Astakos

Como já vendo sendo hábito na Grécia, molengámos a nossa estadia em casa dos nossos anfitriões. Porque parece que cada vez as pessoas são mais simpáticas e queremos passar mais tempo com elas. Também, porque o barco era só no sábado, mas só o descobrimos dois dias depois. Um par de dias em Astakos, com o Kostas, a Chryssi e o Hércules.


Ainda o sol não dava ares de si, e o Kostas já saía de casa, rumo ao seu lavouro dentro de água com os atuns. Só o voltaríamos a ver a meio da tarde, quando terminasse o trabalho e viesse almoçar à típica hora de almoço grega, entre as 16h e as 17h!
Passámos as manhãs com mãe e filho, tentando sempre que possível ajudar nos seus afazeres diários. Depois do pequeno-almoço, se o tempo assim o permitisse, íamos dar uma volta com eles pela vila escondida entre as montanhas e pequenas ilhas.

Ficámos a saber que em tempos Astakos foi uma terra de grandes riquezas, devido ao abundante carvalho da região e às plantações de tabaco e à sua ligação com o mar. Mas, como muitas vezes acontece, o homem explorou até ao tutano as riquezas da sua terra deixando aos seus descendentes a difícil tarefa de desencantar em outras paragens um modo de sustento.
Com a Chryssi, aprendemos que em Atenas é costume toda a gente comer umas argolas de sésamo a meio da manhã, koluri. Padarias por aqui não faltam, tal como em qualquer sítio, mas apenas uma fazia as argolas com o sabor que fazia lembrar a Chryssi os seus dias na capital. O Kostas e a Chryssi viveram em Atenas durante muito tempo até fugirem de lá em busca de calma e sossego.
Hércules demonstra a sua presença e força hercúlea, não deixando a mãe parar um segundo sempre que está acordado. Mas a sua boa disposição também é grande, desde que a barriga esteja cheia.


As refeições trouxeram aos nossos paladares sabores à muito esquecidos. Peixe! Não andasse Kostas todo o dia dentro de água e não tivesse ele os melhores contactos com os pescadores de Astakos. Mas a verdadeira prova de fogo, viria na última noite que passámos com eles.
Já tínhamos ouvido falar das tavernas. Quer em guias de viagem, quer a falar com as pessoas ou simplesmente pelas ruas quando passamos de bicicleta. Um sítio onde se pode comer e beber o típico da terra. Algo entre a máscula tasca, reservada aos homens, e o normal e corriqueiro restaurante.
Combinou-se um jantar com alguns amigos deles, e a mesa compôs-se com oito pessoas e umas entradas de raki e saladas de polvo, numa taverna de paredes velhas e amarelas, recheadas de fotografias tão antigas como como as mesas e as cadeiras onde nos sentámos. No tecto e em alguns locais escondidos, a decoração foi-se fazendo com bugigangas ao longo de dezenas de anos.
Atrás de nós, três homens agarravam pequenos copos, com conteúdo transparente e potente. Não havia televisão. Um rádio velho deitava cá para fora música típica grega. Mais ao longe, uma cozinha que nunca passaria os rigores da ASAE. Foi dessa cozinha que saíram peixes toda a noite, dois pratos com dois peixes cada e uma travessa com um gigantesco peixe grelhado! Minutos depois de começarmos a atacar a comida, já a mesa se assemelhava a uma campo de batalha alimentar. E tal como numa guerra, não havia descanso nem pausas de misericórdia. Mais umas travessas e pratadas a abarrotar de sapateiras, camarões e lagostins! Não havia pão que chegasse para tanto molho e suculências!

Os Nomadiclas ficaram cheios, saciados, sorridentes e eternamente agradecidos ao Kostas, Chryssi e Hércules, por nos terem apresentado à primeira taverna grega!

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