Transfagarasan – Vistea de Jos

Estávamos a 15 quilómetros do topo. Ainda nos faltavam mais mil metros de subida. A chuva de toda a noite não parou com os primeiros raios de sol. É interessante estar enfiado em lençóis, sabendo que em menos de uma hora a nossa vida se tornará miserável, molhada e fria. Estamos no Verão? Junho a acabar, Julho a começar, mas os cumes ainda estão carregados de neve e as roupas de Inverno saíram do fundo dos alforges.


Ao pequeno-almoço de ovos, tomates, pepinos, queijo, café, sumo, pão, fatias de fiambre e salame, juntámos as nossas bananas e o nosso muesli. Ficámos sem comida para o resto do dia. Duas maçãs e algumas fatias de pão guardadas do cesto do pequeno-almoço. Estávamos de barriga e energia repostas, equipados para o rigor das montanhas e mentalizados para um dia de dor.

Mas algo se passou. A chuva parou assim que começámos a pedalar. As nuvens descobriram o suficiente da paisagem e com as alturas a vegetação cerrada começou a escassear.


Aquilo que vimos durante as quatro horas e quinze quilómetros seguintes ficará para sempre como um dos momentos mais belos da nossa viagem. Rendemo-nos por completo à beleza dos Cárpatos e da Roménia.

Foi sempre a subir durante os quinze quilómetros. Sempre nas mudanças mais baixas. Mas não havia oportunidade para o cansaço se instalar. Estávamos sempre a parar de cinco em cinco minutos para tirar fotos. Fotos, fotos e mais fotos. Não queríamos perder este momento e só nos lembrávamos de toda a gente com quem queríamos partilhar este pedaço de estrada nas montanhas.

Havia de tudo! Pequenos túneis cobertos de vegetação.


Curvas a serpentear os vales.


Pequenos chalés a contrastar com a imensidão das montanhas.


Sinalética de altitude.


Nevoeiros que nos envolviam durante momentos e nos libertavam de novo para a envolvente Natureza.


Pastores e caçadores.


Cavalos, aparentemente selvagens.


Pontes nas alturas, com cascatas que lá se originavam


Suficiente neve para fazer bolas de neve.


E o túnel... O famoso túnel era mais parecido com uma caverna. Eram quase duas da tarde. Ainda não tínhamos almoçado. O pouco ar das alturas e o cansaço das pernas e emoções já se faziam sentir. E ainda tínhamos um quilómetro de buracos em plena escuridão para atravessar. Enfiámos tudo o que era reflector no corpo. Ligámos as luzes traseiras e as parcas lanternas. A da Ana era a mais forte, por isso ia ela à frente. O plano era irmos os dois bem juntos, porque o Alexandre não ia ver nada, nem conseguir desviar-se dos buracos da caverna. E quando algum carro, ou camião viesse, encostávamos se fosse preciso. Mas nunca nos podíamos separar.
Tinha que ser. Assim que entrámos na escuridão parecia que tinham aberto as portagens! Vá de camiões, autocarros e motas a encher tudo com um ruído ensurdecedor. Por vezes não era tão mau, porque iluminavam um pouco o túnel. Algures durante a travessia, a Ana avançou mais rápido e acabámos por ficar separados. "Ana! Espera por mim que não consigo ver nada!" Apenas um ponto de luz no fim da caverna, me indicava a direcção a seguir. Aos poucos, devagar, devagarinho, lá conseguimos chegar ao fim.


E foi assim que chegámos ao topo. Coberto de neblina. Muito frio, alguma chuva e neve espalhada em alguns sítios. O lago mais alto da Roménia também estava aqui. As nuvens deixaram durante cinco minutos a zona e pudemos ver como deve ser o lago e a sua envolvente paisagem.
Muitas motas. Alguns carros. Muitos stands de souvenirs arromba carteiras.
Emocionados por ter conseguido chegar até cá acima. Ás três pancadas e sob mau tempo. Com placas a dizer para voltarmos para trás e pouco comida nos alforges. Nunca tivemos tão alto nesta viagem.
Não nos demorámos. Comemos o resto do pão, as maçãs, vestimos mais roupa e lá fomos nós para a montanha russa! Trinta quilómetros de estrada serpenteante até à Transilvânia. Mas o impressionante é que podíamos ver toda a estrada no mesmo campo de visão, a descer o enorme vale. Como seria se tivéssemos subido por aqui?


Foi sempre a descer! Curvas, mais túneis verdes, mais pontes. E aos poucos sentíamos uns calafrios. Não de frio, mas de calor. Estávamos a sair das montanhas e o Verão está ao voltar. Que bem que soube!

Na primeira vila que encontrámos, parámos para comer. Comprámos mais ingredientes para o jantar e começámos a dizer adeus aos Cárpatos e ao Transfagarasan. Durante os últimos dois dias, esta estranha palavra dominou as conversas e foi ouvida dezenas de vezes. Uma palavra que nunca ouvimos antes de chegar a Bucareste, mas que não esqueceremos a partir de agora.

Podia estar calor, mas nem por isso a chuva parou. Pedimos a um rapaz de uma gasolineira se podíamos montar a tenda no alpendre de um velho edifico. Em vez disso, ele foi lá com a chave e abriu-nos a porta. Montámos a tenda dentro de casa e dormimos um noite descansada, longe da chuva e do frio. Secos!

1 comentário:

Nuno Vieira disse...

MEU DEUS! E reparem que eu sou ateu! Mas que belíssima estrada! É linda, maravilhosa! Estou fechado num escritório em Lisboa, tenho a moto parada à porta e vocês mostram estas fotos... Muito Obrigado...