma tomada de consciência de que seguir em frente é começar a dizer adeus a estas coisas boas!
Um carro antigo, mais pró velho, parou em frente a nós e a senhora saiu. cheia de garrafões para encher. Um outro homem atravessou a estrada e meteu conversa com o dono do carro. Abriu-se o capôt do carro e vemos fumadas a sair da parte de trás. Ficam ali a conversar e quando damos por ela, o homem abeira-se de nós e espeta com duas latas de cerveja fresca no meio dos tomates e do pão. Epá, obrigadinha! Foi-se embora sem sequer olhar para nós!!!
Acabámos de comer e entre arrumar e regressar molengámos nos degraus de uma escadaria. A senhora do restaurante sai e estende-nos uma laranjona e uma faca. Já que insiste...
Seguimos caminho contentes e contentados, para descer quilómetros sem parar. Só para fotografias.
Do topo da descida tínhamos vista sobre Iraklio ao fundo, o mar e mais montanhas com desfiladeiros pelo meio.


À entrada de Iraklio, sorrimos ao passar por um restaurante que grelhava carne no espeto usando uma tecnologia ecológica e original. Uma torneira de água a correr fazia girar uma mini azenha que estava ligada ao espeto e o fazia também girar sem ser necessário a presença de gente.
Um de nós voltou atrás para fazer uma foto. Voltou com dois pedaços de cordeiro nas mãos e um sorriso rasgado na cara!

Chegados à praça combinada esperámos pela Maria. Apareceu de bicicleta e seguimos em fila até sua casa. Estudante de Engenharia Civil, já no término dos seus estudos, Maria encontra-se em fase de transição na sua vida. Acabaram-se as aulas e os estudos, só lhe falta o projecto final, e começa o empacotar das tralhas acumuladas durante os anos de estudo. O ano passado fez uma viagem de um mês de bicicleta pela Turquia. Ideia sua que partilhou com mais 2 amigos.

Um lanche de meloa e amendoins, umas banhocas e saímos à rua para passear.
Cheiro e cheirinhos puxam apetite e duas pitas na mão mais tarde regressámos a casa. Rematámos o jantar com um pouco de pasta e muito sono a polvilhar as tentativas de conversa.

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