Kalyves - Rethymno

Com a chuva da noite, o matagal e a lama seca onde tínhamos acampado estavam todos molhados. Com algum cuidado e paciência, arrumámos tudo o mais seco possível e carregámos as tralhas para fora daquela selva de oliveiras!


A estrada campestre era paralela a um canal de irrigação e alguém construiu um pequeno canto de piqueniques sobre ele. Tudo em madeira e construído de forma artesanal, dava para ver que havia muito amor naquele canto. À sombra de uma grande árvore e sobre o canal, tudo estava cheio de detalhes. Uma mesa de apoio, uma corda presa ao parapeito e com uma grade dentro de água, a manter uma garrafa fresca onde podíamos ler “Raki”.
Tomámos por ali o pequeno-almoço, sem pressas... pelo menos até a chuva voltar.


Não tínhamos frio, ou não estivéssemos nós num dos pontos mais a sul da Europa, mas a chuva miúda que de vez em quando passava a forte, as subidas longas e difíceis e a estrada monótona e cheia de trânsito, tornaram o dia miserável. Ambos estávamos a sentir-nos cansados da nossa viagem. Tantos dias sem parar no pedal e sem conhecer novas pessoas. Dias de chuva, calor, doença, subidas, barcos e monotonia estavam a dar conta de nós. Precisávamos de parar num sítio descansados e ponderar o passo a seguir. Onde iríamos a seguir a Creta.
As paisagens são bonitas e brutais, o estarmos em Creta e termos chegado até aqui de bicicleta é um pensamento que nos faz sentir bem, mas sem o contacto humano, sentimos que estamos a perder o melhor da viagem.

Chegámos a Rethymno. É domingo e quase tudo está fechado e não se vê muita gente na rua. Não almoçámos nada de especial, pois ambos queríamos despachar o dia e chegar ao nosso destino. Encontrámos um café com Internet ao lado de uma padaria, enchemos a barriga com pão, cheeseburger e café enquanto contactávamos os nossos anfitriões.
Antes de sair de Ostuni, em Itália, encontrámos um Eco-Parque em Rethymno que precisava de ajuda. Contactos feitos e saímos de Itália com destino marcado, mas rota indefinida. Sempre indefinida.

Ao fim da tarde e no fim de uma subida inclinadíssima em direção a um dos muitos desfiladeiros que vimos nos últimos dois dias, estava o parque. Lá no topo, com vista para toda a cidade e toda a costa de Este a Oeste, com montanhas atrás de nós e picos de neve ao longe, fomos recebidos pelo Mihalis e os restantes Helpers. Lisa e Tanita de Inglaterra já aqui estavam à dois meses. Marisa dos Estados Unidos, à um mês e Alex e Cassie da Austrália à uma semana. Mihalis fez-nos a visita guiada pelo parque e mostrou-nos como tudo funcionava. Onde ficavam as casas de banho e como a teríamos que partilhar com os jogadores de futebol. A horta em frente à caravana. O que comiam os camaleões, as galinhas as iguanas e os coelhos e como proteger as jibóias e as boas do frio e chuva.

Depois de tantos dias de campismo, o jantar numa caravana com mais cinco pessoas soube-nos a pato! O contraste de campismo na lama e passar o serão entre sorrisos e caras amigas.

Amanhã seria o primeiro dia de férias da escola, por isso a sensação que tínhamos era a de que o parque e os seus habitantes estavam a precisar de descanso. Não haveria visitas de 80, 150 ou 200 alunos durante as próximas duas semanas. Deve ser o tempo que por aqui vamos ficar, se tudo correr. Esperar por encomendas, descansar e pensar no que vamos fazer a seguir a isto.

Mas ainda não estávamos livres da casa amarela. Os australianos dormiam na caravana, Marisa numa tenda algures na montanha e Lisa e Tanita noutra tenda, mais junto ao parque. Nós ficámos, dentro do parque, de tenda montada dentro da pérgula. Tinha uma placa na porta. “Hut of Culture”.

Por agora só queríamos dormir secos e confortáveis........ mas o gotejar fazia-se ouvir ao fechar os olhos.

P.S - ...nem a barreira dos 6000 km nos animou...

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