Stryi - L'viv

A manhã começou tarde e passou rápido.
O calor apertava e por volta das onze parámos, satisfeitos com os quilómetros, para uma bucha. Já pedalámos tantos quilómetros, então é justo parar por dez minutos para descansar e petiscar. Parámos em frente a um "café". O Alexandre entrou para explorar e procurar comida. Voltou e disse-me para entrar. E foi como entrar noutra dimensão. O espaço vazio no centro, as mesas e as cadeiras à direita, uma balcão alto com vitrine de vidro cheia de toucinhos, enchidos, e fritos. Dois tipos que bebiam uma cerveja, a televisão a passar as letras da música alta que enchia o ambiente. Música popular ucraniana em volume máximo. As janelas, as mesas, as cadeiras, a vitrine, tudo com folhos, e aplicações decorativas.


Voltámos à realidade. Mais um dia de pedaladas por estradas longas. Sem buracos, mas maçadoras de tão longas que eram. Os termómetros rondariam temperaturas de trintas e muitos. O trânsito constante ao nosso lado, a vir e ir para a grande cidade acompanhava-nos com bafos extra de tubo de escape.

Já o sol ia alto e avistamos uma bomba de gasolina. Paramos para almoçar. Assim, que chegámos e nos refugiámos na sombra, a moleza atingiu-nos. Procurámos casas de banho, torneiras, um sítio mais arejado, mas sem sucesso. A estação era só uma casinha, e as bombas. E muito calor! Tanto calor e nós ali no meio de nenhures a pensar que devíamos procurar um sítio melhor. Fizemos mais uma dose do nosso arroz bafiento com feijão. Ataques de barrigadas e risos. Qualquer coisa relacionada com o calor e a moleza pós refeição.

Quando regressámos à estrada foi porque já não aguentávamos mais e precisávamos de uma casa de banho. Pedalámos de bomba em bomba até encontrar uma aberta e com Wc. Wc, ar condicionado,água, caixotes do lixo, sanitas, e açúcar e sal com forma, que podíamos consumir por poucos euros. E assim ficámos mais umas horas a escrever posts no fresco do ar condicionado. Faltavam poucos quilómetros até L'viv, estávamos quase. Tínhamos tempo.

Na Ucrânia temos reparado que ou são poucos, ou inexistentes os caixotes do lixo. O lixo pelas ruas não assume proporções como noutros países, mas achamos que é só porque o país é grande e eles estão bem distribuídos. Também porque tendo as suas hortas e pomares, consumem menos plásticos do supermercado.


Fomos entrando na cidade. Blocos de prédios cinzentos nos arredores a marcar a memória do tempo do comunismo. Autocarros, e eléctricos por todo o lado. E o calor!
Pelas estradas de pedra de calçada, que nos fazem tremer e sofrer em cima do selim. Sem pensar acertámos na rua, e depois de uma breve visita ao mercado para fruta, fomos à procura da casa da nossa couchsurfer Olga. Morava num prédio, no meio da cidade. Muito antigo! Numa rua de prédios antigos colados uns aos outros. A casa era enorme, e a primeira impressão à entrada, foi de que estávamos num museu. Tão grande era o hall cheio de pinturas do Cazaquistão com lâmpadas em cima a iluminá-las. Quem nos recebeu foi o marido da Olga, Taras e o Bonia, o cão.

A Olga chegou pouco depois. Preparou-nos um fabuloso prato de batatas e bebemos compote, sem perceber muito bem o que era. Deitámo-nos cedo.  Conversámos pouco, porque o Taras não falava inglês e a Olga falava muito pouco. Mas divertimo-nos a tentar comunicar uns com os outros.

1 comentário:

Nuno Vieira disse...

As fotos dos tais "blocos de edifícios cinzentos do tempo do comunismo" assemelham-se estranhamente a muitas construções dos subúrbios lisboetas. Terão estes estado sob domínio soviético...? Ah, é verdade, muitos parabéns pelos 10.000km. a minha moto teria de fazer agora uma revisão (pelo menos mudar o óleo do motor). Verdadeiramente impressionante!