Produlesti - Zigoneni

É interessante acordar num milheiral. As folhasainda estão a pingar do orvalho. O sol nasce por entre elas e ilumina a casa amarela. Lá dentro, apenas um raio de luz é o suficiente para iluminar todo o espaço numa luz branca e difusa, que faz o acordar ser algo suave. O som dos animais ao nosso redor, complementa este cenário. Assim como os altos e baixos do solo remexido, no qual as nossas costas tiveram toda a noite para tentar ajustar-se.


Ui! Ai!! Dor aguda ali. Pontada de sofrimento na nádega esquerda. São assim os bons dias entre o nosso rabo e o novo selim!

A pedalada pela Roménia campestre continua. Já começamos a vislumbrar no horizonte os Cárpatos. Aos poucos, vão ganhando forma, crescendo e tomando conta das nossas imaginações à medida que deles nos aproximamos.
Pelo caminho incontáveis carroças. Inúmeras casas à beira estrada, com cercas a esconder as suas cores e pequenas hortas. É nestes cenários que gostamos de pedalar. Calma nas vistas e nas estradas. Existe uma auto-estrada a quinhentos metros à nossa esquerda, que faz a ligação entre Bucareste e Pitesi. Nela circulam a maior parte dos camiões e automóveis, deixando-nos um pouco mais de espaço na estrada para as bicicletas.


Numa destas aldeias, procuramos sinais de uma lojinha de conveniência. Magazin Mixt, como aqui se chamam. São dez e meia e precisamos de algum combustível adicional. A loja entra em silêncio assim que entramos. Somos forasteiros e salta à vista. Os alforges ajudam. Os nossos olhos analisam todos os produtos numa rapidez adquirida com a prática. Procuramos pão, açúcar barato e talvez um pouco de sal, talvez um capuccino de máquina por vinte e cinco cêntimos.
Na única mesa da esplanada, montamos a bucha da manhã. Numa divisão ao lado, uma televisão falava romeno com o Manuel Luís Goucha cá da zona, nas manhãs da Pro TV.
Os clientes da loja vieram cá para fora acabar a sua conversa, aproveitando para cuscar os hábitos alimentares de dois portugueses de bicicletas. A senhora que nos atendeu, começou a apontar para a máquina fotográfica. Pela sinalética, percebemos que queria uma fotografia. Não de nós, mas que nós lhes tirássemos a ela! Satisfizemos o seu desejo. Cinco minutos depois, dois gelados vieram parar à nossas mãos. Como a Ana nãos os pode comer, o Alexandre fica com um sorriso a dobrar!


Algumas nuvens começam a ficar cinzentas. Talvez não hoje. Amanhã se calhar... Veremos.

Em Pitesi, um centro comercial junto ao rio. Alguns bancos de jardim no seu exterior serviram para repousar. As montanhas estão mesmo à nossa frente. Assim que começarmos a pedalar, entramos num mundo de altos e baixos de certeza. Não há caminho fácil para as atravessar e o nosso até tem nome. Transfagarasan.

O senhor da gasolineira que nos deu indicações alertou-nos que talvez a estrada estivesse fechada. O mau tempo anunciado para amanhã não combinava bem com o alerta do rapaz. Muito menos a placa que encontrámos bem visível uns quilómetros mais há frente. Transfagarasan Inchis. Estrada fechada. E agora? Voltamos para trás e seguimos o caminho normal, cheio de trânsito e talvez mais aborrecido? Voltámos para trás e damos uma volta de mais de cem quilómetros para chegar ao outro lado das montanhas? Ou tentamos a nossa sorte e seguimos em frente, arriscando voltar para trás no topo, depois de todo o esforço para lá chegar, adicionando ainda mais quilómetros ao regresso para a estrada aborrecida e uma segunda subida aos Cárpatos? Nunca nos perdoaríamos por não tentar e sem sequer falar muito sobre isto, continuámos a pedalar. As vistas compensariam o tempo perdido nas piores das hipóteses.

Assim temos que pensar, quando nos embrenhamos cada vez mais nas montanhas, cada vez mais em vilas onde a etnia rron (com dois «R”s») é predominante. As vilas parecem pegar-se umas às outras. Cercas e plantações tornam difícil de encontrar um sitio onde descansar.

Por detrás de um aviário, ou assim nos pareceu, entre trigo e milho, com as montanhas na nossa janela, adormecemos para mais uma noite de campismo.

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