Diakofti – Kissamos

Soube a pouco, mas soube muito bem.

Depois de tantos dias na casa amarela, quatro paredes e um tecto podem fazer milagres ao ânimo. Sem despertador e com um pequeno-almoço com vista para o mar, o dia prometia.
Os enjoos ainda por cá andavam, mas as forças estavam um pouco melhores. Podíamos não fazer 100km, mas tínhamos esperanças de fazer alguns e de explorar um pouco a ilha. O plano era passear por Kythira durante todo o dia e voltar à aldeola onde o porto está antes do sol se pôr.


Saímos de casa cheios de pica para fazer a subida inclinada.... minutos depois o Nomadiclas em convalescença já arfava e suava e parava para ganhar fôlego. Sem grande alarido e conversa, esperou-se um pouco e voltámos a pedalar. Mas a máquina humana estava sem carburante e provavelmente ainda combatia a porcaria que andava a boiar nos intestinos. Aos poucos o dia de exploração começava a desvanecer...

Depois da subida e de andar um pouco na estrada principal, virámos onde o mapa indicava para regressarmos à costa. Por vezes, a linha desenhado no papel é bastante diferente da realidade. Pelo menos era a descer, o caminho de betão, cheio de lombas e buracos que faziam chocalhar toda a bicicleta. Se a barriga já profetizava dores durante a subida, com todo este solavanco, foi o fim da picada. Nunca uma descida custou tanto. Talvez a dos Pirenéus...


Uns minutos depois, já na costa, virámos para a direita. Mas por pouco tempo. Uma senhora avisou-nos que o único supermercado era 3 ou 4 quilómetros para trás. Assim o fizemos, porque em Kythira tudo é afastado e isolado e a maioria das localidades são um par de casas espalhadas por ali.
Mas não em Avlemonas, que descobrimos ao fim da estrada. Casas brancas por todo o lado, portadas e cancelas azuis, ruas estreitas e pitorescas e uma enseada no meio de tudo isto, feita de mini escarpas e água cristalina e transparente. Bem vindos ao estilo Ciclades. Não estamos nas Ciclades, as ilhas que abundam no mar Egeu, mas em Kythira o estilo de construção é o mesmo. É de facto bonito mas fazem lembrar as construções do Algarve.

O calor apertava, assim como os intestinos. Fizemos as compras no supermercado, que apenas tinha três estantes, e refugiámos-nos à sombra da árvore logo ao lado deste.
Tínhamos cadeiras ciclades (brancas e azuis), sombra e vista para a enseada, na aldeia mais bonita que vimos desde que chegámos à Grécia. Nenhum de nós tinha muita vontade (ou forças), para pedalar mais. Decidimos molengar e poupar as forças para a subida que nos esperaria quando regressássemos ao porto.
Houve tempo para sonecas, para fotos, conversas e passeios. até ao castelo. Foi uma tarde bem passada, tendo em conta as circunstâncias e para nós, Avlemonas será a nossa memória de Kythira.


Avlemonas e a subida no caminho de betão que se seguiu.
Assim que começámos, fizemos metas de pouca distância. “Vamos só empurrar até aquela sombra”. “Vamos só empurrar até aquela rocha”. Assim passou uma hora. A empurrar as biclas, estrada acima, a parar sempre que as dores o permitiram. Mas conseguimos e é o que interessa.

Voltámos ao porto a tempo de ver o sol descer por detrás das montanhas, e depois de jantar maçãs cozidas e conversar um pouco, montámos a tenda por detrás das bilheteiras, na esperança de dormir umas horitas antes do barco chegar,l á para a uma da manhã. Mas sem sorte. Passados uns minutos começaram a chegar autocarros e carros de toda a ilha, com as pessoas que iriam para o mesmo destino que nós.

Uma hora depois do horário previsto, o barco zarpou e nós adormecemos nos sofás da cantina, que estava fazia.

Adormecemos a caminho de Creta...

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