Krouni - Kopanaki

Pusemos em cima das bicicletas e descemos até ao nível do mar. Assim que avistámos um sítio mais calmo parámos para tomar o pequeno almoço. Um café fechado junto à linha de caminho de ferro.
Quando nos apercebemos de onde estávamos, desejámos ter antes descido e acampado aqui no dia anterior. Mas só por um bocadinho. Poucos minutos depois de espalharmos a marmelada de laranja no pão, já um jipe tinha parado à frente do café, e um senhor empunhava as chaves para abrir as portas todas à nossa volta. Começou a espalhar mangueiras e vassouras e em menos de nada pôs-se a limpar.

Por nos ter ouvido a dizer duas ou três palavras em grego, perguntou-nos de onde erámos e assim começou a nossa conversa. Entre as trincas no pão lá íamos anuindo ao que nos contava. Sobre os fogos, o turismo, a Europa querer unir-se como os estados da América e de como tudo estava planeado há muito tempo. Um amigo seu que à anos lhe tinha dito o que iria acontecer no panorama político da Grécia, e que nestes dois últimos anos se concretizara como predizia. Uma visão muito assustadora, sem liberdade de um Mundo que não podíamos mudar.
Tentámos animá-lo e despedimo-nos.


Para tentar aceder a internet dirigimo-nos a Kyparissia já hora de almoço era.  Comprámos umas tartes na padaria, uma sandes no fast food e ligados à corrente a navegar pela abençoada internet pública que nos permitiu verificar o nosso contacto do Couchsurfing. Surf no sofá, ou não? Nem por isso. Deixámo-nos estar mais algum tempo relaxados, a aproveitar a electricidade e a lazeira que nos dá a seguir a comer.

Antes de partir abastecemos os sacos para o campismo dessa noite. Fizemos uns quilómetros para trás e virámos para as montanhas. Começámos a subir, com o ar abafado e nuvens ameaçadoras sobre nós. Apanhámos algumas pingas, mas com o calor que fazia secaram num instante.

A subida termina e vemos a estrada a iniciar uma descida no nosso sentido. Decidimos parar por este dia. Preferimos sempre dormir no topo de um monte por causa da humidade ser menor. Sem procurar muito tomamos a estrada mais perto à direita. Um caminho de terra batida entre olivais e ervas altas misturadas com flores silvestres. Enfiámo-nos ali pelo meio até acharmos que estávamos visivelmente protegidos do que nos rodeava, a estrada de terra batida e a estrada de alcatrão onde pedalávamos.

Tenda montada, bicicletas deitadas na erva, manta no chão, alforges desmontados e ainda tínhamos bastante luz do sol. Era cedo para cozinhar. Deixámo-nos ficar a apreciar a paisagem, o calor do sol e as flores. Estávamos bem.


Com o vento e as nuvens nunca se sabe. As previsões metereológicas diziam que não chovia, mas o céu estava a ficar tão cinzento.. Decidimos começar as preparações para o jantar, antes que chovesse. Preparámos o tacho, montámos o fogão  e ouvimos o som de um jipe a passar na terra batida atrás de nós. Mais uns minutos, e ouvimos um tractor abaixo de nós. O som parecia aproximar-se. Cada vez mais intenso até que começámos a ver o tractor e a torcer para que não nos visse. Mas vinha mesmo na nossa direcção. Foi a nossa vez de ir até ao condutor e explicar os nossos planos. Nós sem falar grego e ele sem falar inglês. Sorriu quando percebeu como viajávamos e as nossas intenções. Apontou-nos o estábulo do outro lado da estrada de terra e percebemos que nos dizia que podíamos lá ficar. Perguntámos-lhe se achava que ía chover, com muitos gestos e poucas palavras. Respondeu que não e nós por isso e também por preguiça dissemos-lhe que ficávamos por ali. Ele sempre a sorrir disse: No problem!

Mais aliviados assistimos ao tractor a continuar o seu trabalho de ceifa da erva.
Íamos fazer o jantar. Abrimos a válvula da gasolina, abrimos a válvula que controla a quantidade de gasolina que sai. Acendemos o fósforo, ateamos o centro do fogão e .......... segundos depois tudo ardia. O fogão e a garrafa cheia de gasolina. Por uns instantes, devido à surpresa do que acontecia, ficámos apenas a olhar (imagino que com cara de parvos) a tentar perceber o que raio se passava. Depois começámos a falar um com o outro alarmados e olhar em redor à procura de uma solução. O pano da cozinha entra em acção a tentar abafar, depois uns sopros.. e o fogo continua. O pé, a bota, a mão a tentar fechar a válvula do combustível sem se queimar. Finalmente, água, muita água. E o fumo, o cheiro a queimado no ar e o fogo a extinguir-se. Logo em seguida, as caras de: E agora que fazemos?

Rapidamente, se prepara um sítio para se fazer a manutenção à bomba que derretera. O fogão e a garrafa são de metal, estavam bem, mas o filtro/bomba que os conecta estava queimado e chamuscado. O nosso querido fogão todo farrusco...
Fizemos a manutenção, ligámos o fogão e cozinhámos o jantar. O som que fez não indicava que estivesse no seu  melhor estado, mas funcionava. Antes da próxima refeição cozinhada uma manutenção às outras partes estava programada.

O senhor dono das terras apareceu de novo, mas de jipe, estávamos a pôr a comida nos pratos. Oferecemos, ele agradeceu e ofereceu-nos ele uma garrafa cheia de leite de ovelha.
Jantámos com senhor mesmo em frente a nós a observar todos os nossos movimentos. Conseguimos comunicar e perceber que  morava lá ao fundo ao lado dos estábulos, que tinha quarenta e oito anos, era casado e tinha duas filhas e uma filho.
Foi estranho sentimo-nos uma atracção excêntrica. Lavámos a loiça, arrumámos as malas e já era de noite. Riu-se com as lanternas da cabeça e como só faltava escovar a dentuça lá nos disse boa noite e foi para casa. Ao lado dos estábulos.

Nós agradecemos e tentámos interiorizar os últimos acontecimentos antes de fechar os olhos para  mais uma noite de sono.

Sem comentários: