Sitia

Cinco dias em Sitía, o sítio com o melhor azeite do mundo, segundo uma organização que todos os anos atribui o prémio a uma região. Há cinco anos que Sitia anda no topo dos rankings.
O barco que nos levará para longe de Creta é no sábado. Ao contrário de Gythio, há um mês atrás, desta vez não temos que acampar. Para Manoulis não havia problema nenhum em que nós ficássemos tanto tempo.

O que fazem os Nomadiclas quando não têm que pedalar e não existe trabalho para fazer?
Mais ou menos o mesmo que toda a gente, apenas num local diferente...

O pequeno-almoço é tomado devagar, e demoramo-nos a sair de casa para os afazeres básicos. Todos os dias vamos ao supermercado, mercado, padaria ou loja da esquina tratar das nossas refeições. Todos os dias cozinhamos e perdemos bastante tempo e energia nisso. Todos os dias gostamos de uma risota do Seinfeld ou de ver um filme quando temos mais tempo ou vontade. A Ana joga Sudoku, o Alexandre lê o Senhor dos Anéis. Limpamos a casa, a loiça e a roupa.
Andar de bicicleta pelo Mediterrâneo pode ser uma coisa muito fixe, mas também gostámos de banalidades e rotinas e por vezes a única diferença que notámos no nosso dia a dia, são as vistas e a língua. Podíamos estar em casa e nem reparar.


Assim que chegámos a Sitía, uma amiga de Manoulis, a amiga Olga, convidou-nos para assistir à entrega dos diplomas da sua Universidade. Em Sitía apenas existe um pólo da Universidade de Creta. Dietologia, ou algo similar.
Tal como em Portugal,e talvez em todo o lado, os finalistas estavam um pouco nervosos, os papás e mamãs vestiram as melhores roupas, os tios e irmãos acompanhavam, e toda a gente era um paparazzi.
Uma universidade pequena. Toda a gente cabia no anfiteatro.  Os discursos do reitor, vice-reitor, padres e monges, presidentes da câmara e da associação de estudantes devem ter sido muito interessantes, mas para nós era grego e até os chefes da polícia que assistiam, fechavam os olhos e balouçavam a cabeça.
Quando chegou a altura da entrega, o cenário caiu um pouco no burlesco. O paparazzi que existe em cada um tomou conta das pessoas e os laureados mais pareciam modelos de passarelle a posarem para todas as fotos e em todos os momentos.
Valha-nos a comida que nos serviram a seguir! Saladas, folhados de espinafres, carne e uma série de doces e sobremesas típicas da região com um aspecto divino! Comprovamos que o sabor correspondia!


O Manoulis contou-nos que esperava mais um couchsurfer espanhol! Rejubilámos só de pensar em falar espanhol, encontrar um nuestro irmano. Mas quis o destino que não tivessem bateria no momento de se encontrarem e o Miguel acabou por ficar com outra couchsurfer de Sitía. apareceu em casa do Manoulis, durante um jantar e ficámos a saber que sendo jornalista, ganhou uma bolsa europeia com  mais jovens estudantes e anda pelo mundo a encontrar histórias. Parece que aqui em Creta os campos de golf têm muito que se lhe digam. Isso e hotéis com 7 mil quartos... 


Numa das noites fomos a um bar restaurante e qual não foi o espanto quando olhámos para o lado e vemos o grupo à esquerda a comer favas! ...Cruas!... E servidas ainda dentro da vagem!... O Manoulis viu o nosso espanto e pediu logo para a nossa mesa. Umas vagenzinhas de favas e mais umas alcachofras cruas a acompanhar uma garrafinha de raki.

Tivemos tempo para visitar e passear pela cidade e aproveitámos para tentar encontrar umas ruínas da civilização Micénica nos arredores.
A cidade é grande, mas não em demasia e faz lembrar as zonas menos turísticas do Algarve. Para aqui não vêm assim tantos turistas, mesmo no pico do Verão. Cheia de ruelas e ruínhas que sobem o sopé da colina onde a cidade assenta.
O café onde bebericávamos o café grego e nos ligamos à net já nos diz olá com tons de reconhecimento e o senhor do talho é muito amigo e prestável quando não tem miúdos de frango e nos tenta orientar para outro talho. A padaria, têm um pão da avó daqueles que nós gostamos. Nos supermercados, a secções dos fetas e dos iogurtes são titânicas.
A fortaleza veneciana, os cafés e restaurantes junto à marina e as montanhas imponentes ao redor, compõem a imagem para a fotografia e para os postais.
A passeata de bicicleta para tentar encontrar as ruínas foi um fiasco. Saímos de casa com o objectivo de visitar três locais arqueológicos. Um estava fechado e tinha-se que telefonar a não sei quem para que viessem abrir a cancela e outro nunca o chegámos a encontrar. Pelo menos um deles tinha o portão aberto e pudemos ver e passear pelas ruas de uma antiga cidade helénica.


Manoulis trabalhava o dia todo e às vezes só o víamos à noite antes de irmos todos dormir. Engenheiro Civil, Presidente da secção das águas e resíduos da câmara municipal, presidente não sei bem mais do quê e recentemente envolvido com a politica da região, não para um segundo. Gostávamos de ter passado mais tempo com ele. Pelo menos soubemos que a água da torneira é boa para beber. Foi ele que a analisou!

Entre dias de lazeira acentuada, dias de tempestades de Verão, dias de passeio, muita cozinha e muito sossego em casa, foi assim a nossa estadia em Sitia.
 

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