Bucuresti

Três dias na capital, com uma casa só para nós!

O Dan e a Mishu desfrutavam das areias gregas do Chipre enquanto nós desfrutávamos do calor e chuvas tropicais da Roménia, na capital!


Eles foram de avião e nós a voar fomos pelo trânsito e sob os 40º que se faziam sentir, até a oficina.  Quando lá chegámos, o senhor doutor libertou a maca para receber as pacientes portuguesas hipocondríacas. Nós preferimos sempre prevenir ao invés de remediar. Não somos nenhuns entendidos de mecânica e ainda lutamos para retirar o pneu quando temos um furo! É por isso que as tentamos manter asseadas e as levamos a visitas regulares ao senhor doutor. Pelos vistos, segundo a medicina do leste, a saúde das bicicletas estava boa e recomenda-se! Apenas acrescentámos um guarda-lamas traseiro à bicicleta da Ana que quis manter o da frente, que vinha desde França da cada da Geneviéve e do Vincent.  Os improvisos do Vincent, quando nos ofereceu e instalou os guarda-lamas, em Novembro passado, serviram e aguentaram até agora e vão continuar!


Na oficina o sonoro era dos oitenta. Os velhos álbuns de Metallica, Roxxete, Jean Michele Jarra, entre outros, enchiam a sala de cirurgia com um ambiente descontraído e alegre. Se calhar o ar condicionado também ajudou.
Terminado o check up mensal, fomos ao médico ortopédico. De novo uma baforada de 40º, trânsito caótico, buracos na estrada, ciclistas a fazer ciclocross urbano entre carros e passeios e transeuntes por todo o lado. Só não vê quem não quer. Isto é uma capital, sem tirar nem pôr!

O médico ortopédico, George, recebeu-nos de sorriso. Assim como a Alina, estudante em tempos da língua portuguesa e viajante trabalhadora em cruzeiros turísticos. Fartou-se de tanta festarola e de 8 meses no mar, e arranjou algo mais pacato e relaxado. A loja, não parece um loja de biclas e não fosse a sinalética exterior, nunca a teríamos encontrado.
Assim terminou uma relação de anos. Não que fosse uma má relação, mas preferimos acabar com ela antes que azedasse a sério. Os nossas nádegas têm um novo namorado. Chama-se Brooks, é inglês, com pele de alta qualidade e instalada à mão. O George alertou-nos que irá demorar algum tempo até que nádegas e selim, se encaixem num abraço eterno de conforto e bem estar. Até lá vamos ter que sofrer um pouco! Sentir cada ossinho e músculo da nalguinha!


Ainda estamos no primeiro dia de «Sozinho em Casa», depois de novo voo trântico pelos calores solares, descansámos 30 minutos em casa e voltámos a sair. Fomos terminar uma história que começou em Pachino, Sicilia, passou por Mottola em Puglia e com os acasos da vida, veio para a Bucareste!
Um casal de Bucareste, visitou a Giusi e o Roberto em Abril/Maio deste ano. A nossa estadia em Pachino veio à baila nas suas conversas e a referência deixada no Couchsurfing foi reparada. O casal regressou a Bucareste e entre as pessoas que recebeu em sua casa, um jovem italiano de Puglia com quem nós plantamos árvores visitou-os, na sua viagem pela Roménia. Ao deixar a referência ao Vitto, a nossas caras larocas foram reparadas de novo e fez-se um clique. Andávamos a conhecer as mesmas pessoas! O casal aderiu às leituras do blog e quando repararam que íamos lançados para o Norte pelo leste europeu, algures na Bulgária, decidiu contactar-nos, não fossemos nós passar pela sua terra!
Cristi e Adriana foram-nos buscar à porta do metro e com eles fomos passear pela cidade o resto do dia.

Gostámos de encarar o Couchsurfing como uma caixa de surpresas. Até agora sempre boas! Ainda acho incrível a rapidez e o à vontade com que começamos a falar com as pessoas. É como se fossemos todos uma grande grupo de amigos invisíveis e silenciosos que se encontram por vezes.
Tal como nós, o Cristi e a Adriana, andam a planear fazer uma viagem, no verdadeiro sentido da palavra. Tentar largar as tralhas e os compromissos que os «prendem», para poder ver o mundo, durante um ano. Tal como nós, e como quase todos nós, também eles aspiram a uma vida mais calma na sua própria casa, com a sua própria horta.
Nós mostrámos-lhes sites e contactos. HelpX, WorkAway e MindMyHouse foram só alguns dos mencionadas. Livros de referência sobre casas e construções alternativas foram anotados. Se há algo de que gostámos é da partilha e troca de tudo o que temos apreendido com esta viagem.


Passeámos um pouco pelo parque onde decorria o terceiro festival internacional de folclore. Sempre na conversa, fugimos da sombra das árvores para a sombra dos antigos edifícios da capital. A «old town», andava em obras de restauração e acrescentos às infraestruturas. Muitos bares, muitas esplanadas e muitos amigos que o Cristi e a Adriana iam encontrando pelo caminho.  Uns deles, juntaram-se a nós e todos juntos, sentámo-nos numa esplanada, no paleio, nas jolas e no nada fazer de uma sexta-feira à tarde.

É Verão. O Sol já não serve para nos indicar que é hora de jantar, e a barriga acusa a falta de nutrientes. Fomos para a casa dos amigos do Cristi e da Adriana, acabar o resto do serão. Muitos licores e bebidas espirituosas foram postos na mesa, para alimentar a conversa despreocupada em várias línguas destravadas.

Estamos em Bucarest à três dias. As nossos dedos das mãos já não servem para contar o número de amigos que fizemos desde que aqui estamos.
Ainda tentámos combinar novo reencontro com a Alina e o Adrian, ou com outro casal de Couchsurfers que nos queria conhecer e nós a eles. Mas o cansaço domina por vezes. A preguiça e o merecido repouso social falaram mais alto e durante o sábado e domingo, nada fizemos além de comer, dormir, escrever, olhar para o pequeno ecrã e conhecer uma educadora/artista enquanto se aprende a despejar o lixo em Bucareste!


No domingo à noite, o Dan e a Mishu regressaram com um pouco mais de cor e brilho, alguma areia nos pés e o seu filho adoptivo. Bila, o gato! Negro como a noite, curioso como.... os gatos! Cheirou todas as quinas dos alforges, entrou dentro de alguns deles, analisou os recantos metálicos das bicicletas e quando ficou satisfeito veio conhecer os novos humanos que deambulavam pela sua casa. Nós, preparamos o manjar para a chegada dos nossos amigos e em menos nada, tal como no dia em que nos conhecemos, estávamos à mesa.
É à mesa que conhecemos os truques e segredos de cada terra e país. É na conversa sobre os pratos e talheres que as cores, costumes, sabores, ganham forma e as diferenças ressaltam.

A segunda feira aproxima-se, cheia de trabalho para eles e de estrada para nós.

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